‘Se ele vomitasse, apanhava’, afirmou adolescente de 15 anos ouvido durante o julgamento da mãe, Edjane Gomes da Silva, em Rio Largo
O julgamento de Edjane Gomes da Silva, acusada de matar o filho de 5 anos, Gabriel Gomes da Silva, está sendo realizado pela 3ª Vara Criminal de Rio Largo (AL), nesta sexta-feira (1), e deve ser concluído ainda hoje, de acordo com o juiz Galdino José Amorim Vasconcelos, que preside o júri popular.
Na sessão, foram ouvidas as testemunhas Tamires Gomes da Silva e Cleonice da Silva – nora e sogra uma da outra, respectivamente – além de dois filhos da ré, de pai diferente da vítima. Todos foram ouvidos sem a presença da acusada.
Tamires relatou que a criança foi criada por sua família nos dois primeiros anos de vida, porque a mãe “não tinha paciência” para cuidar dela, mas depois a Edjane exigiu o menino de volta. Segundo a testemunha, após ir viver com a mãe, Gabriel começou a ser visto sempre com hematomas e manchas. “Ela sempre dizia que ele tinha caído”, disse. “Ele tinha muita vontade de ver, porque o que ele aguentou… foi muita vontade de viver”, afirmou Tamires, emocionada.
Um filho de Edjane que atualmente tem 15 anos confirmou que a mãe dava chutes na barriga de Gabriel, o que também teria ocorrido no dia da morte. “Se ele vomitasse, apanhava”, disse. O filho também contou que ela deixava o menino preso no quintal de casa por horas, às vezes de noite, sob ameaça de agressões caso ele saísse.
Outro irmão ouvido, de 13 anos, disse que a mãe batia em Gabriel com diversos objetos, inclusive cabos de vassoura. Ele relatou que o menino não era bem alimentado, e chegou a ver a vizinha dar comida à criança por cima do muro, quanto ela estava presa no quintal. O irmão disse que a vítima não era autorizada a brincar, e apanhava se o fizesse.
Cleonice da Silva relatou que o pai de Gabriel nunca conviveu com a criança. “Ela (Edjane) dizia que não gostava dele porque o menino não tinha pai. E a gente perguntava o que tinha a ver”, disse.
O promotor Wesley Fernandes Oliveira afirmou que o Ministério Público Estadual busca “uma condenação exemplar”, com a pena máxima para crime. Ele afirmou que Gabriel estava com infecção intestinal no dia da morte e foi agredido após vomitar.
“Ao invés de ter tido os cuidados necessários que uma mãe deveria proporcionar ao seu próprio filho, ele foi agredido até a morte. Foi colocado dentro de uma caixa d’água, no sereno, em pleno inverno, uma situação que o levou à morte”, explicou Wesley Oliveira. Os filhos ouvidos no júri disseram que a mãe levou Gabriel para a caixa d’água para dar banho nele.
O hospital no qual a criança foi socorrida constatou morte por insuficiência respiratória, distúrbio hidroelétrico, desidratação por infecção gastrointestinal e desnutrição. O crime ocorreu em 14 de agosto de 2014.
Interrogatório da ré
Interrogada, Edjane Gomes da Silva afirmou que as acusações não são verdadeiras. Disse que no dia da morte, Gabriel passou mal e vomitou após ter bebido muita água, dada pelo irmão mais velho. Reconheceu que deu “só um” chute na barriga da criança na noite do crime, mas alegou que a agressão não teria causado nenhum dano e ocorreu muito tempo antes do mal estar.
A ré admitiu que punia fisicamente nos filhos, mas dentro do “normal”. “Às vezes batia sim, não só nele, como nos outros”, disse. Edjane afirmou que não batia mais em Gabriel do que nos outros, porém o colocava com frequência de castigo, porque ele seria menos comportado. Contudo, negou que tivesse castigado o menino na caixa d’água alguma vez. “Era a única água que tinha pra tomar banho”, alegou.
Matéria referente ao processo nº 0700800-61.2014.8.02.0067