Rubem de Souza é funcionário do estabelecimento, que fica em Camaçari. Ele está internado e tem estado de saúde considerado estável.
“Foi muito triste, foi muito chocante”. São as palavras de Rubem Gama de Souza, de 25 anos, uma das vítimas que sobreviveu a explosão dentro de uma farmácia no município de Camaçari, que deixou 10 mortos e 13 feridos. Rubem era operador de caixa no estabelecimento e revelou como fez para se salvar quando as chamas começaram e o teto desabou.
“A gente estava no horário de almoço no fundo da loja. Na hora que o teto desabou, a gente foi na lajezinha, no fundo, na área da gerência, que caiu no meio. Aí a gente foi descer a escada, só que o meio já estava fechado, não tinha para onde correr, foi que eu desci, fui pro banheiro no canto com o colega, mas só que a fumaça lá era muito grande. Eu corri pelo canto e passei por dentro do fogo”, disse.
Rubem está internado em um hospital particular de Salvador e mandou um depoimento por celular. A família do operador de caixa conta que o estado de saúde dele é estável e ele conversa normalmente com as visitas. Ele teve queimaduras pelo corpo e, apesar de estar bem clinicamente, Rubem ainda está assustado e a todo momento quer saber o estado de saúde dos colegas que trabalhavam com ele na farmácia.
Graça Souza, a tia de Rubem, disse que ele chora a todo momento ao se lembrar das colegas que morreram. Segundo ela, o sobrinho disse que durante a reforma feita na farmácia, já havia indícios de que algo estava errado.
“Caíram umas pedrinhas, e eles [os funcionários] se assustaram, mas acharam que era comum. Essas vidas a gente nunca vai esquecer. Quando a gente passar por aquela rua, olhar para aquela loja, vai ser um trauma para todo mundo”, disse.
A obra
A polícia ainda não tem detalhes sobre a explosão na farmácia, mas investigações iniciais apontam que a situação tenha sido provocada por um gás. Além da polícia, a definição das causas do acidente é esperada por órgãos como a Defesa Civil de Camaçari, o Corpo de Bombeiros, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA) e Superintendência Regional do Trabalho (SRT).
Algumas testemunhas apontaram que se as vítimas tivessem uma saída de emergência, poderiam ter sobrevivido. De acordo com o Corpo de Bombeiros, não é obrigatório o estabelecimento ter mais de uma saída nas lojas, contudo todo imóvel comercial deve apresentar um laudo onde consta dados como a sinalização de emergência, saída de emergência, extintores de incêndio, além do treinamento dos funcionários para o uso dos equipamentos.
Os bombeiros também disseram que o decreto estadual que exige este laudo foi criado em agosto do ano passado, e os estabelecimentos tiveram um ano para se adequar a lei. Mesmo assim, depois do prazo, a farmácia não tinha passado por nenhuma fiscalização.
“A farmácia nunca apresentou o projeto de segurança contra incêndio e pânico aqui no Corpo de Bombeiros. O grupamento iniciou a fiscalização [em Camaçari] pelas áreas de maior risco, então realizamos vistorias nas indústrias, nas casas de shows, nos locais onde há grande concentração de público e onde a população está com risco aumentado”, explicou Rodolfo Cunha, chefe da sessão de planejamento operacional do 10° Grupamento de Bombeiros Militar.
Para a Defesa Civil de Camaçari, o estabelecimento estava com o alvará de funcionamento regular. É o que conta o coordenador do órgão, Maurício Bonfim. “Regular para o funcionamento. Para o que aconteceu não teve nenhum pedido de conserto, de reforma. O que estava acontecendo lá quem vai determinar é o DPT”, disse.
Já o inspetor chefe do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA), Sandro Augusto, informou que o órgão pede que a empresa apresente a anotação de responsabilidade técnica. “Nela será demonstrada a capacidade e habilidade que o profissional deveria ter no momento da execução [da obra]”, explicou.
Por meio de nota, a farmácia Pague Menos informou que o local possui alvará de funcionamento e alvará sanitário regulares, comprovados em nota oficial emitida pela Prefeitura de Camaçari. Informou ainda que no momento do acidente aconteciam dois serviços de manutenção por empresas contratadas: uma para manutenção rotineira de ar condicionado e outra para efetuar reparos no telhado. Os funcionários das duas empresas estão bem e eles também aguardam o laudo oficial dos órgãos competentes sobre as causas do acidente.
