Na frente do Colégio Pedro II, na Rua Pirauba, em São Cristóvão, um jovem de 23 anos está de uniforme. Nada diferente do habitual, exceto pelo fato de que usava saia plissada e camisa de botão, antes exclusivas das meninas. Em 14 de setembro, o colégio aboliu as distinções de gênero nos uniformes de toda a rede. Mas, afinal, usar saia é coisa só de mulher?
Eu era esse jovem e, na última sexta-feira, experimentei as mais diversas reações das pessoas nas ruas. De olhos arregalados a pedidos de selfie, uma constatação: as pessoas ainda se atrapalham com as tantas nomenclaturas e definições do universo LGBT.
Conversando com pessoas que cruzaram comigo, concluí que os homens ainda relacionam a ideia da saia à homossexualidade. As insinuações surgem em tom de brincadeira, mas refletem o preconceito.
Um motorista perguntou se eu era a favor ou contra a mudança. Na função de repórter, em vez de respondê-lo, refiz a pergunta.
— Contra — foi logo avisando o motorista. — Porque sou homem — acrescentou, emendando um palavrão, para reafirmar a sua masculinidade.
Por outro lado, as mulheres, principalmente as estudantes do colégio, tiveram mais facilidade para enxergar, em mim, um homem heterossexual vestindo apenas uma saia.
— A saia é só uma vestimenta, não diz se você tem que ser homem ou mulher — defendeu a estudante Ana Carolina Fogaça, de 18 anos. — Você tem que ser apenas o que você quer vestir.
Também estudante, Maria Eduarda Gouvêia, de 17 anos, reafirma:
— Muitos garotos que eu vejo usando não são gays ou trans, eles querem só usar saia.
‘Agora, só falta raspar as pernas’
O discurso se repete em várias conversas com responsáveis pelos estudantes: “Como explicar para as crianças de 7 anos que um menino está de saia?”. O receio de ter que introduzir os pequenos a temas “de adulto” é a maior preocupação das pessoas que são contra a medida do Colégio Pedro II, de acabar com as distinções de uniformes.
Mas, pelo menos em relação a mim, as crianças lançaram um olhar de curiosidade. Um garoto veio na minha direção, gritando: “Olha, um menino de saia!”. Perguntei para a responsável pelo menino se eles poderiam aparecer no vídeo que estávamos gravando, mas a resposta evasiva mostrou o posicionamento dela: “Só se for de short”.
Por outro lado, a reação da maioria das pessoas foi de abertura e empolgação pela ousadia da saia. Até o pipoqueiro que fica em frente ao colégio se animou, e disse que iria vestir uma peça do tipo para aumentar as vendas.
E, entre tantas besteiras que eu pensei que poderia ter ouvido nas minhas andanças pela rua, as frases mais recorrentes foram, na verdade, bastante divertidas:
“Posso tirar uma foto com você?” e “Agora, só falta raspar as pernas!”.