Após o sorteio dos grupos da Libertadores, em dezembro do ano passado, Guillermo Barros Schelotto já tinha na cabeça a possibilidade de confrontos decisivos contra brasileiros. O técnico do Boca Juniors se acostumou a isso como jogador. Por que seria diferente desta vez?
“É lindo jogar contra equipes brasileiras. Na Libertadores, é uma grande experiência. Você tem de competir contra os melhores”, disse à reportagem na época.
Em especial, ele tinha na cabeça o Palmeiras, adversário na semifinal. A partida de volta acontece nesta quarta-feira (31), às 21h45, no Allianz Parque. No primeiro jogo, no último dia 24, o Boca venceu por 2 a 0.
Dos três títulos continentais que conquistou como atleta, dois foram contra brasileiros (em 2000 a vítima foi o Palmeiras, e em 2003, o Santos). Na semifinal de 2001, também enfrentou o rival desta quarta e o eliminou.
Ele reconhece que o Palmeiras foi o adversário sul-americano contra o qual teve mais confrontos marcantes.
Foi de Schelotto a primeira cobrança na disputa de pênaltis na final de 2000. Marcou. Titular na primeira semifinal do ano seguinte, anotou o primeiro gol no empate por 2 a 2 em La Bombonera. Partida até hoje lembrada pelos palmeirenses por causa da arbitragem do paraguaio Ubaldo Aquino.
O juiz deixou de marcar pênalti sobre o volante brasileiro Fernando.
Atacante aguerrido, Schelotto nunca fugiu da briga, dentro ou fora de campo. Fez parte de ataques ao lado de Palermo, Tevez, Barijho e Marcelo Delgado. Também foi um dos vários desafetos de Juan Román Riquelme, com quem ganhou a Libertadores de 2000 e 2001.
“Era uma questão de preferência. Riquelme gostava mais de jogar ao lado de Chelo [Delgado] no ataque. Palermo preferia Guillermo”, relembra o zagueiro Jorge Bermúdez.
Schelotto levou seu estilo como jogador para a carreira de técnico ao lado do irmão e assistente, Gustavo. Primeiro pelo Lanús e depois pelo Boca, irritou os torcedores adversários e até os neutros com as intermináveis reclamações contra árbitros.
Uma rara exceção aconteceu após a primeira partida da semifinal contra o Palmeiras. Talvez porque o Boca tenha vencido graças aos dois gols de Darío Benedetto.
“Foi muito bom resultado porque desde o início tenho dito que o Palmeiras é um dos favoritos na Libertadores. Qualquer vantagem que levássemos para São Paulo seria importante”, afirmou após a vitória em La Bombonera.
O desejo menos escondido de Schelotto é seguir os passos de seu técnico no início do século no clube. Carlos Bianchi comandava o time nos três títulos continentais conquistados pelo então atacante.
Se vencer neste ano, ele igualará o lateral Hugo Ibarra como o maior campeão de Libertadores da história do Boca Juniors. Tornaria-se também o principal ganhador de torneios internacionais na história do clube. Hoje está com 11, empatado com o volante Sebástian Battaglia.
Tal qual seu mestre Bianchi, ele tem dificuldade de se curvar ao que deseja a maioria dos torcedores e imprensa. Carlos Tevez, até hoje apelidado de “el delantero del pueblo” (o atacante do povo, em espanhol), passou os 90 minutos da primeira semifinal com o Palmeiras no banco.
As vitórias amenizam, mas técnico e jogador, companheiros no elenco de 2003, estão longe de serem amigos.
Schelotto também mandou embora Pablo Daniel Osvaldo, uma das principais contratações do clube em 2016, por tê-lo flagrado fumando no vestiário.
Mas como o próprio Guillermo já disse antes, o futebol perdoa tudo, menos a derrota. “Entre e faça um gol”, disse o comandante para Benedetto antes de colocar o centroavante em campo contra o Palmeiras.
Uma orientação banal, mas que ganha contornos premonitórios porque deu certo diante de rival brasileiro. Como havia acontecido antes com Schelotto quando era jogador pela Libertadores contra o próprio Palmeiras.