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Guerra na Rocinha impede dançarino que se apresentou com Alicia Keys de voltar para casa

Pablinho Fantástico, do Dream Team do Passinho, está desde sexta-feira sem entrar na favela por causa do terror imposto por traficantes; artista dorme longe da comunidade.

Divulgação

Pablinho, um dos cinco integrantes do Drem Team do Passinho.

Domingo, 17 de setembro de 2017. A data tinha tudo para ficar marcada como o auge da carreira de Pablo H. Neirque Gonçalves Machado, de 25 anos. Afinal, Pablinho Fantástico, como é conhecido o cantor e dançarino do Drem Team do Passinho, estava ao lado de Alicia Keys no palco mundo do Rock in Rio. O grupo, formado por outros quatro jovens de comunidades do Rio, fazia uma performance para milhares de pessoas na música “In Common”.

Pablinho parecia estar feliz com o sucesso. No entanto, ao mesmo tempo em que se apresentava, o rapaz estava com medo e angustiado com a guerra entre traficantes da Rocinha, a maior favela do Brasil, onde nasceu e mora com a mulher Alayne Alves, de 17 anos, e a família.

Ele saiu de casa na sexta-feira (15) para participar do show da cantora Fernanda Abreu, também no Rock in Rio, e, por enquanto, não conseguiu voltar ao local por causa da violência que tomou conta da comunidade nos últimos dias.

“Saí da Rocinha de van, às 14h de sexta-feira, para me apresentar com a Fernanda Abreu. Às 1h30 da madrugada (de sábado), a minha mulher me ligou e disse: ‘não vem para casa porque está tendo uma guerra aqui. Naquele momento, fiquei sem entender o que realmente estava acontecendo”, contou o artista em entrevista ao G1.

Pablinho, então, foi para a casa de outro integrante do Dream Team do Passinho, Rafael Mike. Às 9h de sábado (16), o grupo seguiu para Brasília, onde fez um show e participou de um workshop na festa Melanina, no estádio Mané Garrincha, um projeto musical que explora a black music passando por ritmos como soul, funk, jazz, hip hop e samba. Quando retornou ao hotel, Pablinho recebeu uma mensagem da mãe Gerusa Machado, de 40 anos, o alertando sobre o perigo.

“Voltei ao Rio no domingo (17) de manhã direto para o Rock in Rio para ensaiar para o show da Alicia Keys. O convite foi em cima da hora. Eu já estava apreensivo desde Brasília, com o meu coração na Rocinha. Chorei muito, tremi. Fiquei preocupado com a família, com os amigos e com os moradores”, desabafou o cantor e dançarino.

O Drem Team do Passinho dançou com Alicia Keys na performance que também contou com Charles Bonfin, Pretinho da Serrinha e uma representante da comunidade indígena, Sonia Guajajara, que defendeu a demarcação de terras na Amazônia. Durante o discurso, por cerca de 10 segundos a plateia gritou “Fora Temer”. A apresentação dos jovens foi citada como um dos melhores momentos do show. Quando tudo terminou, Pablinho desabou:

Na favela da Rocinha, além de Pablinho, da mulher e da mãe, moram os três irmãos dele, além de primos, a sogra e os amigos de infância. Desde o último fim de semana, os moradores vivem momentos de terror na comunidade, com tiroteios entre duas quadrilhas de traficantes e a confirmação de pelo menos quatro mortos nos confrontos. Pablinho preferiu ficar na casa de ontro integrante do Dream Team do Passinho, Diogo da Breguete, no Complexo do Lins.

“Não posso deixar de viver por causa dessa guerra. Mas só voltarei para a Rocinha quando as coisas se acalmarem. É uma situação horrível, tem muita criança. Estamos todos engaiolados, sem poder entrar ou sair da favela. Só quero que o mundo tenha mais amor. Queremos o fim dessa violência”, disse Pablinho, emocionado.

Sucesso no Brasil

O Dream Team do Passinho surgiu em 2013 em um comercial de uma marca de refrigerante. Desde então, tornou-se um fenômeno pop-funk no país. O grupo apresentou músicas do disco “Aperta o Play” (Sony Music, 2015) em grandes palcos do Brasil, Estados Unidos, França e no encerramento das Paralímpiadas Rio 2016 e também teve hits nas trilhas de novelas.

Este ano, lançou o projeto “Dream Team do Passinho canta e dança Jackson Five”. Parceiros do Fundo de População das Nações Unidas na campanha de conscientização contra o vírus da Zika, o grupo lançou o clipe “Mais Direitos, Menos Zika” em parceria com a organização internacional.