Quando perceberam que as chamas haviam queimado qualquer possibilidade de fugir com vida do incêndio do Grenfell Tower, em Londres, Gloria Trevisan e Marco Gottardi tiveram uma única reação: telefonar para os pais.
“Sinto muito nunca mais poder te abraçar”, teria dito Gloria, como contou seu pai Loris ao jornal italiano “La Repubblica”.
O casal italiano estava no 23º andar do prédio, quando viram as chamas que mataram 30 pessoas e feriram dezenas se alastrar. Com poucas chances de escapar, ambos arquitetos e com 27 anos, fizeram ligações desesperadas.
“Eu tinha minha vida inteira pela frente. Não é justo. Eu não quero morrer. Eu queria te ajudar, te agradecer por tudo que fez por mim. Eu estou indo para o céu, vou te ajudar de lá” — essas teriam sido as últimas palavras de Gloria, como contou seu pai.
A filha teria telefonado na casa deles em Pádua, na Itália, mais cedo para dizer que havia um incêndio no quarto andar. Ela teria assegurado a ele que os bombeiros estavam conseguindo extinguir o fogo. Depois disso vieram os telefonemas derradeiros.
Quando eles viram o fogo pela televisão, o pai de Gloria disse ter ouvido da filha que “eles queriam descer, mas viam chamas subindo as escadas e a fumaça era cada vez mais intensa”.
A linha telefônica caiu por volta de três horas da manhã. Fizeram centenas de ligações à filha, mas não conseguiam mais contato.
Marco Gottardi também telefonou para sua família duas vezes. Primeiro tentando tranquilizar, e depois perdendo as esperanças. O jovem teria dito que o apartamento estava “coberto de fumaça” e a situação era grave, como contou seu pai, Giannino Gottardi, ao jornal “Il Mattino di Padova”.
— Na primeira chamada, Marco nos disse para não nos preocuparmos, que tudo estava sob controle. Ele estava tentando minimizar o que estava acontecendo, provavelmente para não nos preocupar — disse — Mas na segunda ligação, e não consigo tirar isso da minha cabeça, ele disse a fumaça estava tomando tudo e tinha virado uma emergência. Nós ficamos no telefone até o último momento.