Jornalistas alagoanos fazem greve e obrigam emissoras a reprisar matérias

Greve se tornou o assunto mais comentado no Twitter em todo o Brasil

Divulgação / Movimento Grevista

Greve dos Jornalistas alagoanos

Após dois longos meses de inúmeras tentativas de conciliação entre profissionais e classe patronal – que quer reduzir em 40% o piso salarial – os jornalistas alagoanos deflagraram ainda na madrugada desta terça-feira, 25, greve geral por tempo indeterminado. Com a decisão, as principais emissoras de televisão do Estado foram obrigadas a reprisar matérias em seus telejornais.

Os profissionais e estudantes de jornalismo começaram a se mobilizar por volta das 3h30 na frente da TV Gazeta, filiada à rede Globo, Pajuçara Sistema de Comunicação (PSCOM), filiada à TV Record, ambas no bairro do Farol, e na TV Ponta Verde, do Grupo Opinião, filiada ao SBT, no bairro do Jacintinho. De forma pacífica, com faixas, cartazes e gritando palavras de ordem, os manifestantes, deixaram claro que não aceitariam a proposta, mas se mantinham abertos a uma negociação.

A frente da mobilização, o Sindicato de Jornalistas de Alagoas (Sindjornal) tenta desde abril entrar em acordo com os patrões e impedir a perda da conquista histórica, alcançada em 1991. Ao todo foram apresentadas nove contrapropostas por parte dos jornalistas, todas rechaçadas pelos diretores das empresas de comunicação, o que culminou com o movimento de hoje.

Divulgação / Movimento Grevista
Divulgação / Movimento Grevista

 

 

 

 

 

 

 

Como forma de minimizar as perdas ocasionadas pelo movimento, as TVs Pajuçara, Ponta Verde e Gazeta levaram ao ar telejornais com matérias reprisadas do dia anterior ou da ou da última semana. A exibição dos programas causou estranheza nos telespectadores, que foram ainda surpreendidos com uma nova apresentadora, contratada às pressas, para substituir a âncora da emissora do senador Fernando Collor de Melo, que passou mal, após entrar na empresa, a contragosto dos colegas grevistas.

“Foi muito estranho ver um rosto novo, que a gente nunca viu na TV. O mais estranho era ver as matérias com os repórteres chamando o nome de uma pessoa e a gente vendo outra. Foi esquisito”, disse a pedagoga Wylma Moraes, que acompanhou o telejornal.

Nas outras emissoras, a situação não foi muito diferente. Apresentadores visivelmente desconfortáveis tendo que falar de assuntos já abordados sofreram para conduzir atrações com quase duas horas de duração. As emissoras optaram ainda em utilizar conteúdos produzidos por praças de outros estados, como Paraíba, Pernambuco e Natal. “Sinceramente, o programa hoje parecia que era sobre o Nordeste, não sobre Alagoas. Mal teve coisas sobre o nosso Estado e o que teve já havia sido exibido. Não teve entrevistados e ficou tudo muito longo e cansativo”, opinou o professor Mathias Santos.

Apoio à Greve

Desde a última semana o movimento de luta pela manutenção salarial ganhou vários apoiadores, que gravaram vídeos ou emitiram notas em apoio à causa dos jornalistas. Delegados de Polícia Civil, o Chefe do Tribunal de Justiça e do Ministério Público Estadual, políticos como o senador Rodrigo Cunha e o ex-candidato à presidência do Brasil, Guilherme Boulos, se colocaram contra a redução do piso salarial. O jornalista André Vieira, correspondente da TeleSUR (rede de televisão multi-estatal para América, com sede na Venezuela), também usou as redes sociais para manifestar apoio aos profissionais alagoanos.

Twitter

 

Hoje, a Ordem dos Advogados do Brasil Alagoas (OAB/AL) também emitiu nota sobre a causa:

Em uma época onde as fake news tomam conta das redes sociais e o ódio é disseminado irresponsavelmente, é importante que os profissionais de comunicação apurem os fatos e abasteçam a sociedade com informações confiáveis.⠀
Para tanto, é preciso conferir dignidade e condições de trabalho a esses profissionais.⠀
A OAB/AL conclama todos ao diálogo, jornalistas e empresas de comunicação, a fim de que sejam encontradas soluções sustentáveis e que preservem a sobrevivência de todo o sistema de imprensa alagoano, bem como das conquistas trabalhistas.

