Fernanda Souza pediu para IML abrir caixão de João Victor, de 13 anos, em cemitério de São Paulo. Pai e a tia do adolescente disseram ter reconhecido corpo pela roupa.
“Deixa eu ver se é ele”, pediu Fernanda Cassia de Souza, mãe de João Victor Souza Carvalho, de 13 anos, morto há mais de um mês após confusão no Habib’s, durante exumação do corpo do filho dela, nesta segunda-feira (3), no Cemitério Vila Nova Cachoeirinha, na Zona Norte de São Paulo.
O adolescente morreu em 26 de fevereiro. A Justiça determinou a exumação para que o cadáver passe por novo exame necroscópico para saber se João morreu devido ao uso de drogas, como apontou o laudo oficial do Instituto Médico Legal (IML), ou se a causa da morte foram as supostas agressões que ele sofreu de funcionários da lanchonete. A polícia vai realizar uma reconstituição do caso, ainda sem data definida.
Uma funcionária do IML impediu a mãe do adolescente de ver o filho. “O caixão não vai ser aberto, senhora”, disse uma mulher que acompanhava a equipe de peritos.
“Não é ele. Eu tenho certeza. Deixa eu ver se é ele. Só deixa eu ver ele”, pedia Fernanda, que foi amparada pela tia do menino. “Pera. É ele mesmo”, falava Aline Cardoso.
“Aline, você viu a blusa dele, Aline?”, perguntou Fernanda para a tia, que somente acenou com a cabeça, concordando. “É muito triste ver o caixão de meu filho ser desenterrado novamente”.
O pai de João, Marcelo Fernandes de Carvalho, também não acreditava que o corpo do filho era o que estava sendo levado para exumação. “Demora três meses para decompor um corpo, entendeu?”, disse ele sobre o fato de ter dito que viu apenas ossos quando os peritos permitiram que ele e a tia vissem o caixão. “A blusa é dele mesmo”.
Marcelo disse esperar que o novo exame “faça Justiça”. “O menino foi assassinado. Morreu depois de apanhar”, afirmou.
O médico legista Levi Miranda, contratado para atuar no caso a pedido dos advogados da família de João, criticou o laudo do IML. “Faltaram ao menos seis exames para serem feitos no cadáver”, afirmou ele, que veio do Rio de Janeiro a São Paulo para participar da exumação. “Fui eu que fiz o parecer que colocou em dúvida o laudo oficial”.
Câmeras de segurança registraram o momento em que empregados do Habib’s correram atrás de João após o garoto ameaçar atirar um pedaço de pau na loja. Eles saem do alcance da filmagem e, em seguida, as imagens já mostram os funcionários arrastando o adolescente, que parece desacordado, e o largando na calçada ao lado da lanchonete.
O laudo inicial do IML não encontrou lesões que possam ter causado a morte de João. Para o IML, João morreu de infarto após combinar o uso de lança-perfume e cocaína.
“É possível, porém, que o menino tenha morrido em decorrência de agressões”, ressalta o perito Eduardo Llanos, também contratado pelos advogados da família do adolescente. “A pergunta que se tem de fazer é: João teria morrido se fosse agredido?”, indagou o advogado Francisco Carlos da Silva.
A exumação foi feita por médicos do IML e acompanhada por parentes de João e também pela Polícia Civil. “O objetivo da exumação é se buscar a verdade real”, disse o delegado assistente Wladimir Gomes de Souza, do 28º Distrito Policial (DP), Freguesia do Ó.
Os funcionários do Habib’s, que foram afastados pela rede de fast-food, negam ter agredido o garoto. O resultado da necropsia precedida de exumação ainda não tem prazo para ficar pronta.