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Retirada do Espanhol da grade curricular precariza ensino, alertam professores

Ascom/Seduc

Matrículas de novatos da rede estadual

A retirada da Língua Espanhola da grade curricular das escolas públicas de Alagoas continua gerando polêmica principalmente com a proximidade das provas do Enem, que devem ser realizadas nos dias 5 e 12 de novembro.

Ainda nessa terça-feira (13), deputados estaduais divergiram sobre o assunto durante sessão na Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE). O deputado Bruno Toledo (PROS) trouxe o tema para discussão em plenário e revelou a preocupação de educadores da língua. Os principais pontos são a redução dos postos de trabalho e a dificuldade do ensino para alunos que irão prestar vestibular ainda em 2017.

Na última semana, a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) adotou a medida de retirar a disciplina do currículo escolar do Ensino Médio, o que deixa atualmente alunos sem aula de espanhol na rede estadual. A decisão atendeu a Reforma da Educação anunciada em 2016 e que prevê o fim da obrigatoriedade da língua espanhola. Somente o inglês continua obrigatório.

Para a educadora Eronilma Barbosa da Silva, vice-presidente da Associação dos Professores de Espanhol do Estado de Alagoas (APEEAL), os danos para a educação são inúmeros e chegam a afetar diretamente toda a cadeia de ensino do Espanhol em Alagoas. Eronilma Barbosa afirma que já recebeu relatos de educadores estaduais sendo desviados da função primária de ensino para funções administrativas. “São muitos educadores sendo desviados de função e obrigados a aceitar o trabalho de coordenação ou trabalhar na biblioteca da instituição. Educadores estes que trabalharam 5 ou 6 anos e com várias especializações”, denuncia a vice-presidente.

Ao todo, em Alagoas, 78 professores trabalham na rede estadual somente com o ensino da língua espanhola. “Continuamos na luta para defender não apenas a manutenção da língua no ensino médio, já que essa decisão intervém ainda em nível acadêmico e que se estende para níveis superiores”, garante a vice-presidente.

Segundo levantamentos do Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 71% dos alunos do Nordeste escolheram o idioma espanhol para prestarem o vestibular em 2016. Uma taxa que os educadores afirmam que não pode ser simplesmente ignorada.

“Você chega a um ponto em que um aluno vinha estudando espanhol desde o ensino fundamental e agora vai ter que aprender inglês nos próximos três meses para prestar o Enem”, avalia a  coordenadora do Curso de Letras/Espanhol/EAD da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Aline Vieira.

De acordo com Aline Vieira, a questão é ainda mais profunda e afeta o próprio conhecimento dos alunos quanto a realidade de países fronteiriços com o Brasil, como ocorre com as nações de língua latina. “Agora vão ser formados profissionais com habilitação unilateral somente para o inglês… É necessário que se entenda que o ensino da língua estrangeira também afeta o conhecimento de obras literárias de outros países”, questiona.

Além do embate em âmbito Legislativo em Alagoas, os educadores se unem ainda em nível federal para encaminhar ao Conselho Nacional de Reitores um documento, na próxima semana, em que apontam a gravidade de retirar o espanhol como obrigatório. “Na universidade, por exemplo, a Fale [Faculdade de Letras da Ufal] é afetada diretamente porque perde o sentido de ofertar o curso de Letras/Espanhol e isso reduz os campos de trabalho, já nos próximos editais”, prevê Eronilma Barbosa.