Pedro sempre foi curioso e logo cedo demonstrou interesses dos mais variados; planetas, dinossauros e pontos cardeais são alguns dos exemplos e isso para mim era algo novo, já que esses assuntos não faziam parte da minha rotina.
Vou destacar a atenção dele pelos pontos cardeais por um motivo particular, eu sou absolutamente desprovida de senso de orientação espacial e nunca soube me localizar nesse negócio de norte, sul, leste ou oeste. Não tenho a menor idéia de que lado fica nada.
A fantasia que tenho de utilização de bússolas eu aprendi no cinema, nos filmes aonde as pessoas se vêm perdidas e precisam se orientar. Como não me ocorre a idéia de estar no meio do nada, pronto, de nada serve esse conhecimento.
Mas uma coisa que ele e eu temos em comum é a teimosia…
E foi a teimosia a motivação de uma conversa que tivemos num restaurante. Ele insistia entusiasmado em me ensinar o que era o norte verdadeiro e eu, por outro lado, explicava que essa informação não me servia, afinal eu ando em ruas na cidade e sendo assim, preciso saber o que é “mão e contra mão” e não o que ē norte ou sul.
O tempo passou e por esses dias a tentativa do governo do estado em explicar, através das redes sociais, como funcionará uma via alternativa para escapar do engarrafamento da Avenida Fernandes Lima, me fez lembrar essa conversa, afinal me senti perdida na primeira “dobre a direita na direção…” que o vídeo institucional apresentou.
Olhando meu filho hoje, um homem feito, cada vez mais constato nossas diferenças e como eu podia, caso tivesse prestado atenção no que ele ensinou, ter tornado certas coisas mais fáceis.
Pedro é mais devagar que eu, mas certamente chegará mais longe. Sabendo pra onde deseja ir e sabendo “usar uma bússola”, ele fixa um ponto e vai calmamente seguindo em direção às suas metas. Eu não, eu saio me perdendo e recalculando, recalculando…
Na idade dele eu já era casada, formada, trabalhando, tendo jornada dupla, com casa, contas, dia de feira, roupa na máquina, preparar comida, viajar a trabalho, arrumar cama, ir ao banco, responsabilidades das mais variadas com aquela infinidade de serviços que todas (nesse caso, no feminino mesmo) conhecemos. Eu queria o mundo e tinha pressa.
Ele tem outro ritmo, sabe o que quer e certamente terá maior sucesso que eu tive na minha trajetória. Ele se sente confortável numa rotina leve e não tem pressa de chegar ao futuro, não se desvia do objetivo, se comporta como bom homem, só faz uma coisa por vez. Será que é apenas ele ou os jovens hoje são mais leves mesmo?
Nós, mulheres mais maduras, acreditamos que somos multitarefa, como as impressoras modernas, e saímos assumimos diversos compromissos, fazendo um monte de coisas ao mesmo tempo, ainda que antecipadamente já saibamos que em um determinado momento será preciso tirar tempo da cartola (algo impossível), para seguir em frente.
Olhar a maneira como Pedro estabelece prioridade me causa certa inveja. Essa turma sabe ser feliz e me alegra imaginar que posso ter colaborado com esse resultado.
Eu não desejo conhecer de planetas ou de dinossauros, mas de rumo eu gostaria de entender, saber como firmar o barco da vida em direção a alguns sonhos que ainda carrego comigo seria bom, mas rapidamente penso que é melhor exigir menos, afinal no dia que resolvi pegar um mapa, dentro de uma estação de metrô, para prosseguir pelas ruas, coloquei-o de cabeça para baixo e isso explica mais de mim que terapia.
Teimosia, é dela que vou me valer, e se não sou boa na escolha dos “caminhos” que devo seguir, recalculo e recomeço, e recomeço, e recomeço… E penso como forma de consolo, que saber de “mão e contra mão” me será muito útil na tal nova via alternativa da cidade.
Abril de 2018
Katia Betina