A mensagem do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Luís Cláudio Laviano, não é animadora. Neste sábado, durante a inauguração da sede da Companhia Destacada da Polícia Militar na Mangueirinha, o comandante foi questionado por O GLOBO sobre o aumento do número de mortes por intervenção policial desde o início das atividades das Forças Armadas no estado e a morte por bala perdida, só neste ano, de oito crianças em todo o Rio de Janeiro. À frente da Pmerj desde março, ele condicionou a redução dos índices apenas à ação dos criminosos.
— Tem como (reduzir os índices de mortes por intervenção policial e de crianças por bala perdida). Quando começar a parar de entrar armamentos como fuzis no estado, no país. Quando esses marginais entenderem que o enfrentamento às forças de segurança não é o caminho. Quando essas quadrilhas, esses traficantes entenderem que disputar pontos de vendas de drogas com armamento com alto poder de letalidade não é o caminho. Aí vai reduzir — afirmou o coronel, que ao ser questionado se a ação da Polícia poderia mudar para impactar os índices, continuou: — Nós já tivemos várias iniciativas, várias ações para tentar. Nós realizamos alterações nos nossos horários de operações, buscamos alternativas nas nossas ações policiais, mas infelizmente essas pessoas insistem. Principalmente, esses jovens que estão muitas vezes evadidos do sistema de ensino. E quem responde por isso? Onde está a família desse jovem que não sabe muitas vezes onde esse jovem se encontra? Onde está o conselho tutelar que não sabe onde está esse jovem evadido da escola? Lugar de criança, de jovem é na escola.
Entre março e maio deste ano, houve 352 mortes por intervenção policial no estado — uma taxa 17,3% maior do que a registrada em igual período do ano passado (300). O GLOBO lembrou ao comandante ainda que, entre as crianças vítimas de balas perdidas neste ano, havia estudantes, como o adolescente Marcos Vinícius, atingido por tiros no caminho da escola, na Maré, nesta semana.
— Exatamente. Por jovens que deveriam também estar na escola — completou o comante.
Não são apenas os números de mortes que apontam a ineficiência da intervenção federal na segurança pública do estado. Em fevereiro, foram empregados 32.312 trabalhadores das Forças Armadas em 18 operações integradas com as políciais estaduais em favelas e estradas da Região Metropolitana. Mas, no período de março a maio deste ano, foi reduzida, por exemplo, a apreensão de fuzis em 38,8%, também em comparação com os meses de 2017.
— Certamente, o policial militar é um garantidor dos direitos humanos. Se o marginal depuser suas armas e se entregar, o confronto não vai existir. De janeiro a junho, nós temos um número aproximado de 140 fuzis apreendidos. Só fuzis, que são armamentos com alto poder de letalidade, não contando pistolas, revólveres e submetralhadoras. Acho que é um número considerável. Na quinta-feira, por exemplo, tivemos uma grande apreensão em um táxi de cinco pessoas que estavam transportando armamentos em que todos tiveram a vida preservada. Em uma abordagem feita seguindo as regras de seguranca, não reagiram, se entregaram, e tiveram a vida preservada. Nossos policiais, nosso treinamento, visam sempre a preservacao do maior bem que o ser humano tem: a vida — alegou o chefe da PM.
O chefe do Estado Maior Geral da PMERJ, Luís Henrique Pires, também estava no evento e ressaltou a melhora de outros índices neste cenário:
— Você observa também que outros índices, como roubos de rua e roubos de veículos estão reduzindo. É fruto do aumento de homens na rua, tanto da Polícia Militar por meio do RAS quanto das Forças Armadas. Então esse é um trabalho mais ostensivo, mais preventino. O cenário é algo a ser ressaltado nesse processo de intervenção.
Entre as taxas melhores avaliadas estão o aumento da apreensão de drogas (3,4%) e as quedas de roubos de cargas (16,1%), roubos a transeuntes (4,1%) e rouvos de veículos (0,6%).
Companhia Destacada volta à Mangueirinha
A Polícia Militar oficializou, na manhã deste sábado, a reinauguração de uma Companhia Destacada do 15° BPM na Mangueirinha, em Duque de Caxias, Baixada Fluminenss. O realinhamento foi concebido pela Pmerj em 2017 e a Intervenção Federal foi considerado o momento propício para a execução.
O policiamento da nova companhia será composto por policiais que já atuavam na então UPP Mangueirinha e por policiais do 15° BPM.
— Nós redistribuimos o efetivo da Unidade de Polícia Pacificadora da Mangueirinha em todas as unidades da Baixada Fluminense, do 3° Cpa, inclusive no 15° batalhão. Aqui vai ser uma base operacional do 15° BPM, que na verdade já era uma Companhia Destacada. Ela foi transformada em UPP e nós agora estamos retornando com esse modelo de Companhia Destacada. Daqui vai sair toda a parte operacional do 15° batalhão. Isso vai dar mais movimentação de tropa no terreno e teremos mais ganho em operacional não só no 15°, mas em outras unidades da Baixada que estão carentes de efetivo — afirmou o comandante-geral da PM, coronel Luís Cláudio Laviano.
A sede da companhia destacada fica na Vila Centenária, em Duque de Caxias. Segundo a Polícia Militar, os programas sociais estão mantidos na área.