Suspeito de abusos sexuais, ele está preso no Núcleo de Custódia de Aparecida de Goiânia, mas nega as acusações.
O Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO) protocolou, nesta sexta-feira (28), a denúncia contra o médium João de Deus, preso suspeito de praticar abusos sexuais durante tratamentos espirituais, em Abadiânia, no Entorno do Distrito Federal. Ele está preso há 12 dias no Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital.
O médium foi denunciado por quatro casos que englobam fatos investigados pela Polícia Civil e Ministério Público: dois por violação sexual mediante fraude e dois por estupro de vulnerável.
Casos
O documento contém o relato de 19 mulheres que dizem ter sido abusadas pelo médium. Destas, 12 procuraram o Ministério Público e sete, a Polícia Civil. Algumas são de outros estados, mas não foi divulgado de quais.
Um funcionário do Fórum de Abadiânia foi até o Ministério Público para buscar a denúncia, que foi protocolado na comarca por volta de 15h40. O advogado Alberto Toron, que defende o médium, disse que ainda não foi informado da denúncia.
De acordo com a promotora Gabriela Clementino, há provas suficientes para embasar a denúncia. “Muitas delas conseguiram provar que estiveram lá na Casa [Dom Inácio de Loyola], há atestados psicológicos. Há uma infinidade de elementos que mostram que a negativa do investigado não é verossímil”, afirmou.
Ela ainda completou que os relatos das mulheres impactaram a força-tarefa. “É emocionante ouvir os relatos, a quebra do silêncio. Ouvir os relatos é despetador. Cada vez que elas falam, tiram um peso das costas. Nosso trabalho é técnico, mas é impossível dissociar [a emoção do trabalho]”, completou.
Por fim, a promotora explicou que o MP continua investigando outros crimes, como a posse ilegal de armas de fogo.
A assessoria do Tribuna de Justiça informou que a denúncia foi protocolada e “está em mesa para análise, mas, diante do volume de documentos que será analisado, é preciso aguardar” até que possam ser divulgadas mais informações. Além disso, a instituição explicou que o caso tramita em segredo de Justiça.
Bloqueio de bens
O Tribunal de Justiça determinou, na quinta-feira (27), o bloqueio de R$ 50 milhões das contas de João de Deus. O dinheiro, conforme apurou a TV Anhanguera, será usado para reparação das vítimas, caso ele seja condenado pelos crimes. O advogado de defesa, Alberto Toron, disse que não recebeu qualquer informação sobre essa decisão.
O Tribunal de Justiça informou que “o procesos corre em segredo de Justiça e a divulgação de informações poderá prejudicar o andamento regular do processo”.
Prisão
João de Deus está preso desde o dia 16 de dezembro, quando se entregou à Polícia Civil. Ele está detido no Núcleo de Custódia do Completo Prisional de Aparecida de Goiânia, onde dorme sozinho, mas passa o dia em uma cela com outros quatro presos.
A defesa do médium pediu a soltura dele pelos crimes sexuais ao Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) – ambos negaram o habeas corpus em caráter liminar. Portanto, o pedido foi feito a Supremo Tribunal Federal (STF), que não havia decidido até esta sexta-feira. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, se posicionou contra a soltura de João de Deus.
Investigações
Na quinta-feira (27), uma mulher prestou depoimento ao Ministério Público informando ter sido vítima do médium. Ao todo, a instituição já ouviu 79 mulheres e recebeu mais de 600 notificações de abusos sexuais.
A Polícia Civil pretende ouvir novamente João de Deus, preso suspeito de abuso sexual, após analisar os materiais apreendidos na casa do médium e também no centro onde ele fazia atendimentos espirituais, em Abadiânia. Nos locais foram encontradas documentos, armas, pedras preciosas e R$ 1,6 milhão em dinheiro, inclusive estrangeiro. Ele sempre negou as acusações feitas por diversas mulheres.
Segundo o delegado Valdemir Pereira, titular da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), unidade que coordena as investigações sobre esse caso, a corporação ainda faz perícia em todo o material, inclusive plantas dos imóveis e deve questionar o médium sobre esses itens.
“Temos as plantas, mas ainda temos que ver quando esse porão foi construído, se ele que mandou construir já com porão, se comprou a casa já com esses espaços, quais os objetivos, tudo isso vai ser periciado primeiro para então ouvi-lo. Ainda não há uma data para que isso aconteça”, explicou.
O delegado explicou ainda que são investigadas também outras questões, mas disse que não podia dar detalhes para não atrapalhar as investigações.
Até o momento, a polícia já ouviu 16 mulheres que relataram terem sido abusadas pelo médium durante atendimentos espirituais. João de Deus foi indiciado por um dos casos.
A Justiça chegou a conceder a prisão domiciliar para o médium João de Deus pelo crime de posse ilegal de arma de fogo, mas, conforme documento, ele continuará preso por violação sexual. A defesa entrou com um pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal para esse crime.
O médium João de Deus, preso em Goiás sob acusação de abuso sexual — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
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