Um referendo de independência na Catalunha planejado para este domingo (1º) não acontecerá, disse o porta-voz do governo da Espanha, Inigo Mendez de Vigo, nesta sexta-feira (29).
“Eu insisto que não vai haver nenhum referendo no dia 1º de outubro”, disse Mendez de Vigo durante coletiva de imprensa, reiterando o posicionamento do governo de que a votação é ilegal.
A declaração de Vigo é mais um episódio em uma semana tensa, marcada pela troca de acusações entre o governo central da Espanha – que considera o referendo ilegal – e os independentistas da Catalunha, que desejam realizar o referendo mesmo assim.
“Insisto que não vai haver nenhum referendo no dia 1º de outubro”, Inigo Mendez de Vigo, porta-voz do governo da Espanha
Eleitores favoráveis ao referendo começaram na noite desta sexta (horário local) a ocupar escolas que devem servir de colégio eleitoral para o referendo, para impedir que os locais sejam fechados, como foi solicitado pela justiça, segundo constataram jornalistas da agência France Presse.
Os repórteres da agência viram duas escolas ocupadas no centro de Barcelona, enquanto uma plataforma “Escolas abertas para o referendo” divulgava na internet várias ocupações.
De acordo com a AFP, alguns policiais tentaram impedir que mais pessoas entrassem nos colégios eleitorais.
Os tribunais ordenaram que a polícia isole as escolas a serem usadas como seções eleitorais. Na tentativa de mantê-las abertas, pais convocaram um pernoite em massa no final de semana, com barracas, sacos de dormir, paella grátis e cinema.
O governo central enviou milhares de policiais como reforço à região para impedir as pessoas de votarem.
‘Tudo está preparado’
Já o líder da Catalunha, Carles Puigdemont, deixou claro nesta sexta que o governo local está determinado a realizar o referendo.
“Tudo está preparado nas mais de 2 mil seções eleitorais, então elas têm urnas e cédulas, e têm tudo que as pessoas precisam para expressar sua opinião”, disse o líder catalão, Carles Puigdemont, à Reuters.
“Não acredito que haverá alguém que usará violência ou que irá querer provocar uma violência que manchará a imagem irrepreensível do movimento de independência catalão de pacifista”, opinou Puigdemont. O líder pediu à polícia que não se comporte de maneira “política” quando cumprir suas funções no dia da votação.
Crítica à União Europeia
Nesta quinta-feira (28), o Chefe de Relações Exteriores da Catalunha, Raul Romeva, criticou a União Europeia, ao dizer que a instituição deve cumprir sua obrigação como um repositório de valores democráticos dizendo para a Espanha permitir que o referendo aconteça.
“Direitos civis estão sendo violados e a qualidade da democracia na Espanha está sendo desgastada”, disse Romeva.
Por não ter convocado um diálogo sobre a questão, parece que a Comissão Europeia está apoiando a “ação repressiva” de Madri, acrescentou, dizendo que autoridades governamentais, prefeitos e jornalistas estão sendo alvo de perseguição.
“Direitos civis estão sendo violados e a qualidade da democracia na Espanha está sendo desgastada”, Raul Romeva, chefe de Relações Exteriores da Catalunha.
A Comissão disse que respeita a ordem constitucional da Espanha.
Escalada de Tensão
Centenas de milhares de catalães foram às ruas nas últimas semanas para protestar contra a campanha de Madri para suprimir a votação. A polícia confiscou milhares de cédulas, e as cortes multaram e ameaçaram prender autoridades regionais.
No último dia 20, a Guarda Civil espanhola prendeu o principal colaborador do vice-presidente da Catalunha, Josep Maria Jové. Ele é considerado o braço direito do independentista Oriol Junqueras. Também foram presas outras autoridades que defendem a independência catalã, segundo a imprensa espanhola.
“O governo defende os direitos de todos os espanhóis e está cumprindo com sua obrigação. O Estado de Direito funciona”, afirmou o primeiro-ministro do país, o conservador Mariano Rajoy, ao ser questionado sobre as operações.
Os separatistas são maioria no Parlamento catalão desde 2015, mas segundo as pesquisas a sociedade catalã está muito dividida ante a independência da região de 7,5 milhões de habitantes.
Nas eleições regionais de 2015, os independentistas receberam 47,6% dos votos e os defensores da continuidade na Espanha 51,28%. Mas 70% dos catalães são favoráveis a decidir a questão em um referendo legal, segundo as pesquisas.