O tema da violência que assola o Brasil, tendo como destaque neste mês de março a execução da ativista e vereadora Marielle Franco no Rio de Janeiro, fará parte do Jejum de Solidariedade realizado nesta sexta-feira, 23 de março de 2018, pela Comissão Pastoral da Terra de Alagoas (CPT/AL), das 8 às 18h, na sede da entidade.
O Jejum de Solidariedade acontece pelo 19º ano consecutivo na sexta-feira que antecede a Semana Santa e, além de sempre ter como foco as pessoas que passam fome no mundo, lembra em seu tema a campanha da fraternidade da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Neste ano de 2018, a campanha é pela “Fraternidade e superação da violência”, com lema “Em Cristo somos todos irmãos (Mt 23,8)”.
A atividade conta com três reflexões: A violência da fome, a violência da concentração da terra e a violência contra a vida (os mártires). Tradicionalmente, baseia-se na palavra bíblica de Isaías que, já antes de Cristo, falava sobre a importância da solidariedade e, ao mesmo tempo, defendia o jejum em prol de quem sofre com as injustiças. “O jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e desfazer qualquer jugo” (Is 58,6).
Tal palavra bíblica tem tudo a ver com a conjuntura do Brasil, onde a violência se reproduz de variadas formas. A violência da fome, por exemplo, voltou a assombrar o país devido ao crescimento do desemprego e cortes nos programas Bolsa Família e de Aquisição de Alimentos. Um grupo de mais de 40 entidades da sociedade civil alerta que o Brasil pode voltar ao Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU).
Por outro lado, a injustiça do assassinato da vereadora carioca, mulher, mãe, negra e favelada sensibilizou o mundo e está motivando o povo brasileiro a voltar às ruas pelo fim das opressões e da violência contra a vida. Isso porque o homicídio de Marielle Franco traz à tona o debate que vai além da violência cotidiana, pois se trata de ameaças contra defensores de direitos humanos.
A execução de Marielle, numa das principais capitais do Brasil, faz parte de um quadro assustador de violência contra quem luta pela liberdade dos oprimidos citada na palavra do profeta Isaías. Se o alto número de mortes em assaltos é alarmante, o aumento de execuções de pessoas por manifestar opiniões ou denunciar mazelas em defesa de setores mais vulneráveis representa um atentado à democracia e, também, aponta para a falência do Estado.
Só neste ano de 2018, 12 lideranças já foram mortas no Brasil – o dobro de casos no mesmo período de 2017, segundo levantamento feito pelo Estadão. Entre os mártires estão pessoas que lutavam por terra para os camponeses, contra crimes ambientais, contra a violência policial e a guerra das drogas, por emprego, em defesa de comunidades indígenas e quilombolas etc.
No ano passado, o estudo publicado no Caderno de Conflitos da CPT destacou o crescimento de assassinatos em massa como método para exterminar grupos que atuam em defesa de direitos. A comissão contabiliza 65 pessoas assassinadas em conflitos no campo em 2017, o que faz do Brasil o país mais violento para as populações camponesas no mundo. Nos últimos anos, as mortes de lideranças vinham sendo mais frequentes que as chacinas, por isso, a CPT caracterizou o ano de 2017 como “o da volta dos massacres no campo”.
Neste contexto, a CPT/AL se preocupa com as ameaças sofridas pelos camponeses dos acampamentos Bota Velha e Santa Cruz, no município de Murici, e busca uma solução para evitar mais um conflito por terra. Vale ressaltar que esta luta diz respeito também ao combate à fome, ao passo que as famílias acampadas há mais de 15 anos produzem alimentos saudáveis para sustento próprio e da comunidade.
O Jejum de Solidariedade, vésperas da Páscoa, ao falar em fraternidade e superação da violência, chama atenção para que a população se lembre das palavras de Jesus no que diz respeito ao amor ao próximo, especialmente, aos pobres. Defender direitos humanos representa defender a palavra de Cristo, independente de religiões e crenças. Portanto, a atividade reflete: somos todos irmãos.
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CPT/AL faz Jejum de Solidariedade pela fraternidade e superação da violência