As forças de segurança pública da Paraíba realizaram na noite desta quinta-feira, 3, uma reconstituição da blitz que vitimou fatalmente o alagoano Cícero Maximino da Silva Júnior, 20 anos, em 21 de outubro, na cidade de João Pessoa.
A vítima estava como passageiro em uma motocicleta e – na versão da polícia – teria furado um bloqueio e foi alvejado com um disparo na região do pescoço. O jovem ainda foi socorrido para uma unidade hospitalar, mas não resistindo aos ferimentos entrou em óbito.
Após a reconstituição, o delegado responsável pelo caso, Reinaldo Nóbrega, explicou que continua complexo, com duas versões completamente antagônicas. “Intimamos as duas partes. Toda a Polícia Militar, que compareceu de pronto, toda a guarnição que participou da blitz no dia, todos os 11 homens envolvidos, além de uma guarnição de apoio, e também o motoqueiro, que conduzia a moto quando ocorreu o fatídico. De antemão afirmo que as versões continuam antagônicas. O prazo legal [para entrega do laudo da reconstituição] é de 10 dias, mas o perito pode pedir uma prorrogação se a perícia for complexa, como é o caso desta”, comentou.
Mário Gomes, ouvidor-geral da Secretaria da Segurança e Defesa Social da Paraíba (Seds), acompanhou a reconstituição e avaliou que o trabalho vai ajudar a acabar com algumas dúvidas. “Esse é o momento de confrontar as versões que foram dadas. É mais de uma versão, e o delegado quer reconstituir para chegar às conclusões para poder fazer o indiciamento ou não no inquérito policial”, avaliou.
O advogado do policial militar autor do disparo que matou o universitário, Harley Cordeiro, o tiro pode ter sido acidentou. “Um rapaz invadiu a blitz, ultrapassou, e o policial já estava em uma outra abordagem, já estava na contenção de outro rapaz que tinha invadido, quando veio a moto para cima dele, e ele não teve outra alternativa que não agir no estrito cumprimento do dever legal”, detalhou. Ainda segundo o advogado, o policial envolvido no caso não informou se os ocupantes da moto estavam armados. “A moto já veio para cima dele, o pessoal ficou gritando ‘a moto’, quando foi em cima dele, ele não teve como sair. Foi no reflexo o disparo, eu acredito até que tenha sido de forma acidental”, completou Harley Cordeiro.
Ainda de acordo com Reinaldo Nóbrega, a simulação das duas versões não explicou detalhes de como foi encontrada a arma, que a Polícia Militar afirmou pertencer aos ocupantes da motocicleta no caso. Segundo a polícia, o revólver que pertencia aos dois jovens que teriam furado a blitz foi encontrada depois do momento em que Cícero foi baleado por uma pessoa que passava pelo local e acionou a polícia.
“Segundo o que foi colhido, a guarnição da polícia se preocupou primeiro em atender e prestar socorro à vítima. Pouco tempo depois, uma pessoa encontrou essa arma aqui, ao solo. O local exato onde essa arma foi encontrada a gente não sabe. Essa pessoa acionou o Ciop [Centro Integrado de Operações Policiais] e uma outra guarnição apreendeu essa arma e levou direto para delegacia de Homicídios. A gente não tem a gravação da ligação ao Ciop, só tem o registro da ligação. E como é resguardado o anonimato ao denunciante, a gente não sabe quem foi essa pessoa”, completou.
Reinaldo destaca que a polícia tem duas versões diferentes do caso. A versão da Polícia Militar é de que o disparo aconteceu em uma “ação de defesa”. Já o condutor da moto em que o jovem estava apresentou uma versão oposta à da PM.
“O proprietário de uma casa da região atendeu nosso chamamento e cedeu voluntariamente as imagens. A gente fez uma análise preliminar, porém como estava escuro e a imagem um pouco distante, nós enviamos para o Instituto de Polícia Científica (IPC) para que eles passem alguns filtros nestas imagens para melhorar a qualidade e também aproximar”, disse Reinaldo Nóbrega.