Estudante contou à PM de Uberaba que foi abordado durante caminhada neste domingo (20). Após constatação de abuso, vítima desabafou na internet. Ainda não há sinal do suspeito do crime.
O crime foi registrado pela Polícia Militar e aguarda abertura de inquérito por parte da Polícia Civil nesta segunda-feira (21). Segundo o boletim de ocorrência, o jovem foi encontrado por volta das 12h deste domingo pela PM, após o recebimento de uma denúncia anônima sobre a existência de uma pessoa ferida, com mãos e pés amarrados, às margens de uma estrada do Bairro Jardim Eldorado.
No local, a polícia viu Mateus, de calça e sem camisa, cheio de arranhões pelo corpo e pedaços de galhos secos no lóbulo da orelha esquerda. “Deparamos com o senhor Mateus sentado na beira da estrada bastante abalado psicologicamente”, descreveu a PM no boletim.
No hospital, onde o estudante recebeu os primeiros socorros, a médica plantonista constatou a violência sexual sofrida, informou a polícia. De seu corpo, relatou Mateus ao G1 nesta segunda-feira, foram retiradas pedras, apenas um dos meios utilizados pelo agressor no que o jovem qualifica como tortura.
Momentos de horror
Mateus conta que, enquanto fazia uma caminhada matinal neste domingo, um homem estacionou de caminhonete ao seu lado e apontou uma arma para seu rosto. Obrigado a entrar no veículo, o jovem conta ter sido levado para um matagal, onde teve as mãos e os pés amarrados. Paus, arame e pedras teriam sido usados durante o abuso.
Após ser abandonado à beira da estrada, Mateus disse ter sofrido outra violência, a da indiferença. Pelo menos 20 pessoas teriam passado por ele e se negado a prestar socorro antes que um mototaxista tivesse se disposto a chamar a polícia. Mesmo assim, o jovem conta ter sido abandonado à própria sorte depois que a PM atendeu o telefonema.
“Eu já estava surpreso e chocado com tamanha crueldade e, quando achei que ia acabar o pesadelo, ele continuou. Andei 15 minutos amarrado e amordaçado e as pessoas não me ajudavam. Eu pensei que iam me bater e um chegou a rir de mim. Eu entendo que as pessoas pensaram que eu fosse assaltante ou drogado, mas foi horrível a omissão de socorro”, desabafou. Ele diz que também teve que lidar com os despreparo dos policiais, que teriam tratado o caso, inicialmente, como um assalto.
Recuperando-se dos ferimentos em casa, Mateus conta estar à base de medicamentos para tentar manter a calma, enquanto aguarda o início das investigações que podem localizar seu agressor. O depoimento na internet, segundo ele, denuncia não só a violência que enfrentou, mas a de muitas mulheres no Brasil.
“Eu só pensava em todas as mulheres que estão desaparecidas. Eu só conseguia imaginar que, nesse momento tão horrível, seria muito pior se fosse com uma mulher e, mesmo revoltado, pude ver o quanto o mundo é machista até nas piores ocasiões”, falou Mateus.
Desabafo e apoio
Nas redes sociais, a postagem feita por Mateus sobre o caso já havia sido compartilhado por mais de 300 pessoas e recebido dezenas de comentários até a tarde desta segunda-feira.
“Sempre achei brega as pessoas que usam o facebook como diário. Porém, numa sociedade tão cretina como a nossa, é importante reafirmar que estupro existe e não é mimimi”, escreveu o jovem na postagem. “Acreditem: eu escrevo esse texto com muita dor, relutância, vergonha e absolutamente nenhum orgulho. Debati comigo mesmo várias vezes se isso realmente ia servir de alguma coisa e pode ser que eu me arrependa.”
No retorno dos leitores do desabafo, Mateus diz ter encontrado esperança. “O que mais me surpreendeu depois da postagem foi que, para cada uma dessas 20 pessoas que não me ajudaram, existe o dobro de comentários positivos e de esperança para mim. Me faz pensar que a sociedade tem sim uma esperança e que existem pessoas boas no mundo”, observou.
Em uma das mensagens postadas para o mineiro, um internauta usou o marcador “a culpa não é da vítima” para manifestar solidariedade.
“Não foi exposição seu relato e sim um ato solidário de, mesmo estando sofrendo de modo imensurável, relatar o que houve para contribuir com nossa sociedade tão omissa e agressora”, escreveu outra pessoa.