O comandante de um avião de Bangladesh teve “um colapso emocional” antes da queda da aeronave, em março, destacaram investigadores do Nepal no relatório final do pior desastre da aviação nacional em 26 anos.
Eles culparam a perda de consciência situacional da tripulação pela queda do voo da US-Bangla Airlines de Dhaka à capital nepalesa, que pegou fogo ao pousar em Katmandu e matou 51 das 71 pessoas a bordo.
— O piloto achou que poderia manobrar a aeronave e pousar. Mas ele não conseguiu — disse à Reuters o membro do comitê, Buddhisagar Lamichhane, em referência ao capitão.
O capitão estava estressado e “emocionalmente perturbado” porque achava que uma colega que não estava a bordo do voo questionara sua reputação de bom instrutor, disse no relatório a Comissão de Investigação de Acidentes do Nepal.
“Isso, junto com o fracasso da parte da tripulação em seguir o procedimento operacional padrão na fase crítica do voo, contribuiu para a perda da consciência situacional”, aponta o relatório.
Essa falta de consciência fez com que a tripulação não percebesse o desvio da aeronave, um turboélice Bombardier Inc Q400, do caminho pretendido — o que, por sua vez, significava que eles não conseguiam ver a pista de pouso.
Com a pista fora de vista, a tripulação voou muito baixo, em uma posição incorreta perto de terrenos acidentados e montanhosos ao redor do aeroporto.
“Finalmente, quando a tripulação avistou a pista, eles estavam muito baixo e muito próximos (e) não alinhados corretamente”, acrescentou o relatório, segundo o qual o capitão deveria ter reiniciado a operação de pouso.
O avião escorregou da pista para a grama e logo pegou fogo. Ambos os pilotos morreram. A companhia aérea deve se manifestar nesta segunda-feira.
O capitão do voo, de 52 anos, foi liberado em 1993 da Força Aérea de Bangladesh porque sofria de depressão. Depois, ele foi declarado apto para pilotar aeronaves civis, segundo o relatório, com relatórios médicos recentes sem menção a sintomas.
Com base no gravador de voz e nos testemunhos oculares dos passageiros, o relatório disse que o capitão estava fumando no cockpit durante o voo e “envolvido em conversas desnecessárias, pouco profissionais e longas mesmo na fase crítica”, violando a norma de manter uma cabine estéril.
Ele dividia o cockpit com uma pilota de 25 anos, que tinha apenas 390 horas de experiência de voo e nunca havia desembarcado em Kathmandu como tripulante, disse o relatório, que contradiz a versão de um porta-voz da companhia aérea, segundo a qual ela já conhecia o procedimento daquele aeroporto e sua pista.
Pousar no aeroporto de Katmandu, que é cercado por morros, é considerado difícil. Em 1992, todos os 167 a bordo de um avião da Pakistan International Airlines foram mortos quando colidiram contra uma colina durante o procedimento de pouso.
A disparidade de experiência e a autoridade do capitão provavelmente dissuadiram a pilota de ser mais assertiva durante fases significativas, como a aproximação final e o pouso, disse o relatório.
O relatório recomendou que a companhia aérea enfatizasse o gerenciamento adequado dos recursos da tripulação e estabelecesse um mecanismo para monitorar e avaliar o estado mental da tripulação em relação ao desenvolvimento profissional, questões financeiras, pessoais e psicológicas.