Uma pessoa morreu e outras ficaram feridas em Kumarakapay, na Venezuela, em um confronto entre indígenas e militares venezuelanos nesta sexta-feira (22). A informação foi dada por líderes indígenas e parentes de vítimas à agência de notícias Reuters.
O local do incidente fica a cerca de 70 km de Santa Elena de Uairén, na fronteira com o Brasil, que está fechada por ordem do presidente Nicolás Maduro. Apesar do bloqueio na fronteira, por volta das 9h desta sexta, os guardas liberaram a passagem para o lado brasileiro de duas ambulâncias venezuelanas com pessoas feridas no incidente. Os indígenas foram levados ao Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista, a 215 km da fronteira.
Segundo o deputado venezuelano Americo De Grazia, da oposição, um segundo indígena ferido no incidente morreu no hospital de Pacaraima. No entanto, o hospital não confirmou a informação.
Familiares dos pacientes disseram ao G1 que o Exército venezuelano disparou contra indígenas que pediam para que a fronteira fosse aberta e, assim, recebessem a ajuda humanitária.
A mulher de um dos feridos levados para Boa Vista contou que, por volta de 2h desta sexta, um comboio da Guarda Nacional queria passar pela região, mas foi impedido. “Vieram depois com mais força e fizeram disparos. Nem todos estavam longe. Mais de 14 pessoas ficaram feridas. Uma pessoa morreu”, afirmou.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de Roraima (Sesau) cinco pacientes chegaram feridos por armas de fogo, acompanhados de uma médica venezuelana. Três deles foram para o centro cirúrgico da unidade e dois recebem atendimento no setor do grande trauma.
Pelo Twitter, Juan Guaidó, opositor que se autoproclamou presidente interino da Venezuela, afirmou que o confronto em Kumarakapay deixou 1 morto e 12 feridos.
De acordo com a Reuters, alguns indígenas haviam expressado apoio aos planos da oposição venezuelana de permitir a entrada de ajuda humanitária na Venezuela.
Guaidó marcou para este sábado a passagem de ajuda humanitária doada por outros países, entre eles o Brasil. Voluntários irão em caravanas às fronteiras terrestres e marítimas do país para ajudar. Mas Maduro se nega a receber ajuda internacional, que segundo ele representa um pretexto para uma invasão militar à Venezuela e subsequente golpe para tirar o chavismo do poder.
Show na fronteira
Nesta sexta-feira, é realizado o show “Venezuela Aid Live” na cidade colombiana de Cútuta, na fronteira com a Venezuela, para “criar consciência global sobre a crise humanitária que a Venezuela enfrenta e para levantar fundos para nossos irmãos necessitados”.
O bilionário britânico Richard Branson, do grupo “Virgin”, responsável por organizar o evento, planeja arrecadar US$ 100 milhões em 60 dias com a iniciativa. Os artistas que se apresentam no palco pedem uma “Venezuela livre”.
Fronteira Venezuela-Colômbia
Já do lado da fronteira entre Colômbia e Venezuela, haverá shows dos dois lados, organizados por Maduro e pela oposição. O bilionário britânico Richard Branson está apoiando o “Venezuela Aid Live” na cidade colombiana fronteiriça de Cúcuta, onde ele e 35 artistas esperam arrecadar US$ 100 milhões de dólares para ajuda alimentar e médica.
O evento gratuito, que já começou, contará com apresentações de Alejandro Sanz, Maluma, Luis Fonsi e Carlos Vives. As doações serão recebidas online e por meio de depósitos diretos.
Enquanto isso, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que nega a crise em seu país, está planejando dois shows perto de Cúcuta, nas pontes fronteiriças de Tienditas e Simón Bolívar, que ligam a Venezuela à Colômbia.
Sob alegação de que a ajuda não é necessária, Maduro se recusou a permitir auxílio internacional na Venezuela, apesar de prateleiras de supermercados muitas vezes vazias, longas filas para alimentos subsidiados pelo governo e hospitais carentes de suprimentos básicos e remédios.
A turbulência política e o colapso econômico, incluindo a hiperinflação, colocaram a Venezuela em uma espiral descendente.
O evento em Tienditas acontecerá perto de um depósito colombiano que armazena centenas de toneladas de ajuda humanitária internacional que a oposição pretende trazer para a Venezuela no sábado.
O líder da oposição, Juan Guaidó, reconhecido como líder legítimo da Venezuela por dezenas de países, deixou Caracas em uma comitiva de simpatizantes na quinta-feira, prometendo garantir pessoalmente a entrada de ajuda na Venezuela.
Guaidó, que invocou a Constituição para assumir uma presidência interina em janeiro e que denuncia Maduro como usurpador, não deu detalhes sobre seus planos. Analistas políticos especulam que soldados venezuelanos podem barrar o caminho.