Quatro testemunhas que estavam na casa da família Brittes quando o jogador Daniel foi espancado prestaram depoimento na Polícia Civil de São José dos Pinhais, na região de Curitiba, nesta terça-feria (6).
A RPC Curitiba teve acesso, com exclusividade, ao conteúdo dos depoimentos.
Os quatro apresentam pontos em comum: todos afirmam que Edison Júnior saiu da casa por volta das 8h em busca de bebida; que ninguém ouviu gritos de socorro de Cristiana; e que não viram a porta do quarto do casal arrombada.
Uma delas afirmou também ter escutado Daniel pedir ajuda e dizer que não queria morrer.
Uma das testemunhas disse que ouviu Edison falar que “isso é que acontece com mulher de bandido”. Outra testemunha relatou que, enquanto Daniel era agredido, escutou Cristiana falar para Allana “não deixa seu pai fazer isso dentro da minha casa, você sabe como ele é”.
O jogador Daniel Correia Freitas, de 24 anos, foi encontrado morto na manhã do dia 27 em um matagal, com mutilações e sinais de tortura.
O empresário Edison Brittes Júnior disse que espancou e matou Daniel após ter flagrado o jogador deitado na cama com Cristiana, esposa do empresário. A família Brittes alega que Daniel teria tentado estuprar Cristiana enquanto ela dormia.
Os relatos das testemunhas são diferentes dos prestados à polícia por Cristiana e Allana, esposa e filha de Edison Júnior, respectivamente.
Primeira testemunha
A primeira testemunha ouvida disse que, por volta das 8h, Edison Júnior saiu de casa para comprar mais bebida e que voltou 20 minutos depois. Disse também que não ouviu pedidos de socorro e que não notou nenhum arrombamento.
A testemunha relatou ainda que, enquanto Daniel era agredido, Cristiana e Allana não fizeram nada.
Em depoimento, a testemunha também contou que tentou ligar para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas foi impedida por Edison.
Veja abaixo trechos do depoimento
“Não ouviu pedido de socorro por parte de ninguém. Após visualizou algumas pessoas descendo a escada e foi junto sentido à porta do casal, sendo que viu ali Cristiana de pé, do lado de fora do quarto, sendo que a porta desse estava fechada e de dentro do quarto não se ouviu barulhos, sendo que a porta abria e fechava, já que alguém tentou entrar no quarto, mas não conseguiu. Momento em que viu diversas pessoas, não as sabendo identificar, agredindo alguma outra pessoa que estava sobre a cama”.
“Afirma ainda que não viu presenciou alguém arrombando a porta do quarto e que não notou sinal de arrombamento neste e nem mesmo ouviu algo do tipo. Após cerca de cinco minutos a porta do quarto foi aberta e saíram porta do quarto pela porta, pelo que viu apenas Edison, o qual arrastava pelas mãos o corpo de Daniel, vestindo camiseta e cueca, o qual foi levado até a entrada de garagem, sendo deixado no chão, sendo que ele ainda se mexia, mas não falava nada”.
A testemunha falou ainda que viu o momento em que Edison saiu de dentro de casa trazendo consigo uma faca de cozinha, sem serra, com cerca de 20 centímetros, afirmando que “matariam o cara”.
Segunda testemunha
No dia seguinte, a testemunha afirmou que foi procurada pela família Brittes e o empresário disse que ela deveria dizer que Daniel estava bêbado e saiu da casa andando.
A segunda testemunha ouvida pela polícia, disse que não ouviu Allana ou Cristiana pediram para que Edison parasse com as agressões a Daniel.
Ela também afirmou que Edison pegou uma faca dentro de casa quando se dirigiu para o carro que levou Daniel. Ela disse que, neste momento, o jogador estava muito ferido, mas ainda respirando.
Veja abaixo trechos do depoimento
“(…) os quais então agrediram Daniel, sendo que o declarante ouviu pedidos de socorro com voz sofrida, a qual dizia: alguém me ajuda, eu não quero morrer, socorro”.
“(…) disseram: isso que acontece com quem mexe com mulher de bandido”.
“Relata que em nenhum momento ouviu Allana ou Cristiana dizendo para cessarem as agressões… Relata ainda que antes da saída, ouviu Edison dizer: cadê a faca, pega a faca”.
Terceira testemunha
A terceira testemunha ouvida pela polícia também disse que ouviu Edison dizer que “mexeu com mulher de bandido, é isso que acontece”.
Em depoimento, falou que tentou intervir, mas sem sucesso. Contou que também foi chamado por Edison Júnior para que eles combinassem de contar a mesma história: que Daniel havia saído a pé da casa.
Veja abaixo trechos do depoimento
“O declarante então tentou intervir, para que parassem de agredir Daniel, mas foi empurrado”.
“Edison falou e pediu desculpas, falando que não precisaram ter visto aquilo, e o que o piá fez, não poderia ter deixado Daniel sair vivo dali, pedindo para que não falassem nada para ninguém. Edison disse que jamais uma pessoa faria o que fez na casa dele e que não o deixaria sair vivo, pois tinha mexido com a mulher dele. E disse para contar a história de que Daniel estava na casa mexendo no celular e saiu por o portão estava aberto”.
Quarta testemunha
A quarta testemunha ouvida confirmou que por volta das 8h para comprar mais bebidas e que não viu sinais de arrombamento na porta do quarto de Cristiana.
Veja abaixo trechos do depoimento
“Não visualizou na porta nenhum sinal de arrombamento [na porta do quarto].”
“Edison e mais dois, os quais saíram arrastando Daniel até a área externa da casa, na calçada, onde continuaram a bater em Daniel com chutes”.
“Cristiana disse: não deixa pra matar ele aqui dentro de casa. Porém ninguém disse mais nada, já que estavam espantados. Que Allana estava bem nervosa, andando pra lá e pra cá, e em conversa com a mãe Cristiana, ela disse: você sabe como é o seu pai”.
“Que viu Edison segurando Daniel pelo pescoço, bem forte, com a mão esquerda, e desferindo socos com a mão direita e dizia “cara, o que você tá fazendo no meu quarto? O que você tá fazendo com a minha mulher?”.
“Ouviu apenas Daniel gritar “alguém me ajuda que eu não quero morrer, socorro””.