Os primeiros passos de Andressa Verdino, de 28 anos, na Mangueira foram dados quando ela ainda era criança. Atualmente, como musa da verde e rosa, Andressa ganha elogio especial do carnavalesco na escola, Leandro Vieira: “Essa, sim, é uma musa de verdade. Tem história aqui dentro”.
Aos 8 anos, Andressa começou na escola mirim Mangueira do Amanhã e nunca mais parou. Ela conta ao G1 que queria brilho, glamour e por isso foi atrás de seu sonho.
1) Como começou sua relação com a Mangueira?
Meus avós foram um dos primeiros passistas da escola, minha mãe é baiana, meu pai é da ala dos boêmios. Não tinha como ser diferente.
Musa da Mangueira contou que quase nasceu na quadra da escola, em 1989, após sua mãe entrar em trabalho de parto num escolha de samba (Foto: Rodrigo Gorosito/G1)
3) É verdade que você quase nasceu na quadra da escola?
Sim. Todos sabem dessa história. Em 1989, minha mãe estava grávida de mim, participando da escolha do samba na quadra, sambando, aí ela começou a passar mal e teve ir sair correndo para a maternidade. Na época, ganhou o samba ‘E deu a louca no Barroco’, do desfile de 1990, que tinha o refrão ‘Sinhá Olímpia, quem é você? Sou amor, sou esperança. Sou mangueira até morrer’. Por causa disso, até hoje minha avó só me chama de Olímpia.
4) Qual a relação musa x passista?
Somos muito unidas. Nossa ala de baianinhas era muito significativa, organizada. Tinha muitas amizades. Depois, virei passista e foi muito bom para mim, me receberam de abraços abertos.
5) Qual momento marcante que você guarda da Mangueira?
Quando desfilei grávida, em 2014. Foi um ano em que o enredo homenageava as mulheres. Fui destaque de chão, na frente do último carro. Eu estava grávida de 7 meses e nunca imaginei que isso fosse acontecer. Foi um momento mágico.
6) Como a crise afetou as musas?
A gente fazia muitos shows. Hoje, com a crise, está mais restrito, fazemos rodízios para que todas possam trabalhar. Caiu muito a contratação desses shows. Antes, fazíamos uma média de 15 shows por mês. Agora, são 5, 8, no máximo. Antigamente, a gente conseguia viver apenas de show. Sorte que tenho meu salão de beleza, é do que eu vivo.
7) Por muitos anos, você usou megahair. Agora, você está com cabelo estilo black power. Como foi a fase de transição?
Quando eu virei passista, naquela época, tinha que ter cabelão até a cintura. Usei durante 15 anos, até que tive alopecia [redução de cabelos em uma áres específica], que dá muita queda no cabelo. Um belo dia, há 2 anos, resolvi tirar tudo, cortei curtinho, com apenas dois dedos de cabelo.
8) Você gostou da mudança?
Fui supercriticada. Fui careca para um concurso do carnaval. Na época, não me chamavam mais para trabalhos, shows. Mas segui em frente. Agora, as coisas voltaram ao normal. Gosto do meu black, rejuvenesce muito mais. Com o megahair a gente fica sempre com a mesma cara, além do custo, que é muito mais alto.
9) Como você avalia os padrões de beleza?
Não acho legal essa coisa da padronização. A pessoa tem que se sentir bem com o que quiser usar. Ninguém precisa ter orgulho de mim, eu mesma tenho. Olha, o que tem de menina que tirou o mega por causa de mim… Muitas se espelharam na minha atitude. Manter aquele cabelo é sacrificante, muitas até se endividam para manter um visual que dura, no máximo, três meses.
10) As escolas ameaçaram não entrar na avenida esse ano, caso o prefeito Marcelo Crivella não liberasse a verba para os desfiles. Já pensou no fim do carnaval?
Não existe isso de fim. O nosso mundo é maior do que a avenida. Somos muitos unidos, vamos fazer carnaval em qualquer outro lugar. Esse prefeito está mexendo onde não deve.
11) Você é budista há 4 anos. Isso é meio incomum no universo do samba, né?
Sim. Rola muita crítica porque no samba ou você é católico ou você é espírita. Mas o budismo é a religião que me traz paz, faço orações duas vezes por dia. Tem aquela coisa das pessoas perguntarem se já tomei meu banho para entrar na avenida, coisa da religião espírita, e eu acabo mentindo para não desagradar. Porque se algo der errado, vão dizer que foi porque a pessoa não tomou o banho. Mas se tiver algo de errado para acontecer, vai acontecer. Acho que temos que ter fé. Isso que importa.