A comunidade acadêmica e científica, representada por 18 entidades nacionais, manifestou preocupação com a proposta de novas diretrizes curriculares (DCNs) para as graduações de Engenharia, definidas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), no primeiro semestre de 2018. Diante desse fato, na próxima quarta-feira (21), será realizada audiência pública, aberta a todos os interessados, para debater essas mudanças.
A audiência é uma reivindicação das entidades, entre elas, a Academia Nacional de Engenharia (ANE) e o Clube de Engenharia, feita através de uma carta aberta. No documento enviado em setembro, era nítida a preocupação em relação a aprovação apressada e pouco discutida publicamente das novas DCNs. E além disso, era solicitada também a realização dessa audiência para aperfeiçoamento da proposta.
Em um parágrafo da carta, foi criticado a possibilidade de se aprovar um curso de Engenharia sem disciplinas de matemática, física, química, economia e ciências do ambiente: “Isso constitui um grande risco para a sociedade, por possibilitar a criação de cursos que não possuam conteúdos fundamentais à formação do engenheiro, apenas utilizando o “label” Engenharia de maneira imprópria para atrair alunos desinformados e imputar danos irreparáveis à sociedade”, alerta a carta.
Para o engenheiro civil e presidente da Academia Nacional de Engenharia (ANE), Francis Bogossian, é difícil prever o que será resolvido na audiência, mas ele deseja que as discordâncias sejam analisadas. “Tem pontos nessa reforma com as quais a maioria não concorda. Temos esperança e gostaríamos que alguns aspectos fossem mantidos e outros retirados”, pontua.
Caso o CNE aprove as novas diretrizes sem alterações, Bogossian espera que as mesmas sejam adiadas. Pedro Celestino, presidentes do Clube de Engenharia, também torce para que a participação de entidades e escolas de engenharia, possa convencer o CNE de que algumas modificações propostas para as diretrizes são danosas à Engenharia brasileira. Entre as mudanças que mais preocupa Celestino estão: a redução drástica da carga horária exigida para a formação profissional e a institucionalização do ensino a distância como método aceitável na formação de engenheiros.
O presidente do Clube de Engenharia reconhece que há necessidade de adequar as diretrizes periodicamente, mas frisou que a proposta do CNE, ao invés de contribuir para a melhoria da formação dos engenheiros, destruirá a capacitação profissional dos mesmos. “A audiência é construtiva. A nossa expectativa é que o conselho escute os nossos argumentos e se sensibilizem com as críticas apresentadas”, conclui.
Entenda a proposta do CNE
A proposta, que foi elaborada com a ajuda da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abrenge), é a primeira revisão das diretrizes curriculares de Engenharia em 16 anos. A ideia é tornar os cursos mais atrativos e com maior número de atividades práticas, organização mais flexível e focado em inovação.
De acordo com o CNE, com os dois primeiros anos dos cursos focados em disciplinas comuns a todas as engenharias, como cálculo e física, o aluno se sente desmotivado e, com isso, aumenta a evasão. A proposta não estabelece carga horária mínima, apenas orienta que devem ser implementadas “desde o início do curso” atividades que integrem a parte teórica à prática. Se aprovada, ela também abre possibilidade para que os cursos tenham menor duração.