Assim o jornal francês Le Monde definiu o episódio que abriu uma nova crise no governo de Michel Temer, no qual o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero diz ter sido pressionado para liberar um empreendimento imobiliário em Salvador (BA) de interesse do ministro Geddel Vieira Lima.
Para o Le Monde, são “enormes” as similaridades entre o filme do cineasta pernambucano Kléber Mendonça Filho, estrelado por Sônia Braga, e o motivo da demissão alegado por Calero.
“De repente, a realidade supera a ficção”, escreveu o periódico francês, em editorial publicado na quarta-feira. De acordo com o texto, “a pressão implacável de um peso pesado do governo para a construção de um grande complexo de edifícios em Salvador” é “uma versão política em quase nada retrabalhada” do roteiro de Aquarius.
No filme, lembra o Le Monde , uma mulher luta contra uma construtora para não ser desalojada de seu apartamento nem deixar que o edifício onde ela guarda as principais memórias de sua própria história seja transformado em um arranha-céu de luxo.
Ironicamente, o ex-ministro da Cultura criticou publicamente o elenco do filme por conta de um protesto feito durante sua exibição no renomando Festival de Cinema de Cannes, na França, quando diversos representantes exibiram cartazes de protesto contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff do lado de fora.
Em depoimento à Polícia Federal, Marcelo Calero narrou ter sido pressionado para convencer o Instituto do Patrimônio Histório Nacional (Iphan) a voltar atrás e derrubar um embargo ao empreendimento La Vue Ladeira da Barra – um prédio de alto luxo nos arredores de uma área tombada de Salvador onde o ministro Geddel Vieira Lima teria adquirido um apartamento.