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Um encontro marcado

Arquivo Pessoal

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Arrumei a árvore de Natal da nossa casa, quando terminei, olhei para ela e apesar de achar lindo tudo que lembra Papai Noel, me perguntei, – Já tivemos outras mais bonitas? E a resposta sincera foi, – “Sim, tivemos”…

O ano está findando e começou aquele rebuliço interno do balanço do que se foi, essa é uma época que mexe comigo.

Eu trabalho com política pública de saúde e são comuns nas sucessões, as novas gestões se dedicarem a apontar os erros do passado, mas apresentar alguma dificuldade em gerenciar o agora ou arrumar soluções para o futuro, e o fim do ano me empurra a fazer a mesma coisa. A vida não aconteceu como planejei, até enxergo onde errei, mas reluto em me propor a fazer algo diferente.

Essa coisa de modificar a forma de agir, ser e pensar é uma batalha árdua, travada no interior solitário, mas a vida vem em rolo compressor e mesmo que relute em planejar transformações, elas acabam por acontecer à revelia da minha vontade.

Olho o passado e enxergo momentos extraordinários, tenho recordações lindas, tardes roubadas, um sorvete com minha mãe, um amanhecer, uma noite de encantos, um bem-te-vi na janela, tesouros que não voltam, que fazem parte do ontem, recordações vivas na memória, impossíveis de serem seguradas.

Do passado restaram pedaços que me formam hoje e tenho um monte de motivos para ser grata, daí ficar com raiva de mim quando faço o balanço avaliando de forma tão rigorosa o ciclo que finda, achando que faltou algo, que ele devia ter sido mais generoso ou menos voluntarioso.

Para a virada do ano já me comportei de diferentes maneiras: já fiz listas quase impossíveis de serem atendidas, já fiz outras mais factíveis, já me propus a fazer lista nenhuma e independente daquilo que fiz, a vida aconteceu como podia ter acontecido, quase sem compromisso com meus desejos.

Carrego comigo um caleidoscópio de sonhos, desejos, planos e quando computo as pendências que o ano que finda tem comigo, preciso me policiar para não permitir que olhar tais fracassos me tire à esperança de enxergar outras possibilidades e principalmente de ser grata pelo que consegui. Por que me apegar tanto ao que não aconteceu?

Gostaria de olhar o futuro me sentindo em paz, sem âncoras que me puxem para histórias que não existem mais, afinal sei bem que se dedico minha energia para lamentar o que não fui ou não fiz, deixo de ser o melhor do que posso ser agora e de celebrar as conquistas de hoje, ou de enxergar novos caminhos.

Houve um período que embolou por casa um livro cujo título é “Lanterna na popa”, não li, não me identifico com o autor, mas não tenho como deixar de considerar inteligente o alerta, quem tem energia direciona a luz para proa, olha em frete, do passado levamos a recordação e o aprendizado, nada mais.

A disposição para iluminar o futuro é que pode melhorar a vida, quem sabe assim a árvore do próximo ano será a mais bonita de todas as demais que já tivemos? Papai Noel precisa ter a certeza que ē bem vindo no encontro que temos marcado, afinal eu gosto dele, mesmo que nem sempre ele lembre de atender meus pedidos.

PS no passado tem o nascimento do filho, no presente, um livro, quem sabe no futuro uma árvores e com um pouco mais de sorte, netos.

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