Soldado responde a processo interno na corporação, depois que maconha e cocaína foram encontradas no armário dele.
O soldado da Polícia Militar Jarbas Colferai Neto, de 23 anos, apontado como o autor do homicídio do atleta da seleção brasileira de hóquei Matheus Garcia Vasconcelos Alves, de 24, já responde a um processo interno na corporação por envolvimento com drogas. Ele está preso desde terça-feira (19).
Matheus foi baleado na nuca, na noite de segunda-feira (18). Ele foi encontrado ainda com vida na Rua Nicolau Guirão Perez, no Centro da cidade, e levado às pressas ao Hospital Municipal, mas não resistiu aos ferimentos. Na mão dele, havia um carregador de celular, mas o aparelho não foi encontrado pela polícia.
Após 12 horas ininterruptas de diligências e apuração, a investigação da Polícia Civil descobriu que o atleta havia sido morto pelo soldado da PM. O motivo do crime é passional. O policial fantasiou uma traição da namorada, com quem tem um filho, com o atleta, que foi levado até uma emboscada armada por ele.
Jarbas foi preso pelo seu próprio comandante dentro do 39º Batalhão da Polícia Militar, em São Vicente, onde executava serviços administrativos. Na ocasião da detenção, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) havia informado que ele já estava fora das atividades de rua por responder a um “Processo Administrativo Exoneratório”.
Na quarta-feira (20), a pasta de Segurança do Estado complementou a informação, ao afirmar que o processo corresponde ao envolvimento do soldado com entorpecentes. O G1 apurou, entretanto, que Jarbas Neto havia sido flagrado com maconha e cocaína no próprio armário, no batalhão. Ele é investigado por tráfico e uso de drogas.
Jarbas se formou no Curso Superior de Soldados em 2016, e menos de um ano depois de iniciar as atividades na corporação, colegas e superiores flagraram as substâncias, que foram atribuídas a ele. Por essa razão, enquanto o caso não era julgado internamente, ele foi retirado das operações de patrulhamento preventivamente.
Fantasia
Para a polícia, não houve traição. “Ele [Jarbas] confessou e deu muitos detalhes da ação. Alegou uma motivação passional, disse que a vítima perseguia a companheira dele. Por conta disso, no entendimento dele, ele fez o que fez”, explicou o delegado Carlos Schneider, que liderou as investigações.
“Eles [Matheus e a jovem] se conheceram no colégio, onde estudaram juntos há dez anos. Não houve qualquer envolvimento entre eles desde então, que não fosse o envolvimento de amizade”, informou o delegado, após ouvir a jovem, que prestou depoimento na Delegacia Sede da cidade, após a revelação dos fatos.
“Ela [a jovem] também confirmou que houve, em algumas situações, a insistência dele [Matheus] em ter um relacionamento com ela, mas a última vez que isso aconteceu foi no ano passado, por meio de um aplicativo de conversas pelo celular”, complementou Schneider, convicto de que os dois não se relacionaram.
Câmeras flagram PM assassinando atleta de hóquei no litoral de SP
Para a emboscada, os investigadores apuraram que o PM criou um perfil em uma rede social e se passou pela namorada, com quem mantinha relacionamento há quatro anos e tinha um filho. O PM achava que estava sendo traído e, ao manter conversas constantes com a vítima, durante seis meses, ele finalmente conseguiu convencê-lo de um encontro. O local escolhido era a casa de uma suposta prima.
Imagens de câmeras de monitoramento de imóveis localizados na rua mostram quando Matheus chega ao local em um carro, conduzido por um motorista de um aplicativo. Após a saída do veículo, o soldado o aborda, arranca o celular da mão dele, o faz virar de costas, colocar as mãos na cabeça, ajoelhar e, em seguida, atira na nuca do atleta.
A gravação foi divulgada pela polícia e ajudou os investigadores a identificarem o soldado. A hipótese de latrocínio, quando há roubo seguido de morte, foi inicialmente cogitada, em razão do celular ter sido levado pelo PM, mas descartada depois que os policiais civis localizaram mensagens que antecederam a ação.
Na noite de terça-feira, a Justiça autorizou sua prisão temporária, solicitada pelo delegado da Polícia Civil. Escoltado pela Corregedoria, Jarbas foi levado até a Prisão Militar Romão Gomes, na capital paulista, onde permanece detido desde então. O G1 não conseguiu contato com a defesa dele.