Os saberes da cultura popular aliados à eficácia científica se transformam em alternativa para minimizar ou curar diversos males da saúde – desde o alívio de uma simples dor de cabeça até a erradicação de um tumor maligno, quase tudo pode ser tratado com plantas medicinais. Pelo menos, é o que acredita o engenheiro agrônomo e professor do curso de Ciências Agrárias da Ufal, Clemens Rocha.
Clemens Rocha coordena um projeto de cultivo de fitoterápicos do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Alagoas (Ceca-Ufal). Hoje, ele busca cada vez mais sensibilizar as prefeituras para esta alternativa médica que pode baratear os gastos com medicamentos dos municípios, além de promover uma melhor qualidade de vida à população. A iniciativa, que envolve a criação de uma horta modelo, tem por objetivo garantir para a região interessada a própria matéria-prima na produção de fitoterápicos.
“O governo federal aprovou um projeto de plantas medicinais e fitoterápicos que está há 11 anos em funcionamento. Em Alagoas ele só veio chegar entre 2012 e 2013. Assim, o Ministério da Saúde entrou com um aporte financeiro de R$ 1 milhão e o estado de Alagoas com R$ 300 mil, o que deu para comprar alguns equipamentos para iniciar a produção de mudas por aqui”, diz o professor.
Clemens conta ao Alagoas 24 Horas que nem todo repasse financeiro chegou efetivamente aos cofres da pesquisa, garante que independente disso a sua maior preocupação hoje é tornar o projeto cada vez mais conhecido dos gestores públicos. Ao todo, 22 prefeituras de um total de 102 tiveram o projeto implantado em Alagoas. Até o final deste ano outras 10 receberão o plantio.
De acordo com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), a busca por este tipo de medicamento aumentou em 161% entre as pessoas no período de 2013 a 2015. O interesse das pessoas se dá após estudos científicos começarem a provar sistematicamente os efeitos clínicos positivos dessa prática, seja como opção de medicação ou mesmo como auxilio no tratamento de doenças. Tudo vai depender do tipo de planta escolhida.
“Nós chegamos lá [no município], explicamos como funciona, posteriormente eles [a prefeitura] fazem a logística para o plantio e no dia seguinte oferecemos uma palestra para a comunidade, onde mostramos quais plantas estamos levando e quais as enfermidades que ela pode ser usada”, explica.
Segundo o educador, 20 espécies diferentes são levadas para os municípios junto a cerca de 400 mudas que são multiplicadas naturalmente pelos próximos cinco meses. Atualmente, 70 plantas com princípios ativos de comprovação científica fazem parte da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) do Ministério da Saúde. Em Maceió, na horta do Ceca, 40 destas plantas são cultivadas.
“Têm plantas bastante conhecidas que servem como calmantes naturais como a camomila e a erva cidreira, mas há ainda outras como a romã [age como anti-inflamatório]; guaco [serve no combate a tosse e o reumatismo]; chambá [bronquite, asma e gripe]; espinheira santa [gastrite e úlcera] e a crajirú [antitumoral]”, explica.
Destas, a crajirú é que possui a maior procura por conta das recentes descobertas que apontam a planta com auxilio do combate ao câncer, principalmente no de próstata. “Essa planta em alguns lugares chega a custar R$ 300, aqui nós damos de graça para o município interessado”, explica o professor.
Aplicativo para celular
A lista inteira das plantas cultivadas no Ceca podem ser obtidas por meio do aplicativo “Plantas Medicinais CECA – UFAL” que está disponível para as plataformas IOS e Android dos celulares, em fase de testes. O aplicativo é atualizado pelos próprios pesquisadores do Ceca, como as estudantes de Engenharia Argrônoma, Aline dos Santos e Yasmin Morais.
“Está sendo uma experiência maravilhosa. O aplicativo está em fase beta (fase teste) e a ideia é catalogar todas as plantas”, diz Yasmin Morais.
Além da pesquisa, as estudantes afirmam que possuem uma horta medicinal em casa em que ajuda os familiares e até vizinhos.