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Filha de Temer depõe à PF sobre R$ 1 milhão ‘doado’ para reforma de casa

Investigação faz parte do inquérito que apura se empresas do setor portuário pagaram propina em troca de um decreto presidencial.

Reforma de ap de Maristela Temer é investigada pela PF

Maristela Temer, uma das filhas do presidente Michel Temer, prestou depoimento nesta quinta-feira (3) à Polícia Federal sobre uma reforma na casa dela. A PF quer saber a origem do dinheiro usado na obra.

A investigação faz parte do inquérito que apura se empresas do setor portuário pagaram propina em troca de um decreto presidencial.

A casa de 350 metros quadrados passou por uma obra em 2014.

O delegado Cleyber Malta Lopes saiu de Brasília para São Paulo para essa nova fase de depoimentos. A investigação faz parte de um inquérito que apura se o presidente Temer atuou para beneficiar uma empresa com a edição do chamado decreto dos portos.

A Polícia Federal tenta montar um quebra-cabeça que começou em 2017, quando os delatores da JBS disseram que entregaram R$ 1 milhão de propina ao coronel da PM João Baptista Lima, amigo do presidente Michel Temer há mais de 30 anos. De lá para cá, a suspeita da investigação é que o dinheiro tenha sido usado para reformar a casa de Maristela.

Na quarta-feira (2), a Polícia Federal ouviu o arquiteto Carlos Roberto Pinto. Em junho de 2017, ao Jornal Nacional, ele disse que recebeu R$ 10 mil para dar entrada na prefeitura e cuidar da aprovação do projeto da reforma da casa, e que o pagamento foi feito por transferência bancária pela própria Maristela Temer.

Ele também contou que foi contratado pela arquiteta Maria Rita Fratezi, a mulher do coronel Lima.

Na época, outro fornecedor – que não quis gravar entrevista – disse ao Jornal Nacional que pagou para Maria Rita Fratezi R$ 100 mil em dinheiro vivo. Outro fornecedor da obra será ouvido pelo delegado da Polícia Federal na sexta-feira (4).

O depoimento de Maristela Temer durou quatro horas e foi numa sala da Polícia Federal, no aeroporto de Congonhas. A escolha do local não foi à toa. Para que a filha do presidente Temer fosse ouvida nesta quinta, houve um forte esquema de segurança montado pela própria Presidência da República. Maristela entrou e saiu sem ser vista pela imprensa.

O Jornal Nacional teve acesso, com exclusividade, a algumas partes do depoimento de Maristela Temer.

Maristela contou ao delegado que pagou a reforma da casa com o dinheiro que ganha como psicóloga, com um empréstimo da mãe, no valor de R$ 100 mil e com dois empréstimos que ela mesma fez no banco. Mas disse que não tem todos os comprovantes dos pagamentos porque a reforma foi feita há quatro anos.

Maristela negou que o pai, o presidente Michel Temer, tenha ajudado a pagar a reforma. Disse também que Maria Rita Fratezi e o coronel Lima nunca foram contratados para fazer a obra nem a empresa deles, a Argeplan.

Mar reconheceu que, como amiga da família, Maria Rita ajudou a pagar alguns fornecedores e até conseguiu descontos. Foi durante um período de dois anos, em que Maristela morava em Ibiúna, no interior de São Paulo.

Ao ser questionada pelo delegado se Maria Rita Fratezi usou dinheiro indevido sem que ela soubesse, Maristela Temer disse que não acredita nessa possibilidade.

“A Maria Rita prestou esse auxílio por carinho à Maristela. Por conhecer a Maristela desde criança. Esse contato, não foram todas as vezes que a Maria Rita celebrou isso, mas em algumas vezes ela fez o contato direto com os fornecedores, sim”, disse o advogado de Maristela, Fernando Castelo Branco.
“Quanto custou a reforma na casa dela?”
“Então, isso também ela não tem esse valor fechado, valor exato”.
“Estimado”.
“Ela tem uma estimativa que também está lá no depoimento dela”.
“R$ 500 mil, R$ 600 mil?
“Uma estimativa aproximada, talvez em torno disso”.

O presidente Michel Temer, que estava nesta quinta-feira em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, para um evento, quando perguntado pelos jornalistas se o depoimento da filha preocupava, respondeu:

“Registre o meu sorriso ”.

O que dizem os citados
O Palácio do Planalto declarou que a estrutura de segurança se estende aos parentes do presidente e está prevista em decreto e que não comenta detalhes sobre esse assunto.

A defesa de João Baptista Lima Filho e de Maria Rita Fratezi afirmou que eles jamais cometeram irregularidades ou participaram de qualquer ato ilícito.