Boatos são espalhados sobre Marielle na internet; confira as mentiras mais contadas
19/03/2018 09:47
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Após o assassinato da vereadora do Psol Marielle Franco, no último dia 14, a sua história dentro e fora da política foi contada por jornais, familiares e companheiros de partido. Sua morte foi o assunto mais comentado nas redes sociais no dia que sucedeu o fato, segundo pesquisa da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV Dapp).
Com a propagação da notícia, acusações falsas começaram a ser feitas sobre a vida da ativista. Suposta ligação com tráfico, drogas e má conduta foram atribuídas à Marielle sem qualquer prova de que seriam verdade. As afirmações foram feitas majoritariamente por pessoas que não concordavam com as posições políticas da vereadora do Rio de Janeiro, com o intuito de manchar a imagem da vítima.
Confira as mentiras sobre Marielle Franco:
Marielle engravidou aos 16 anos: falso.
A filha de Marielle se chama Luyara e tem 19 anos. A jovem nasceu em 1998, quando a vereadora tinha 19 ou 20 anos. Portanto, a notícia de que Marielle teria engravidado na adolescência é falsa.
Vereadora foi eleita pelo Comando Vermelho (CV): falso
Marielle foi eleita como vereadora do Rio de Janeiro pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol) em 2016. Ela foi a quinta mais votada para o cargo, com 46 mil votos. De acordo com os boatos, Marielle seria envolvida com a facção criminosa Comando Vermelho (CV), que supostamente atuava na Favela da Maré, onde a ativista cresceu e morava. A influência da facção na comunidade teria ajudado a eleger a militante. Entretanto, de acordo com o Tribunal da Justiça Eleitoral do Rio, as áreas que mais votaram em Marielle foram Leblon, Ipanema e Copacabana. As partes da cidade que seriam comandadas pelo CV não aparecem de forma significativa no número total de votos.
A informação chegou a ser espalhada pela desembargadora Marília Castro Neves em um comentário de um post do Facebook sobre a vítima. Em uma entrevista para o jornal Folha de São Paulo, Marília afirmou que compartilhou as informações que viu em um post de uma amiga e que nunca tinha ouvido falar de Marielle antes de sua morte. A desembargadora apagou a postagem depois da repercussão.
Foi casada com Marcinho VP: falso
Uma foto de uma mulher sentada no colo de um homem está sendo compartilhada para afirmar que Marielle Franco teria sido casada com um traficante conhecido por Marcinho VP. A imagem, originalmente retirada de um blog chamado “Ktaputas”, não é de Marielle. A mulher da foto não lembra os aspectos físicos da vereadora e o homem não se parece com nenhum dos dois traficantes conhecidos como Marcinho VP. Além disso, um dos homens com este apelido é Márcio Amaro de Oliveira, que estava preso desde 2000 e morreu três anos depois. Também atendendo por “Marcinho VP”, Márcio dos Santos Nepomuceno, está preso desde 1997. Os dois não tiveram ligação nenhuma com Marielle e atuavam no tráfico de regiões distantes de onde a mulher morava.
A vereadora era lésbica e vivia com sua companheira, a arquiteta Mônica Tereza Benício. Marielle passou os últimos anos lutando pelas pautas do movimento LGBT. Ela foi responsável pela inclusão do Dia da Visibilidade Lésbica no calendário oficial do Rio de Janeiro.
Era contra policiais: falso
Pouco antes do assassinato, Marielle postou em suas redes sociais denunciando a violência policial que os moradores de Acari, região Norte do rio, estavam sofrendo. “O 41º BPM está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados no valão”, escreveu. No seu mandato, ela procurou defender pessoas da favela contra truculências exercidas pela polícia. Entretanto, quando era assessora da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio, a ativista ajudou familiares de vítimas de homicídio, incluindo famílias de policiais. As críticas de Marielle eram direcionadas à policiais corruptos ou que não respeitavam a dignidade da população.
Notícias falsas serão denunciadas ao Conselho Nacional de Justiça
O Psol divulgou que irá denunciar as acusações feitas pela desembargadora Marília Castro Neves ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O comentário da juíza em um post no Facebook repetia inúmeras notícias falsas sobre Marielle Franco. A nota do partido socialista chamou de “irresponsável” a atitude de Marília.
Alberto Fraga, deputado federal pelo partido Democratas (DEM), também divulgou boatos sobre a vereadora assassinada em um post no Twitter. A postagem foi apagada após repercussão negativa. “Vamos deixar a Polícia trabalhar e com certeza essas acusações, de ambos os lados, serão sanadas”, afirmou o deputado em outro tuíte sobre a polêmica. O Psol estuda também ações contra ele.
Annie Caroline, sobrinha de Marielle, postou um texto no seu perfil do Facebook lamentando a morte da tia e pedindo para que as pessoas não espalhem mentiras sobre ela. “Por favor, respeitem a dor de todos, seja de quem for, apenas respeitem. E principalmente, não inventem mentiras sobre ela ou alguém da família achando que vai estar passando batido, porque não vai”, afirmou na postagem.