A Superintendência Regional do Trabalho (SRT) também se pronunciou sobre o caso por meio de nota e informou que a Norma Regulamentadora 18, que trata de segurança do trabalho no ramo da construção, estabelece a obrigatoriedade da empresa em comunicar previamente ao Ministério do Trabalho a realização de obra. Entretanto, a Superintendência Regional do Trabalho informa que a empresa não realizou a comunicação. Sobre essa ressalva do SRT, a empresa não se posicionou.
Ainda segundo a SRT, a inspeção in loco e a análise dos fatos realizada por auditores fiscais da superintendência permitem afirmar que a explosão ocorreu em função da concentração de gás em ambiente com pouca ventilação e da presença de fonte de ignição, em decorrência de suposto serviço de solda ou corte de metal.
O órgão informou também que emitiu um Termo de Notificação para a empresa prestar os esclarecimentos e apresentar documentos até 1º de dezembro de 2016, na Gerência Regional do Trabalho em Camaçari. O órgão também ouvirá as pessoas envolvidas com o episódio para esclarecer as causas do acidente e imputar as responsabilidades administrativas na esfera trabalhista.
Sepultamentos
Três vítimas da explosão na farmácia já foram enterradas nesta sexta-feira (25). Todas no Cemitério Jardim da Eternidade, localizado na mesma cidade onde ocorreu a tragédia. Lidiane Macedo Silva, de 33 anos, que era funcionária da farmácia foi a última a ser sepultada nesta sexta. Amigos e familiares da vítima usaram camisas com a foto de Lidiane e com a frase “saudades eternas”.
Além de Lidiane, foram sepultadas a auxiliar de depósito Cristiana do Nascimento Souza, de 39 anos e Tatiane Ribeiro Mendes, que trabalhava como atendente na farmácia atinginda pelo incêndio.
Identificação
Oito corpos retirados do incêndio em Camaçari já foram identificados pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT) de Salvador. Nesta sexta-feira, além do corpo de Lidiane, foi liberado no período da tarde o corpo da menina Celine Pires Souza Castro, de 9 anos, a única criança entre as vítimas. O sepultamento dela será realizado no sábado (26), na cidade de Ubatã, no sul da Bahia.
Os outros corpos identificados pelo DPT são de Denilda de Jesus Puridade, de 36 anos, Rosiane dos Santos, Luciane Alves dos Santos e Maria do Carmo Santos de Menezes,que não tiveram a idade divulgada. Todos aguardam liberação da família. Apenas um corpo continuam no departamento sem identificação.
O corpo de Vilma Conceição Santos, de 40 anos, que morreu no início da tarde desta sexta-feira, ainda não havia chegado ao DPT para passar por perícia na tarde desta sexta-feira. Ela foi a 10ª vítima da tragédia e estava internada no Hospital Geral do Estado (HGE), na capital baiana.
Outras cinco pessoas, três funcionárias e dois clientes, continuam internadas no HGE e têm estado de saúde considerado estável. Outros dois pacientes, que também são funcionários, estão no Hospital Teresa de Lisieux, em estado estável.
Causa da explosão
Na quinta-feira, a Polícia Civil informou em coletiva que a tragédia na farmácia foi causada por uma explosão de gás. A delegada que investiga o caso, Taís Siqueira, disse que apesar da confirmação da motivação do acidente, ainda não é possível detalhar que tipo de gás causou a explosão, porque a situação é recente e a perícia ainda está em andamento no local.
Segundo a delegada, até então, apenas uma pessoa que sobreviveu ao acidente foi ouvida, uma das funcionárias da farmácia, que trabalhava no caixa do estabelecimento e havia acabado de começar a trabalhar no momento da explosão.
Conforme a delegada, em depoimento, a vítima relatou que estava almoçando no primeiro andar do prédio, local onde estava sendo realizada uma obra de manutenção por conta de infiltrações, quando, às 13h35, desceu para começar a trabalhar. Segundo a delegada, a mulher contou que assim que chegou no caixa onde iria começar o expediente, houve a explosão e o incêndio começou.
Caso
O incêndio atingiu o local por volta das 13h50 da quarta-feira (23). Segundo testemunhas que trabalham na região próxima à farmácia, o fogo teria sido causado pela explosão de um botijão de gás que estava no interior do estabelecimento. Após a explosão, o teto do imóvel teria caído e atingido clientes e funcionários da farmácia. Os bombeiros informaram, no entanto, que uma perícia será realizada no local e deverá indicar as causas do acidente.