O presidente Michel Temer admitiu nesta sexta-feira (22) que denúncias de corrupção “prejudicaram muito” seu governo e sua popularidade, mas acredita que em breve vai recuperar capital político e será um cabo eleitoral “substancioso” na disputa de 2018.
Apesar de seus baixíssimos níveis de aprovação, o presidente tenta articular um bloco de centro-direita que deve apoiar um candidato nas eleições do próximo ano.
O ministro Henrique Meirelles (Fazenda) é um dos nomes mais cotados.
Bem-humorado durante um café com jornalistas, Temer fez piada com seus índices de aprovação ao dizer que “aumentaram em 100%, de 3% para 6% [segundo o Ibope]”, e afirmou que a popularidade “é uma jaula”, citando frase do publicitário Nizan Guanaes.
Segundo o presidente, sua impopularidade serviu para que ele fizesse “o que o Brasil precisa”, como a aprovação de medidas de ajuste fiscal.
“A questão da corrupção prejudicou muito o governo e prejudica muito a popularidade, porque uma pesquisa que pedi, em caráter particular, revela que as pessoas têm vergonha de dizer, embora aprovem o governo, têm certo pudor [de dizer que aprovam], porque pensam: ‘Poxa, esse governo corrupto, todo mundo é corrupto'”, disse.
Este ano, Temer foi denunciado duas vezes pela Procuradoria-Geral da República por corrupção passiva, obstrução da Justiça e formação de quadrilha. As acusações foram barradas pela Câmara e voltarão a tramitar quando ele deixar o cargo, no fim de 2018.
Na espécie de balanço que fez do ano e meio de seu mandato, Temer tentou transferir para “setores públicos e privados” a responsabilidade da grave crise política que acometeu seu governo. Para ele, seus “detratores foram desmascarados” e hoje estão “presos ou desmoralizados”.
O discurso foi um ataque indireto ao empresário Joesley Batista, da JBS, que gravou uma conversa com o presidente no Palácio do Jaburu usada pela PGR para apresentar as denúncias contra ele.
Temer acredita que após a prisão de Joesley – acusado de ter se beneficiado financeiramente durante sua delação –, o governo será lembrado pelo “descaramento daqueles que se mascararam para urdir o que urdiram” e isso, avalia o presidente, terá efeito eleitoral positivo.
“Penso que, seja o Meirelles ou seja quem for [o candidato], acho que seremos grandes eleitores na próxima eleição. O Meirelles já disse, mas quem for candidato não vai poder deixar de dizer o que vai fazer com as reformas. Vamos ser eleitores substanciosos”, completou.
Ladeado pelo ministro da Fazenda, além do titular da Defesa, Raul Jungmann, e do secretário de Comunicação, Márcio de Freitas, Temer brincou com o chefe de sua equipe econômica e perguntou se ele estava disposto a concorrer em 2018.
“Você é candidato, Meirelles?”, disse, depois de responder que não acreditava que uma eventual candidatura do ministro atrapalhe a aprovação da reforma da Previdência, cuja votação está marcada para 19 de fevereiro.
Meirelles apressou-se a responder que sua decisão será tomada só em março.
O presidente afirmou que apoiará um candidato que não seja “extremista”, em referência aos dois líderes nas pesquisas –em campos opostos–, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PSC).
Semipresidencialismo
Temer disse ainda que exerceu um “semipresidencialismo sem perder a autoridade”. Para ele, a relação de “diálogo” com o Congresso foi a chave desse modelo.
“As pessoas às vezes confundem educação com falta de autoridade e não é assim. Ninguém me vê agredir ninguém, ao contrário, quando muito podem ver um certo desprezo com quem me agride, mas nem esse desprezo eu deixo revelar”, afirmou.
O presidente iniciou seu mandato com sólida base parlamentar, que foi derretendo diante das denúncias e da tentativa do governo de aprovar pautas impopulares.
Hoje, Temer conta com cerca de 250 deputados, menos da metade dos 513 que compõem a Câmara, e está em atrito constante com o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que já o criticou publicamente diversas vezes.