Natural de Canto do Buriti, Sul do Piauí, Carlos Eduardo sofre de uma doença sem cura chamada osteopetrose
Esta quinta-feira (24) tem sido comemorações em dobro para a família do Carlos Eduardo, natural de Canto do Buriti, Sul do Piauí. Ele completa hoje cinco anos e recebeu de presente mais uma vez uma transfusão de sangue. O procedimento poderia ser considerado algo normal, se Carlos não possuísse um tipo de sangue considerado raro, compatível com apenas 0,01% dos doadores no país.
A condição rara do menino consiste no fato de reagir a qualquer transfusão de sangue cujo fator RH seja positivo ou negativo. Isso porque, embora seu sangue seja tipo O-, o organismo de Carlos Eduardo reage a doadores de qualquer fator, recebendo bem apenas aquele com RH nulo, o que é raro.
Para se ter uma ideia, no país há apenas cinco doadores com o fator RH nulo, mas dois são doadores tipo A. Carlos Eduardo não pode receber este tipo de sangue porque ele é tipo O. O biomédico Pedro Afonso, do Centro de Hematologia e Heoterapia do Piauí (Hemopi), explica que havia ainda uma menina do Rio de Janeiro que poderia doar, mas desistiu por questões religiosas. Logo, sobraram apenas duas doadoras de Minas Gerais. Ele conta que a condição do menino foi descoberta depois que ele recebeu uma transfusão e teve uma reação alérgica.
“Ele recebeu uma transfusão de sangue em fevereiro e após o procedimento produziu um anticorpo irregular, que causou uma reação. Então, tivemos que fazer uma identificação deste anticorpo que é raro porque reage com quase todas as proteínas das hemácias e a chance de encontrar uma bolsa de sangue compatível com ele é de 0,01%. Sabemos que a bolsa compatível com este anticorpo é a bolsa com fator RH nulo”, explica o médico.
Carlos Eduardo sofre de uma doença sem cura chamada osteopetrose que atinge a medula óssea e precisará fazer inúmeras transfusões de sangue ao logo de sua vida, com frequência definida pela equipe médica conforme for crescendo. A bolsa recebida nesta quinta-feira foi coletada no Hemominas, em Minas Gerais.
O biomédico Pedro Afonso contou que o cuidado foi extremo e que a ansiedade da equipe foi enorme. “Nem dormi direito esses dois dias, esperando o momento”, disse ele a G1. A bolsa de sangue chegou na tarde de quarta-feira (23) e a transfusão foi marcada para esta quinta-feira, data do aniversário do menino. “Depois que o sangue chegou, fizemos novos teste para comprovar a compatibilidade e com tudo confirmado, marcamos para hoje o procedimento para dar este presente ao Carlos Eduardo”, contou ele.
A mãe de Carlos Eduardo, Paula Vaz de Carvalho, 32 anos, era só alegria e confiança de que cada gota de sangue recebido pelo filho lhe proporcionará mais vida.
“Há dois anos descobrimos a doença e fiquei sabendo que ele precisaria de bolsas de sangue no tratamento. Tudo normal até que fui informada de que ele tinha um sangue raro, fiquei preocupada, mas confiante. Há sete meses, Carlos Eduardo recebeu a primeira bolsa e desde então somos só esperança de que encontraremos doadores compatíveis sempre que ele precisar. No dia de hoje só tenho a agradecer a Deus por esta doação. Também quero agradecer muito estas duas meninas de Minas Gerais que são compatíveis com ele e pela segunda vez mandam sangue para meu filho”, comemorou.
A ação solidária é ainda mais especial porque, segundo o biomédico, uma pessoa que possui fator RH nulo tem maior tendência a sofrer de anemia. O processo de doação tem que ser feito de forma mais cuidadosa. “Eles nem podem doar a quantidade de uma pessoa normal, tem que ser menos, porque podem ter uma anemia severa. Todo o procedimento tem que ser feito com acompanhamento médico”, descreveu.
A transfusão de sangue rara chamou a atenção dos funcionários do hospital, que foram até a porta do quarto onde o procedimento aconteceu, para desejar felicidades ao garoto e sua família. A equipe médica promete um bolo de aniversário para celebrar as duas conquistas de Carlos Eduardo.