José Santos Amaro teve sua rotina de trabalho interrompida, nesta quarta-feira (23), quando a Fiscalização Preventiva Integrada do Rio São Francisco da Tríplice Divisa (FPI), por meio da equipe de Produtos de Origem Animal e Agrotóxico, flagrou várias irregularidades no laticínio onde ele trabalha, em Olho D’água do Casado, Sertão de Alagoas.
Sem camisa, com feridas na barriga e apenas uma bermuda suja como proteção, ele é o retrato fiel da falta de higiene e informação e do descaso com a saúde pública que a FPI vem encontrando nestas pequenas fábricas clandestinas espalhadas na região da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.
Só nos dois primeiros alvos da fiscalização foram apreendidos e destinados à incineração uma tonelada de queijo e 50 kg de manteiga. Além disso, em um dos laticínios, foram encontradas duas espingardas e munição.
“O Regulamento de inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal, que é a legislação reguladora desse tipo de atividade, possui quase mil artigos. Esses laticínios irregulares, em sua maioria, desobedecem praticamente todos. E isso é uma situação que atenta contra a saúde pública, é muito grave. E tanto os queijos estão contaminados, quanto há inobservância de conformidade das instalações com a legislação”, explicou a coordenação da equipe.
A lista de irregularidades
Apontando para o entorno do laticínio de Olho D´água do Casado, os ficais destacaram a primeira irregularidade encontrada. “Toda essa área deveria estar cercada e animais não podem ficar rondando o imóvel. Talvez isso pareça algo sem importância, mas tenham certeza que não é. Como toda essa área está contaminada pelas fezes depositadas na areia, o vento levanta poeira e leva tudo para dentro dos fábricas onde o queijo é produzido, causando a sua contaminação”, detalhou a Adeal.
Interdição e multa
Instalado de maneira precária em uma pequena casa, o laticínio foi multado pelo IMA, pelo Ibama e pela Adeal. Está última, fez a autuação por falta de licença de funcionamento e ausência de registro nos órgãos sanitários competentes. Também foi constatado o uso de madeira serrada sem a exibição de licença do vendedor. Somadas as sanções pecuniárias dão quase R$ 12 mil.
Já o Conselho Regional de Medicina Veterinária notificou o laticínio por não possuir registro junto ao órgão e não ter um veterinário que inspecione a fabricação dos alimentos. De acordo com os técnicos da equipe, nada nas instalações da fabriqueta de queijo e manteiga estava regular.
Dentre as irregularidades, estão o teto que precisaria ser de material lavável, mas era de gesso e ainda apresentava sinais de mofo; a mesa onde a massa de queijo era manipulada deveria ser de inox, entretanto, ela era de madeira. E o piso instalado também era totalmente inadequado.
“Nem a maneira como colocaram a cerâmica no chão e nas paredes está correta. A impressão que temos é que as pessoas parecem não entender que estão colocando em risco a vida de quem consumir esses produtos. É por isso que a gente conversa, explica a grande probabilidade de uma contaminação e recolhe tudo. A saúde dos moradores da região tem que ser preservada”, explicou a promotora Lavínia Fragoso, coordenadora da FPI Alagoas.
Em Piranhas
A situação era ainda mais grave no laticínio localizado município de Piranhas. Com instalações tomadas por moscas, o local apresentava condição de higiene ainda piores que a fábrica de olho D´água do Casado. Além disso, a pouco metros do local da fabricação do queijo, foi instalada uma pocilga e uma vacaria.
“A situação era ainda mais assustadora. Flagramos uma infestação de moscas cobrindo paredes, equipamentos e massas para queijo”, comentou o IMA.
E as multas desta vez foram agravadas porque o soro (material restante do leite durante sua transformação em queijo), estava sendo jogado no meio ambiente sem nenhum tipo de cuidado, em completo desrespeito às normas técnicas exigidas.
Em Piranhas o laticínio também foi interditado.