PSOL protocola no CNJ reclamação contra desembargadora por notícia falsa sobre Marielle
O PSOL protocolou, no início da noite desta segunda-feira (19), reclamação disciplinar no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contra a desembargadora Marília de Castro Neves Vieira, da 20ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. No dia 16 de março, dois dias após o assassinato da vereadora Marielle Franco, a magistrada publicou em seu perfil nas redes sociais informação mentirosa e caluniosa contra a vítima.
Na reclamação, o PSOL pede que o CJN apure a atitude de Marília e instaure processo legal administrativo disciplinar.
Ainda nesta segunda, a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia também protocolou uma reclamação disciplinar no CNJ contra a desembargadora.
Marília publicou notícias falsas sobre Marielle em uma rede social. Na mensagem, a magistrada dizia que a vereadora “estava engajada com bandidos”, tinha sido “eleita pelo Comando Vermelho” e era “um cadáver tão comum quanto qualquer outro”.
A produção do Fantástico não conseguiu contato com a desembargadora no fim de semana. O G1 também tentou contato nesta segunda-feira, sem sucesso.
Desde a última quinta-feira (15), um grupo de advogadas tenta rastrear o material calunioso que está se espalhando pela web. Até a manhã de domingo, a iniciativa já contabilizava mais de 2 mil denúncias.
O objetivo é enviar todos os casos com autores identificados para investigação na Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) da Polícia Civil do Rio, ou para retratação pública na Justiça. As denúncias podem ser recebidas no e-mail: contato@ejsadvogadas.com.br .
“Vamos mapear todo e qualquer ataque que venha pela internet, para entregar à Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática”, disse à TV Globo o vereador Tarcísio Motta (PSOL-RJ), colega de bancada de Marielle na Câmara do Rio.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Rio de Janeiro (OAB-RJ), Felipe Santa Cruz, falou ao Fantástico sobre o risco gerado pela divulgação de informações falsas e caluniosas – sobretudo, quando veiculada por perfis de autoridades.
“O que reproduzimos sem verificação nas redes sociais fala sobre nós. Não podemos fazer isso, é gravíssimo. Estamos falando de outra pessoa. Quando uma autoridade faz isso sem verificar a veracidade do que está falando, ela está na verdade cometendo um crime, difamando, caluniando, traindo seu compromisso profissional”.
Deputado federal
O deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) desativou, nesta segunda, as contas oficiais de seu mandato em redes sociais. A decisão foi tomada após a repercussão negativa de um post, publicado no sábado (17), com informações falsas a respeito da vereadora Marielle Franco, morta a tiros na última quarta (14).
Ao G1, a assessoria do parlamentar informou que as contas no Twitter e no Facebook devem ser reativadas ainda nesta semana.
No domingo, Fraga falou à TV Globo sobre o conteúdo da postagem, e admitiu que errou por não checar a veracidade dos dados.
“O arrependimento, talvez, é em ter colocado algo que eu não tenha checado, que não tenha uma informação. Por eu ser um policial, um coronel da polícia [Militar do DF], eu deveria ter tido uma informação mais consistente, de uma fonte idônea”, afirmou Fraga à TV Globo. “Eu não chequei as fontes. Isso, eu posso dizer que foi verdade.”
No post, Fraga diz que Marielle teria sido alçada ao posto de “mito da esquerda” e que, na verdade, teria relação com o tráfico e o consumo de drogas.
A mensagem foi apagada no sábado, mas continuou a ser compartilhada em prints – tanto por apoiadores, como por pessoas que faziam oposição ao conteúdo.
Durante a polêmica, Fraga chegou a bater boca com usuários do Twitter sobre outros assuntos, como o áudio revelado pela TV Globo em que o parlamentar fala sobre suposta propina no transporte público do DF.
‘Fake news’
Conforme checagem da TV Globo e do G1, pelo menos quatro informações centrais da publicação de Fraga são falsas. Morta aos 38 anos, Marielle Franco engravidou aos 19, quando teve a única filha. Luyara Santos, de 19 anos, publicou um desabafo em redes sociais no dia seguinte à morte da vereadora: “Mataram minha mãe e mais 46 mil eleitores.”
O pai de Luyara se chama Glauco dos Santos, e não tem relação com nenhum dos dois traficantes identificados como “Marcinho VP” – um deles morreu em 2003, e o outro está preso desde 1997.
Marielle engravidou aos 16? Foi casada com o traficante Marcinho VP? Ignorava as mortes de policiais? Não é verdade!