Brasil

Índios mantêm servidores reféns após mortes de crianças em RR

Júnior Yanomami/Arquivo Pessoal

Indígenas armados impedem que aviões decolem da Terra Indígena Yanomami

Quinze comunidades Yanomami da região de Surucucu, no município de Alto Alegre, Norte de Roraima, apreenderam neste domingo (16) três aviões e servidores da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), após a morte de duas crianças indígenas dentro de 10 dias. Os indígenas exigem a saída do coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y), Rousicler de Jesus Oliveira.

O presidente da Hwenama Associação dos Povos Yanomami de Roraima, Junior Hekurari Yanomami, não soube informar quantos servidores estão no local, mas afirmou que ninguém está ferido e que não houve conflito ou atos de violência. O G1 entrou em contato com a Sesai e aguarda retorno.

Segundo Junior, líderes de associações indígenas ficaram sabendo da manifestação na tarde de domingo através de rádios usadas para manter a comunicação entre as comunidades.

“Recebemos as informações pela radiofonia de que a manifestação estava acontecendo. Eles estão reivindicado porque morreram duas crianças. Uma na semana passada e outra ontem. Além disso, outra criança foi removida em estado grave para o hospital”, afirmou Junior.

Conforme os Yanomami, as comunidades mais isoladas que recebem serviços de saúde por meio de helicópteros ficaram 90 dias sem atendimento porque o veículo não estava fazendo voos.

“Eles também relataram que a malária aumentou muito na Terra Indígena Yanomami, tanto no Amazonas como em Roraima”, disse Junior. Mais de 3 mil indígenas vivem na região.

Os manifestantes reclamam também que coordenador não mantém o diálogo com as comunidades e não atende as demandas da população.

“Eles dizem que ele não trabalha e não atende quando os Yanomami querem falar com ele para cobrar as necessidades das comunidades. Eles dizem que não tem mais condições dele ficar porque está prejudicando muito a saúde”, relatou Junior.

Os aviões apreendidos são contratados pela Sesai para transportar equipes de saúde e medicamentos para as comunidades. Eles estão detidos em uma pista de pouso usada para descarregar e fazer a distribuição dos serviços.

Nas imagens enviadas por Júnior é possivel ver as aeronaves e os indígenas pintados e armados com arcos, flechas e lanças. O avião camuflado que aparece não está entre os apreendidos. Ele é uma sucata que foi abandonada no local, de acordo com o líder indígena.

Os manifestantes informaram que os profissionais de saúde só estão sendo impedidos de sair da região, mas que não estão sendo ameaçados.

“Não tem nenhum tipo de violência ou confronto. Eles disseram que só querem dialogar com as associações para que a gente mande as solicitações para o Governo Federal e Ministério da Saúde”, explicou o presidente da Hwenama Associação dos Povos Yanomami de Roraima.

Os aviões apreendidos são dois Cessna Caravan e um monomotor. O tempo de voo de Boa Vista, capital de Roraima, até o local da manifestação é de 1h30.

Segundo Junior, ele, representantes da Hutukara Associação Yanomami e assessores indígenas do DSEI-Y irão nesta manhã para Surucucu dialogar com os manifestantes.