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Doutor Estranho pode ser o primeiro Oscar da Marvel

O filme com o melhor visual de 2016 tem suas falhas, mas pode render uma estatueta para os super-heróis

Stephane Ceretti. Guarde esse nome. É provável que na noite de 27 de fevereiro de 2017 ele receba um Oscar – o primeiro de sua carreira e também o primeiro da Marvel, estúdio que já se consagrou com a franquia mais lucrativa da história do cinema, rendendo mais de R$ 12 bilhões em 13 filmes, e lança nesta quinta, 3, Doutor Estranho; sua melhor chance até agora de levar uma estatueta. Mas não, não será de Melhor Filme, será de Melhores Efeitos Visuais.

Ceretti é o responsável pelos efeitos especiais de Doutor Estranho. O setor da indústria que sempre teve importância, principalmente nos longas de super-heróis, se mostra no novo filme da Marvel não como um atrativo, ou como uma muleta, mas como o principal motivo para ir ao cinema ver o longa. Os efeitos fazem de Doutor Estranho um filme incrivelmente lindo. Não só o mais bonito da Marvel, mas o mais bonito do ano.

Os efeitos aqui aparecem na forma de traduzir a magia (no sentido mais literal possível) da Marvel. Doutor Estranho é, ao mesmo tempo, super-herói e mago, e usa seus poderes místicos para combater o mal. Só que diferentemente de Harry Potter, a magia não é representada como fachos de luz disparados por varinhas; mas por cenas caleidoscópicas que representam múltiplas dimensões se cruzando. Os cenários se dividem simetricamente por todos os lados e formam labirintos completamente surrealistas. É uma grande viagem de ácido acontecendo na tela, enquanto mocinhos correm atrás dos bandidos e vice-versa.

O visual alucinógeno não é questão de interpretação, muito menos coincidência, é um registro histórico. Doutor Estranho não poderia ser representado de outra forma porque foi concebido exatamente dessa maneira. O personagem foi criado em 1963, mas ganhou sua primeira revista própria só em junho 1968, na época, os Beatles cantavam Srgt. Peppers Lonely Hearts Club e o LSD dominava as festas mundo afora. Os quadrinhos do personagem, então, procuraram retratar o esoterismo desse tempo – logo na primeira edição, o protagonista aparece alucinando em um cômodo feito de músculos, com um olho gigante lhe observando, em meio a outros quadros que abusavam de cores fortes.

Porém, se o filme não levar o prêmio, um dos principais culpados pode ser a própria Marvel. O estúdio tem investido seus esforços para chamar a atenção da academia com outro filme: Capitão América: Guerra Civil. Sessões com votantes do Oscar foram organizadas pela produtora, visando a um maior número de votos não só na área dos efeitos, mas também em categorias principais. Como a regra para vencer a estatueta, no entanto, só exige que o filme tenha sido lançado entre janeiro e dezembro deste ano, nada impede que campanhas específicas para Doutor Estranho vencer em Efeitos Visuais, estejam sendo arquitetadas e apareçam mais próximo da cerimônia.

Mas tirando os efeitos, vale ver o filme? Até vale. O longa é coeso, consegue contar a história de Stephen Strange, um cirurgião arrogante que, após sofrer um acidente, acaba tendo que largar a profissão e, enquanto procura uma cura, descobre a magia. Mas há falhas no roteiro, principalmente quando se pensa no conjunto de filmes criados no Universo Marvel. O tempo de treinamento dele é um exemplo. Strange sofre o acidente durante a Guerra Civil de heróis. Demora-se muito até que ele finalmente encontre a Anciã, sua tutora no mundo místico, e mais ainda para que ele domine em algum nível seus poderes mágicos – então, a não ser que os próximos filmes com o personagem se passem mais de 10 anos desde Guerra Civil (e não há nenhum indício de que isso vá ocorrer), existirá um buraco de roteiro aí.

Mas dá para arriscar ir ao cinema, até mesmo pagar um pouquinho a mais para ver o filme em 3D (ou até mesmo em IMAX). Mesmo que você deteste o filme, dificilmente vai achar ele feio, ou entediante. Vale a experiência, mesmo que seja só visual.

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