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MP investiga ‘frota de luxo’ com 160 carros no nome da diocese

Órgão apura se veículos foram vendidos para terceiros que nãos os passaram para seus nomes. Na lista estão caminhonetes de até R$ 100 mil, aponta promotor.

Reprodução

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O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) está investigando uma “frota de luxo” com 160 carros em nome da diocese de Formosa, que fica no Entorno do Distrito Federal. Segundo o órgão, o documento foi apreendido durante a Operação Caifás, que apura desvio de R$ 2 milhões da Igreja Católica e prendeu nove pessoas, entre elas, quatro padres, o bispo e o juiz eclesiástico da região.

O promotor responsável pela investigação, Douglas Chegury, informou que há na lista carros de até R$ 100 mil e a maioria dos veículos é nova.

“Muitos são caminhonetes, carros novos. São CRV, S10, Hilux, Ford Ranger. A gente imaginaria que seriam carros mais simples. Vamos solicitar para o Detran todas as informações de cada um daqueles carros. Qual modelo, se tem multa, nome de quem, etc”, afirmou.

A suspeita do promotor é que os carros eram vendidos, mas os novos donos não faziam a transferência do veículo para não precisarem pagar impostos. O MP-GO também quer apurar se o valor pago pelos veículos entrava na conta da diocese ou não.

“Não estão todos no pátio da cúria. É muito carro. Com certeza, muitos foram vendidos, estão com terceiros, sem ligação da igreja, mas não foram transferidos. Outra consequência é que veículo igreja não paga imposto”, completou.

Prisões

O bispo, o juiz eclesiástico, quatro padres e dois empresários estão presos em uma ala isolada no presídio de Formosa desde o dia 19 de março. Cinco dias depois, o mesmo juiz aceitou a denúncia do MP-GO e os nove, além de outras duas pessoas, se tornaram réus no processo. Além disso, o secretário da Cúria foi liberado, embora continue respondendo ao processo.

Investigações do MP-GO apontam que o grupo teria comprado uma fazenda, carros e uma casa lotérica com recursos desviados. A operação foi batizada de Caifás e culminou com apreensões em Formosa, Posse e Planaltina.

Após terem os pedidos de soltura negados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), as defesas do bispo Dom José Ronaldo e do juiz eclesiástico Tiago Wenceslau entraram com pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF). Não há prazo para que a análise aconteça.

Na terça-feira (27), o STJ informou que pediu que o Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) se posicionasse a respeito da tese defendida pelas defesas dos réus – de que houve constrangimento ilegal pela prisão. Os advogados deles defendem que eles não cometeram irregularidades.

“Enquanto ele não for solto, nós vamos impetrar habeas corpus”, disse o advogado do bispo, Lucas Rivas. O G1 tentou contato por mensagem e telefone com o advogado do juiz eclesiástico, Thiago Santos Aguiar de Pádua, sem sucesso.

Nesta segunda, as defesas de dois empresários, do vigário-geral, Epitácio Cardozo Pereira, e dos párocos de três igrejas nas três cidades também entraram com pedidos de liberdade, mas no próprio TJ-GO.

A desembargadora Carmecy Rosa Maria de Oliveira também negou os pedidos de habeas corpus. As defesas deles dizem ainda que as prisões preventivas são ilegais e desnecessárias e que provarão a inocência dos réus.

Vídeo mostra prisão do bispo de Formosa em investigação por desvio de dízimo

Vídeo divulgado pelo MP-GO mostra o momento em que o bispo Dom José Ronaldo e o juiz eclesiástico Tiago Wenceslau são avisados sobre a prisão. A gravação mostra o momento em que Dom José Ronaldo questiona a operação, dizendo suspeitar de um “equívoco muito grande”.

As investigações começaram no ano passado, após denúncias de fiéis. Eles afirmaram que as despesas da casa episcopal subiram de R$ 5 mil para R$ 35 mil desde a chegada do bispo Dom José Ronaldo, em 2015. Na ocasião, o clérigo negou haver irregularidades nas contas da Diocese de Formosa.

Dinheiro escondido em guarda-roupa
Ao todo, foram apreendidos R$ 148 mil, incluindo dólares e euros, além de outros bens, como cordões de ouro e relógios. A Justiça bloqueou ainda R$ 388 mil da conta do padre Waldson José de Melo.

Do total apreendido, R$ 90 mil estavam escondidos no guarda-roupas do monsenhor Epitácio Cardozo Pereira, segundo na hierarquia da diocese.

Vídeo mostra dinheiro em fundo falso de armário de clérigo; MP apura se valor foi desviado
‘Mesada’ por paróquias mais rentáveis
A investigação aponta ainda que padres de Formosa, Posse e Planaltina pagavam ao bispo de Formosa, Dom José Ronaldo, para que fossem mantidos em paróquias mais lucrativas. O valor mensal da “mesada” variava entre R$ 7 mil e R$ 10 mil.

“As informações que nós obtivemos é que, para permanecer nas paróquias que davam mais dinheiro, os padres pagavam uma mesada, em dinheiro, ao bispo. Um pároco, que contribuiu com as investigações, inclusive, chegou a ver esse repasse”, disse o promotor Douglas Chegyry ao G1.

Papa Francisco nomeia ‘interventor’
De acordo com a Nunciatura Apostólica (que atua como embaixada da Santa Sé), o Papa Francisco havia determinado que as contas da Diocese de Formosa fossem investigadas no início do mês, antes mesmo das prisões.

O arcebispo de Uberaba (MG), Dom Paulo Mendes Peixoto, foi nomeado administrador apostólico, espécie de “interventor”.