A morte de uma garota de 13 anos que passou 68 dias sem comer reacendeu a discussão sobre a prática do jejum religioso na Índia.
Aradhana Samdariya ficou quase dois meses e meio ingerindo apenas água quente, seguindo uma tradição do Jainismo, uma das religiões mais antigas da Índia.
Ela morreu dois dias depois de terminar o jejum.
A polícia do país passou a investigar o caso após uma denúncia de uma organização que defende os direitos das crianças – eles afirmam que os pais de Aradhana teriam forçado a garota a fazer o jejum.
“Os pais dela, Laxmi Chand e Manshi Samdariya, estão sendo acusados de homicídio culposo (causar morte por negligência) e crueldade contra menores”, afirmou um porta-voz das autoridades indianas.
Os pais de Aradhana são joalheiros ricos de Hyderabad, uma das maiores cidade da Índia, e negam terem forçado a filha a fazer o jejum.
“Ela pediu permissão para jejuar. Falamos para ela parar depois de 51 dias, mas ela não queria desistir. Foi voluntário, ninguém a forçou”, disse o pai da jovem.
Mas ativistas argumentam que os pais queriam que a menina jejuasse porque “o guru da família disse a eles que, se a filha ficasse 68 dias sem comer, os negócios deles iriam prosperar”.
“O país inteiro deveria se envergonhar de que uma prática como essa ainda exista. A garota foi forçada a beber só água o dia todo. Ela não podia pôr nem um sal ou um limão ou qualquer outra coisa na água”, disse à BBC o ativista Achyut Rao.
Muitas pessoas usaram redes sociais para criticar jejum que levou a jovem à morte.
Rao também criticou a família por ter feito uma procissão “para santificar” a menina durante o funeral.
“A coisa mais chocante é que a família está feliz (porque acredita) que ela foi uma das raras pessoas a serem levadas por Deus”, afirmou.
Jejuar é uma prática comum nas religiões na Índia e especialmente entre os praticantes do Jainismo.
Outro costume da crença, também bastante criticado por ativistas, é o que eles chamam desanthara – quando uma pessoa deixa de comer e até de beber água com o objetivo de se preparar para a morte.
Especialistas dizem que o corpo humano consegue sobreviver sem comida por até dois meses.
O jejum, porém, não é exclusividade dessas religiões – muçulmanos, cristãos, hinduístas e judeus também adotam a prática em algumas datas. Mas nenhuma dessas doutrinas aprova jejuar até a inanição e morte.
Líderes jainistas continuam, porém, a defender que seus seguidores fiquem longos períodos sem comida.
“Mulheres grávidas ou aqueles que não estão bem não devem jejuar. Mas não há nada que impeça que uma criança jejue. O quanto elas devem ficar sem comida, porém, depende de sua capacidade individual”, afirmou o monge Maharasa Ravinder Muniji ao site Firstpost.