Moradora de presídio há 17 anos, Bolinha ficou conhecida por ajudar na segurança da unidade. Acolhido após acidente há dois anos, 'Negão' assumiu função de guarda.
Eles não recebem salário, mas trabalham como se o tivessem. Resgatados das ruas, os cachorros “Bolinha” e “Negão” são os xodós das equipes que atuam na Cadeia de Franca (SP) e, como resposta, permanecem no local como se fossem carcereiros.
“A gente procura tratá-los da melhor maneira possível e quando a gente abre o portão para as viaturas passarem eles não saem. Eles vão até o portão, mas não querem sair, o que indica que aqui eles estão tendo uma vida boa”, diz o delegado diretor do presídio, Eduardo Bonfim.
Mais velha e próxima da “aposentaria”, Bolinha apareceu por lá há 17 anos e carrega no “currículo” o fato de já ter evitado a fuga de presos. Segundo o próprio diretor, isso aconteceu depois que ela descobriu um buraco que estava sendo cavado por internos.
“Ela cavou mais um pouco, por causa do barulho. É comum, quando um animal ouve um barulho debaixo da terra, ele cavar. Ela cavou, voltou toda suja de terra e com isso foi descoberto um túnel que estava sendo feito pelos presos para uma fuga”, diz.
Apesar de bem cuidada, aos poucos “Bolinha” vai deixando as tarefas diárias para o companheiro de cárcere Negão, acolhido por funcionários há cerca de dois anos depois de ter sido atropelado.
“Ele apareceu aqui machucado, com a coluna quebrada, com a perna quebrada, e a gente tratou. (…) A gente tratava dele todo dia até ele começar a se movimentar. Comoveu. Todo mundo quis ele aí e ninguém tira”, afirma a carcereira Vanilda Manoel Correia.
Rotina que tanto Negão quanto Bolinha seguem à risca, segundo o delegado, com direito a rondas constantes no entorno do presídio, acompanhamento da chegada de presos e de dias de visita, além de alertas, ao som de latidos, para situações e pessoas suspeitas.
“Às vezes algumas pessoas, eu não sei se estão de má índole ou não, mas você vê que o cachorro reage de maneira diferente daquilo que ele age com uma criança ou com uma senhora. Isso também é sempre um sinal de alerta para os carcereiros ficarem de olho nessa pessoa”, diz Bonfim.
Se a gratidão dos animais pelo lugar é espontânea, a recíproca é verdadeira por parte dos carcereiros. “[Bolinha] evitou muita fuga. Por isso hoje a gente cuida dela, não deixa ninguém fazer nada com ela”, afirma Vanilda.