Atirador que prestava serviço para o PCC no Centro de SP fugiu após operação policial no último domingo e continua foragido. Segundo delegado, ele é militar do Exército que desertou.
O ‘sniper’ que fazia segurança armada para traficantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) na Cracolândia, no Centro de São Paulo, ostentava uma submetralhadora, apelidada de ‘Lurdinha’, e um cão da raça pitbull, chamado de ‘Thor’, no Facebook.
“Eu Thor e Lurdinha! BOM DIA PRA GERAL!”, postou Anderson Alves de Siqueira Bernardino Kunzle em 1º de maio deste ano na sua página na rede social.
O homem é procurado pela Polícia Civil de São Paulo desde o último domingo (21), quando fugiu após operação que prendeu 56 suspeitos de integrarem e prestarem serviços para a facção criminosa que age dentro e fora dos presídios paulistas.
Câmera de vigilância da Guarda Civil Metropolitana (GCM) registrou Kunzle usando a arma para atirar em policiais militares no dia 4 de maio deste ano. A imagem o mostra apoiando a mesma submetralhadora no teto de um carro, estacionado na Rua Helvétia.
O G1 teve acesso às fotos do homem, que é considerado uma espécie de ‘sniper’ (atirador de elite) da Cracolândia pela polícia. Ele aparece se exibindo na sua página pessoal e flagrado pela GCM (veja nesta reportagem). As cenas integram relatório da Unidade de Inteligência Policial (UIP) que identificou 69 pessoas atuando diretamente com o tráfico de drogas na Cracolândia.
O Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), que participou da ação, informou ter detido 51 traficantes, sendo duas lideranças do PCC, além de dois suspeitos por roubo e mais três menores.
A polícia ainda procura mais 13 investigados por participação com o crime organizado na Cracolândia. Um deles é Kunzle, apontado como ‘sniper’ do grupo, agindo como segurança armado dos ‘varejistas das barracas do crack’.
Segundo a 6ª Divisão de Investigações sobre Entorpecentes (Dise), Kunzle é militar desertor do Exército brasileiro, de uma companhia de Pernambuco. “Ele, o ‘sniper’, tem um mandado de prisão expedido pela Justiça militar contra ele”, disse ao G1 o delegado Carlos Battista, da Dise.
Considerado exímio atirador pela investigação, Kunzle tinha a missão de disparar em quem se aproximasse das 30 barracas, com o objetivo de manter o funcionamento do “feirão da droga”. Ele ficava na cobertura das pensões da área fazendo vigília.
Em alguns disparos que fez em fevereiro, Kunzle teria atingido fotógrafos durante uma operação na Cracolândia. O tráfico também contava com outros atiradores, segundo a investigação.
“O poder de fogo dessa submetralhadora é mais letal do que outras armas, devastador”, afirmou Battista.
O nome ‘Lurdinha’, que Kunzle deu para batizar sua submetralhadora, faz alusão a emblemática arma usada pelo advogado e deputado federal pelo Rio, Tenório Cavalcanti (1906 – 1987). O político chegou a ser investigado por mais de 25 crimes violentos, dentro os quais alguns assassinatos.
Ele ganhou fama por andar com uma submetralhadora, que também chamava de ‘Lurdinha’, escondida em uma capa, o que lhe valeu o apelido de “o homem da capa preta”. Sua vida inspirou o filme “O Homem da Capa Preta” (1986), que teve o ator José Wilker (1944-2014) no papel principal.
Kunzle teria fugido para o Paraguai, segundo apurou a Dise. “Ele é exibicionista, mostrou arma e cachorro no Facebook e também não teve receio em sacá-la e atirar contra policiais em plena luz do dia”, comentou o delegado. “Quer demonstrar autoridade e poder, sentimento de impunidade, mas estamos atrás de pistas que levem à sua prisão”.
Quem tiver informações sobre o paradeiro de Kunzle, o ‘sniper’ da Cracolândia, pode ligar para o número de telefone 181, do Disque-Denúncia. Não é preciso se identificar.
Além de fotos na web e de câmeras de vigilância, a investigação infiltrou um policial com microcâmera entre os usuários de drogas na Cracolândia para identificar os traficantes. Interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça também ajudaram a polícia a saber como funcionava o tráfico na Luz.
“Em relação a operação, queria dizer que a forma de fazer a incursão era afastar as pessoas para acessar os traficantes que se esconderam nas pensões da Cracolândia”, declarou Battista em resposta a ONGs que criticaram a ação. “Grampos telefônicos mostram que o tráfico usava o fluxo de dependentes químicos como barreira para impedir o avanço policial”.
O Denarc também identificou quatro grupos de distribuição de droga na Cracolândia. Para facilitar o comércio do crack, os traficantes chegavam a usar máquinas de cartão para vender no débito e no crédito.
Entre os presos estão dois homens considerados líderes do PCC que forneciam drogas para a região: Fabio Lucas dos Santos, o FB, e o Léo do Moinho, da Favela do Moinho.
De acordo com a Polícia Civil, a facção assumiu o tráfico de drogas na Cracolândia em 2013. No entanto, permitiu que outros traficantes atuassem na região, desde que pagassem aluguel. Cerca de 30 barracas
Foram apreendidos 12 kg de crack, 6,5 kg de maconha, 655 gramas de cocaína, 2 kg de lança perfume e R$ 49 mil em dinheiro. Também foram apreendidas três pistolas (uma .45 e duas calibre 380) e dois revólveres (calibres 32 e 38).