Tem 10 anos que minha mãe não está mais comigo no Dia das Mães e eu continuo a lamentar sua ausência…
Nos primeiros anos, após sua partida, quando chegava esse domingo de festa, eu sentia que faltava um compromisso e sobrava tempo, era uma dor aguda, a vida seguiu até que passei a lamentar sua ausência sentindo uma agoniada saudade sem fim, mas mantinha a firme ilusão de que o tempo (que quase tudo resolve) se encarregaria de preservar apenas as lembranças boas, sem sofrimento… só que não… o tempo passou e mudou o tipo de lamento, eu agora sinto uma dor crônica, continuada, uma sensação de vazio, um desejo grande de mais “um dedo de prosa” que aumenta nessas datas.
Assim como houve mudança na observação da sua ausência, também mudou minha percepção do seu papel na minha vida. Quando eu era muito pequena, tinha a impressão que ela sabia de tudo, a medida que adolesci, comecei a acreditar que havia assuntos que eu tinha mais conhecimento que ela, mas agora, adulta e conseguindo melhor avaliar, é que passei a ter certeza que tudo de valor que aprendi, foi ela quem me ensinou e constato que tive, de fato, a mais sábia mãe que podia ter.
Hoje eu sei que minha mãe foi a mãe eu precisa ter, não sei se mesmo acontece com todo mundo, mas no meu caso em particular, como sempre fui uma tola, que se emociona por tudo e por nada, ela se encarregou de me ensinar a continuar firme, a seguir em frente, mesmo que por algum momento eu acreditasse que não iria conseguir e me valho desse ensinamento para viver, inclusive com a sua ausência.
É dito popularmente “você só vai entender isso quando tiver filhos”, mas não lembro de ouvir de minha mãe isso, acredito que por julgar desnecessário, mas foi exatamente assim que aconteceu, só quando peguei Pedro nos braços foi que compreendi o turbilhão de emoções que regem o coração de uma mãe e consegui imaginar de que sentimentos a minha era feita.
Sua capacidade de amar, guiar, influenciar, conciliar, era imensa, mas ela fazia isso tudo de forma tão sutil que só me dei conta do vazio quando me percebi sem ela. Seu exemplo de mãe foi tão forte que até uma das filhas que não experimentou a maternidade do útero, parece ter nascido tão mãe quando ela.
Sem cartilha que me ensinasse a ser filha, certamente preocupei, chateei, aborreci ou magoei minha mãe mais do que o necessário, mas apesar disso, de todas as lacunas que deixei, nunca tive dúvidas do seu amor e assim sendo mais vontade eu sinto da sua presença, maior ē o meu desejo de agradecer, de me desculpar e de abraçá-la.
Dia das Mães pode até ser comercial, mas pra mim tem cheiro de afeto, abre uma caixa de recordações, tem sabor de saudade, desejo de reencontro, é uma lição de amor silenciosamente ruidosa, que recita os versos escritos pelas lembranças.
E cito Neruda, “não pense que irei morrer, acontece que vou viver” e ela vive em cada um dos passos que dou no caminho que um dia ela me indicou, dizendo “segue, apesar das dificuldades, celebra, apesar das dores, ame ainda que pareça insensatez”.
Hoje, Dia das Mães, agradeço a mãe que tive, não podia ter tido uma melhor e comemoro, apesar da sua ausência, a magia da cumplicidade que compartilhamos, apesar de sermos apenas mãe e filha.
Maio de 2019