Mais de 40% dos alunos aprovados na primeira lista do vestibular da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal) ficaram fora do novo resultado publicado na tarde desta quarta-feira (24) no site do Instituto AOCP, responsável pelo certame. Ao todo, 157 pessoas que acreditaram ter sido aprovadas em cinco cursos de bacharelado e cinco cursos de tecnologia, tiveram o resultado cancelado.
No curso de medicina, que tem a maior concorrência – cerca de 172 candidatos para uma vaga – 48 dos 50 aprovados não permaneceram na nova lista. Somente dois candidatos, que optaram pela sistema de cotas, tiveram o resultado mantido.
Em entrevista coletiva, a vice-reitora da Uncisal, Ilka do Amaral Soares, afastou a possibilidade de realização de um novo vestibular. Ela explicou que o erro cometido foi apenas na divulgação da classificação dos aprovados e não na elaboração ou aplicação das provas e que uma nova prova geraria prejuízos não somente para a Uncisal, mas para os candidatos.
A gestora explicou também que a grande diferença na classificação de aprovados que caíram em alguns casos, mais de 500 posições, se dá ao fato de que o número total de candidatos que acertam uma questão pode mudar o peso que ela tem, alterando assim a pontuação final. Além disto, Ilka Soares lembrou que critérios previstos em edital, como idade ou naturalidade, também podem influenciar no resultado.
Questionada sobre a justificativa apresentada pelo Instituto AOCP para os erros cometidos, ela disse que: “A empresa alegou que os erros aconteceram pelo fato de que o chefe do setor de TI [Tecnologia da Informação] responsável pelos cálculos das notas estava hospitalizado e que a equipe realizou o trabalho sem supervisão, o que teria gerado as confusões nos números”.
Mudanças nos resultados
O primeiro resultado foi publicado na última sexta-feira (19) e já na segunda-feira seguinte (22), erros na publicação foram apontados por candidatos que perceberam estar atrás na classificação de outros que haviam tirado pontuação inferior. O Instituto AOCP admitiu a falha e divulgou o novo resultado, eximindo a Uncisal de qualquer responsabilidade.
Numa apuração inicial a Uncisal identificou que das 400 vagas oferecidas no vestibular, apenas 381 vagas foram preenchidas, pela falta de procura para alguns cursos e que, dos resultados divulgados na primeira lista, não houve mudanças nos aprovados nos cursos tecnológicos de Sistemas para Internet; Gestão Hospitalar; e Tecnologia de Alimentos. Nos demais cursos as mudanças aconteceram desta forma:
Medicina – 2 alunos aprovados na primeira lista permaneceram na segunda lista;
Fisioterapia – 15 alunos aprovados na primeira lista permaneceram na segunda lista;
Fonoaudiologia – 16 alunos aprovados na primeira lista permaneceram na segunda lista;
Terapia Ocupacional – 22 alunos aprovados na primeira lista permaneceram na segunda lista;
Enfermagem – 15 alunos aprovados na primeira lista permaneceram na segunda lista;
Radiologia – 34 alunos aprovados na primeira lista permaneceram na segunda lista;
Segurança do Trabalho – 37 alunos aprovados na primeira lista permaneceram na segunda lista;
Para os que haviam sido aprovados na primeira lista e agora “perderam a vaga” fica a sensação de tristeza e revolta. Para o estudante de 20 anos, David Soares Nunes, que havia ficado na 24ª colocação e agora caiu para 651ª no curso de medicina o sentimento é de incredulidade. “Eu ainda não entendi direito o que aconteceu. Em um dia meu sonho estava se realizando, no outro me dizem que foi um erro. Como pode uma diferença de mais de 600 posições? Que tipo de erro foi esse?”, falou o rapaz que faz o vestibular pela segunda vez.
Para os pais, que acompanham seus filhos, a frustração também é grande. É o caso do senhor Rubens Cavalcante dos Santos. A filha dele havia sido aprovada em 7º lugar para o curso de enfermagem, mas com o novo resultado passou a ocupar a 23ª posição. O curso só oferece 20 vagas.
“Eu quero uma reparação. Minha filha foi aprovada, comemorou, participou do trote, raspou a sobrancelha… Agora foi tudo em vão. Isso não pode ficar assim”, disse o pai que pretende acionar a OACP e a Uncisal judicialmente.
“Foi a Uncisal que contratou essa empresa. A responsabilidade é dela também. Não pode jogar toda culpa só na empresa”, concluiu.
Rubens disse também que a filha já estuda enfermagem em uma faculdade particular como bolsista e que chegou inclusive a pedir o cancelamento do auxílio. “Essa é ainda outra coisa que a gente vai ter que resolver, porque agora ela corre o risco de não ficar nem em uma e nem na outra”, concluiu o pai.
Questionada a respeito do impacto da confusão dos resultados para a Uncisal, a vice reitora disse que a imagem da Instituição foi manchada e sua reputação abalada, mas que entende que o maior prejuízo foi para os estudantes e suas famílias.
Também presente na entrevista coletiva, o coordenador jurídico da Uncisal, Willams Pacífico, explicou que a atual jurisprudência do país em relação a casos semelhantes dá direito aos candidatos que se sentirem lesados pela mudança de resultado de acionarem judicialmente tanto a Universidade, quanto o Instituto AOCP, por danos morais, mas explicou que considera muito difícil que algum candidato, mesmo aquele que efetuou matrícula antes da anulação do primeiro resultado, e que agora ficou de fora, consiga ingressar na instituição sem ter sido de fato aprovado no vestibular.
“A universidade tem o que se chama de pode de auto tutela. Isso significa que se nós erramos, nós mesmo corrigimos. E nós entendemos que fazer aquelas matrículas, baseados em um resultado incorreto, mesmo sem saber disso, é um erro e precisa ser corrigido. Por isso, essas matrículas também foram canceladas”, explicou o representante.
Questionado a respeito da possibilidade de pedir uma auditoria nos resultados ou acionar judicialmente o Instituto AOCP, Pacífico disse que qualquer medida judicial a ser tomada ainda está sendo estudada pela Uncisal.