Um vídeo publicado no Twitter da emissora estatal venezuelana TeleSur mostra o momento em que representantes de, pelo menos, cinco países se levantam e deixam o plenário da ONU, em Nova York (EUA), onde foi aberta, nesta terça-feira, sua Assembleia Geral.
A debandada ocorreu durante o anúncio do discurso do presidente Michel Temer. Teriam deixado a assembleia dirigentes do Equador, Costa Rica, Bolívia, Cuba e, claro, Venezuela. Segundo a emissora, o abandono seria um protesto pelo “golpe imposto pelo presidente Temer”.
No vídeo, é possível ouvir o nome de Michel Temer sendo anunciado, no mesmo momento em que dezenas levantam de suas cadeiras e deixam o plenário. Confira:
“Impeachment foi exemplo brasileiro”, diz Temer
Em seu primeiro discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, o presidente Michel Temer apresentou críticas a temas internacionais e fez uma defesa da situação política do país. Ele disse que o impeachment foi um exemplo para o mundo:
— Não há democracia sem Estado de direito, sem normas que se apliquem a todos, inclusive aos mais poderosos. É o que o Brasil mostra ao mundo. E o faz em meio a um processo de depuração de seu sistema político — disse o presidente.
Temer lembrou que o país “acaba de atravessar processo longo e complexo, regrado e conduzido pelo Congresso Nacional e pela Suprema Corte brasileira, que culminou em um impedimento” (de Dilma Rousseff).
—Tudo transcorreu dentro do mais absoluto respeito à ordem constitucional — disse Temer, que completou: — Temos um Judiciário independente, um Ministério Público atuante, e órgãos do Executivo e do Legislativo que cumprem seu dever. Não prevalecem vontades isoladas, mas a força das instituições, sob o olhar atento de uma sociedade plural e de uma imprensa inteiramente livre.
O presidente brasileiro disse que a maior tarefa agora é retomar o crescimento econômico e restituir aos trabalhadores brasileiros milhões de empregos perdidos. “Temos clareza sobre o caminho a seguir: o caminho da responsabilidade fiscal e da responsabilidade social”, reforçou o presidente, que disse que a confiança ao país já está voltando.
Na abertura de seu discurso, Temer tratou mais de temas internacionais, afirmando que o Brasil tem vocação de abertura ao mundo. “Somos um país que se constrói pela força da diversidade. Acreditamos no poder do diálogo. Defendemos com afinco os princípios que regem esta Organização”, disse Temer, antes de começar suas críticas:
— O sistema internacional experimenta um déficit de ordem. A realidade andou mais depressa do que nossa capacidade coletiva de lidar com ela. De conflagrações regionais ao fundamentalismo violento, confrontamos ameaças que, velhas e novas, não conseguimos conter. Frente à tragédia dos refugiados ou ao recrudescimento do terrorismo, não nos deixa de assaltar um sentimento de perplexidade. Os focos de tensão não dão sinais de dissipar-se. Uma quase paralisia política leva a guerras que se prolongam sem solução — afirmou.
Em uma crítica que pode ser considerada indiretamente direcionada ao candidato republicano Donald Trump, Temer atacou o nacionalismo exacerbado:
— A vulnerabilidade social de muitos, em muitos países, é explorada pelo discurso do medo e do entrincheiramento. Há um retorno da xenofobia. Os nacionalismos exacerbados ganham espaço. Em todos os continentes, diferentes manifestações de demagogia trazem sérios riscos — disse.
Ele criticou o protecionismo e reforçou o que considera os três valores principais do Brasil: paz, desenvolvimento sustentável e respeito aos direitos humanos. Temer também reservou críticas à ONU, defendendo uma modernização da organização :
— Queremos uma ONU de resultados, capaz de enfrentar os grandes desafios do nosso tempo. Nossos debates e negociações não podem confinar-se a estas salas e corredores. Antes, devem projetar-se nos mercados de Cabul, nas ruas de Paris, nas ruínas de Aleppo — disse o presidente, que voltou a pedir a reforma do Conselho de Segurança da ONU, onde o Brasil quer ter um assento permanente. — Os semeadores de conflitos reinventaram-se. As instituições multilaterais, não.
O presidente disse ainda que se preocupa com a falta de uma perspectiva de paz entre Israel e Palestina e também defendeu o fim da ameaça nuclear no mundo. Temer disse que apoia a solução de paz na Colômbia , a retomada das relações entre os Estados Unidos e Cuba e se preocupa com o aumento de tensão na península da Coreia. O brasileiro defendeu os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família e exortou todos os países a terminarem com a fome no mundo, além de alertar para a necessidade de que todos os países aceitem o acordo de Paris sobre mudanças climáticas, que levará a uma redução da emissão de gases de efeito estufa.
— Num mundo ainda tão marcado por ódios e sectarismos, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio mostraram que é possível o encontro entre as nações em atmosfera de paz e harmonia. Pela primeira vez, uma delegação de refugiados competiu nos Jogos. Por meio do esporte, pudemos promover a paz, lutar contra a exclusão e combater o preconceito — disse Temer.
Temer concluiu seu discurso fazendo referência a Ban Ki-moon, que se despede do controle da ONU.
— Há quase 60 anos, meu compatriota Oswaldo Aranha afirmou, desta tribuna, que “não há no mundo, mesmo perturbado como está, quem deseje ver fechadas as portas desta casa”. E alertou: sem a ONU, “as sombras da guerra desceriam sobre a humanidade para obscurecer definitiva e irremediavelmente a esperança dos homens”. É nesta assembleia das nações que cultivamos nossa esperança — disse Temer.
Durante sua fala, Temer defendeu o fim de todos os tipos de barreiras na Agricultura, setor estratégico para o Brasil (O Globo)