Em sua última visita oficial à Europa, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, defendeu que os líderes mundiais deem mais atenção ao medo das pessoas em relação à desigualdade e ao deslocamento econômico dentro do contexto da globalização. Em uma entrevista coletiva em Atenas, na Grécia, ele afirmou que a importância desse debate foi uma das lições que aprendeu com a corrida eleitoral americana deste ano.
“Quanto mais eficazes formos ao lidar com essas questões, menos esses medos podem se canalizar em abordagens contraproducentes, que podem colocar as pessoas contra as outras”, disse.
Para Obama, a ascensão do empresário Donald Trump à Casa Branca reflete o desejo da população de “tentar algo” novo e o “temor das pessoas de que seus filhos não sejam tão bons”. Ele também relacionou esse sentimento ao voto britânico para sair da União Europeia.
“Você vê alguma retórica entre os republicanos eleitos e ativistas e a mídia. Algumas delas bem problemáticas e não necessariamente ligadas a fatos, mas sendo usadas com eficácia para mobilizar pessoas”, disse o presidente. “E obviamente o presidente eleito Trump explorou essa deformação no Partido Republicano e então foi capaz de ampliar o suficiente e conseguir votos suficientes para ganhar a eleição.”
Para o líder americano, a vitória de Trump não necessariamente é um reflexo de uma rejeição ao seu governo. Ele reconheceu o desejo de mudança do povo americano, mas disse que “nunca se desculpará por dizer que o futuro do mundo será definido pelo que as pessoas têm em comum, e não pelo que separa as nações”.
“Não me sinto responsável pelo que diz ou faz o presidente eleito, mas sim que durante a transição eu lhe apresente minhas melhores ideias para levar o país à frente e falar de coisas sobre as quais acredito que o Partido Republicano se equivoca”, disse Obama.
Obama afirmou que apesar de os eleitores de Trump “estarem melhor do que há oito anos”, em alusão a quando ele chegou à Casa Branca, o presidente eleito soube canalizar para ganhar “a corrente” de voto dos descontentes, “primeiro no Partido Republicano” e depois em nível nacional. “As medidas contra a desigualdade estiveram em minha agenda durante oito anos, mas não pude fazer com que o Congresso as aprovasse”, afirmou.
O atual presidente expressou também que sua “visão”, tão diferente da de Trump, sobre a inclusão das minorias nos EUA, é “correta” e que “pode ser que [esta visão] não ganhe a curto prazo, a longo prazo sairá vitoriosa”. “Na última vez que olhei as pesquisas, a maior parte dos americanos estava de acordo [com sua visão]”, disse.
Obama destacou ainda que às vezes “o povo busca algo, às vezes sem saber o que, busca mudança sem estar muito certo do que ela trará”.
Europa ‘unida’
Mais cedo, com o presidente grego Prokopis Pavlopoulos, Obama ressaltou a importância de uma Europa “forte e unida” e de uma Aliança Atlântica sólida. “Acreditamos que uma Europa forte, próspera e unida não é somente boa para os povos da Europa, mas boa para o mundo e para os Estados Unidos.”
Os Estados Unidos mantêm uma parceria estratégica com a Grécia, localizada na ponta da Europa. A relação entre os dois países dentro da Otan “é da mais alta importância”, lembrou Obama, que visitará a Alemanha na próxima etapa de sua excursão.
Alívio à dívida grega
O FMI, do qual os Estados Unidos são o principal acionário, defendem claramente um alívio para a dívida grega. Mas a Alemanha não aceita qualquer diminuição desta dívida.
“A austeridade sozinha não pode trazer prosperidade”, ressaltou o presidente americano, enquanto a Grécia segue sob tutela financeira da União Europeia e do FMI desde 2010. Para ele, o alívio da dívida e outras estratégias serão necessárias para que o país volte ao caminho do crescimento.
O presidente americano também elogiou os gregos por sua compaixão na crise migratória, convidando o mundo “a não deixar um país carregar sozinho” o peso da crise.