Desempenhar o papel de mãe ao mesmo tempo em que está na faculdade não é tarefa fácil para as mulheres, especialmente quando são as principais responsáveis pelo sustento da família. Além das responsabilidades domiciliares, estão entre as principais preocupações as atividades curriculares e a questão financeira. Considerando tais fatores, mães que são chefes de família podem receber até 10 mil dólares por meio da bolsa de estudo Viva o Seu Sonho: Prêmios de Educação e Treinamento para Mulheres (Live Your Dream: Education & Training Awards for Women).
A iniciativa pertence à Organização não Governamental Soroptimist e as inscrições acontecem até 15 de novembro. É necessário preencher a ficha de inscrição disponível no site da ONG, encaminhar duas cartas de recomendação, de acordo com o modelo disponibilizado, informar dados sobre renda e despesas, entre outros dados complementares (confira abaixo). Os objetivos principais são incentivar o aperfeiçoamento de habilidades e ampliar as perspectivas profissionais de chefes de família do sexo feminino. O prêmio “revela um efeito cascata poderoso em que essas mulheres corajosas se superam através das grandes adversidades”, de acordo com a Soroptimist.
Ultrapassar as barreiras é algo constante quando são consideradas simultaneamente a universidade, a maternidade e a empregabilidade. Isto torna o incentivo especialmente relevante para a jornalista Leia Araújo, de 30 anos. “Quando temos um filho as despesas triplicam. Independentemente de trabalhar ou não, acredito que a bolsa de estudo é uma grande ajuda para custear despesas e investir o dinheiro em algo que possa dar retorno no futuro”, destaca. Para conciliar a maternidade com a educação, a comunicóloga pontua que foi preciso abrir mão de diversas oportunidades que surgiram no caminho. “Concluí a graduação em Jornalismo, mas deixei de participar de diversos congressos, iniciações científicas e demais atividades acadêmicas que ocorreram durante o curso” relembra.
Embora destaque que nunca tenha perdido um trabalho pelo simples fato de ser mãe, foi questionada constantemente por empregadores se o filho poderia atrapalhar o rendimento. “Acho que ser mãe é um desafio pra toda a vida. Quando terminei a graduação fui questionada friamente durante a minha primeira entrevista se meu filho seria um problema. Respondi que não, pois tinha ajuda da minha mãe para tomar conta dele, mas percebi que ouviria muito isso daquele dia em diante”, conta.
Dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) apontam que a taxa de evasão escolar entre meninas de 15 a 17 anos com pelo menos um filho alcançava 68% em 2015, contra 22% entre as jovens da mesma idade que ainda não haviam sido mães. Realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a pesquisa revela ainda que existiam 5,2 milhões de meninas na respectiva faixa etária. Destas, aproximadamente 6% tinham pelo menos um filho e 203 mil precisaram deixar os estudos.
Mulheres que buscam o melhor
A organização destaca que o termo “soroptimist” faz referência às mulheres que buscam o seu melhor desempenho para que outras também alcancem o seu pleno potencial. Para ser contemplada com a iniciativa, é preciso que a candidata esteja matriculada ou tenha sido selecionada por uma universidade e resida em um dos países ou territórios membros da Soroptimista Internacional das Américas. São eles: Brasil, Argentina, Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, Equador, Guame (Guão), Japão, Coréia, México, Ilhas Marianas do Norte, Palau, Panamá, Paraguai, Peru, Filipinas, Porto Rico, Taiwan, Estados Unidos da América e Venezuela.
Caso a candidata já receba outras bolsa de estudo, o valor poderá ser redirecionado para outras despesas. Desde 1972 a iniciativa existe e já contribuiu para o desenvolvimento educacional de mais de 30 mil mulheres por meio de aproximadamente US$ 30 milhões em prêmios em dinheiro. Anualmente, mais de R$ 2 milhões são distribuídos em forma de bolsas de educação para cerca de 1,5 mil pessoas em todo o mundo, inclusive no Brasil.
Diversas razões são apresentadas para a escolha do público-alvo: a educação de mulheres e meninas as torna menos vulneráveis a traficantes sexuais, mais propensas a deixar uma situação de violência doméstica e não retornar, estão menos propensas a viver na pobreza e são empoderadas para criar famílias mais fortes e saudáveis.