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Ângela Garrote

Na Assembleia Legislativa (ALE) a deputada Ângela Garrote fez um manifesto de apoio durante sessão ordinária, seguida por vários colegas que se posicionaram favoráveis ao movimento grevista.

“Os donos dessas empresas deveriam ter vergonha. Empresa é igual a avião, quando descobrir a caixa preta dos contratos (de publicidade) com o governo e outros órgãos veremos que não é pouco o dinheiro que eles recebem”, disse a proponente.

Quero saudar os jornalistas presentes. Em nome de vocês quero saudar todos os jornalistas que fazem parte de uma greve legítima. Parabenizar por esta estar acontecendo de forma bonita, na paz e fazendo jus ao que vocês fazem todos os dias. É um absurdo a redução dos 40%. Quem perde não são os jornalistas, mas a democracia no estado de Alagoas. Estou feliz de ver todos os colegas deputados fazendo coro  juntos na causa. O que eu puder ajudar, e meus colegas também, iremos fazer. Não iremos nos calar. Estamos aqui para defender a democracia alagoana”, destacou Cibele Moura.

“Alguns jornalistas me procuraram para apoiar a causa. As empresas querem reduzir o piso. Piso é o mínimo. Como vamos tirar o chão? Ainda não vi, nesta crise, nenhum empresário trocar um carro 2019 por um 2015 ou deixar de morar na beira da praia. Mas olha como são inteligentes, querem reduzir os salários dos jornalistas. Estamos discutindo mão-de-obra e os profissionais têm que estar satisfeitos. Se quer reduzir, que seja primeiro os ganhos”, completou Cabo Bebeto.

Seguiram os colegas no apoio aos jornalistas ainda os deputados Leo Loureiro, Flávia Cavalcante, Silvio Camelo, Galba Novaes, Marcelo Beltrão, Jó Pereira, Ricardo Nezinho, Davi Maia, Francisco Tenório e Davi Davino, que saudou cada deputado citando o nome de seu (sua) assessor(a) de imprensa.

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Assessores de Imprensa – ALE

Trending Topics

Empenhados em tornar a greve conhecida, os jornalistas e os apoiadores se utilizaram das mídias sociais para através dos Trending Topics dos Twitter (os tópicos mais comentados) aumentar a relevância do assunto e ser destaque na imprensa nacional.

Com as hashtags #quempagafazaovivo e #reducaosalarialnao chegaram a aparecer em primeiro e quarto lugar,
respectivamente na medição.

A hashtag #quempagafazaovivo fez referência ao noticiário Bom Dia Alagoas, da TV Gazeta, filiada à Rede
Globo, que gravou a atração ainda na noite desta segunda-feira (24), no mesmo momento em que a classe se reunia em assembleia geral para deliberar sobre a greve.

Vale destacar que o sindicato da classe tentou ainda na tarde de ontem entregar mais uma proposta com pontos para serem debatidos com as três empresas. Duas delas aceitaram receber o documento, mas a direção da TV Pajuçara se recusou a ficar com o documento.

As emissoras propuseram ainda a criação de três pisos salariais. Um que permaneceria com o valor do piso vigente e outros dois com valores inferiores que seriam aplicados a novos contratados. Os dois novos valores seriam estabelecidos posteriormente.

“Nenhum de nós que a greve. A greve é a última solução para o profissional e para o sindicato. Mas são dois meses de negociações frustradas com as empresas junto ao TRT [Tribunal Regional do Trabalho]. Eles não nos deixaram opção. Reduzir 40% é desrespeitoso. E nós não aceitamos nem 1% de redução”, disse o presidente do Sindjornal Izaias Barbosa, durante assembleia deliberativa.

Divulgação / Movimento Grevista

Assembleia dos Jornalistas em 24 de Junho de 2019

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