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Selo celebra centenário de Jackson do Pandeiro

Correios

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O ano de 2019 foi declarado “Ano de Jackson do Pandeiro” pelo governo do estado da Paraíba, em homenagem ao centenário de um dos maiores artistas do Brasil. Entre outras comemorações, os Correios lançam, no próximo sábado (25), na cidade de Alagoa Grande, terra natal de Jackson, um Selo personalizado. O lançamento acontece no Memorial Jackson do Pandeiro, no centro da cidade, às 10h. O selo poderá ser adquirido em todo o país até março de 2020.

“Um selo é uma das maiores homenagens que pode ser feita a alguém”, disse Marcelo Félix, secretário de cultura de Alagoa Grande. “Os Correios têm uma história consolidada no país em tempo, confiabilidade prestação de serviços e abrangência. Criar uma homenagem que pode ser replicada em todo o país é algo gigantesco”, avaliou.

“Para nós foi uma grande surpresa a proporção que as homenagens tomaram. É um sentimento de Gratidão e de muita Alegria”, disse Kátia Gomes, sobrinha de Jackson.

O selo traz a imagem de Jackson, um desenho feito pelo jovem Anderson Chaves, de 17 anos, conterrâneo de Jackson, sobreposto à marca do centenário, desenvolvida pelo também alagoa-grandense Walter Júnior.

História – Dizem no nordeste que quando a ema geme, é mau presságio. Pois ela deve ter ficado bem caladinha em 31 de agosto de 1919, dia do nascimento de José Gomes da Silva, o “Jackson do Pandeiro”, na cidade de Alago Grande, Brejo Paraibano.

Quem assistiu aos primeiros anos de vida dele deve ter pensado justamente o contrário, a vida parecia não ser amiga da sorte. De família pobre em uma região com poucas oportunidades, o menino perdeu o pai, que era oleiro e lavrador, aos 13 anos, e teve que se mudar, a pé, com a mãe e os dois irmãos, para a cidade de Campina Grande, a 61 km de distância. Caminharam por quatro dias.

Alguns elementos, porém, estavam a favor de José Gomes. A mãe dele, Flora Mourão, era cantadora de coco, gênero musical inspirado nos batuques africanos, de tempo mais rápido e marcado que o baião. Assim, José tomou gosto pela música desde cedo, e seu sonho era ter uma sanfona. Outra vez, a mãe entra em cena: ganhou um pandeiro, mais barato. Um pandeiro que passou a dominar como ninguém.

Rei do Ritmo – Pela sua forma única de dividir as frases musicais e a genialidade no domínio do pandeiro, Jackson ganhou a alcunha de Rei do Ritmo. A influência de Jackson atinge artistas de todos os estilos.

“O título de rei do Ritmo é mais que justo”, diz Val Donato, cantora e compositora paraibana. “Não só pelo que fazia primorosamente no pandeiro, mas pela forma de dividir a música e o canto. Fez escola da qual se aprende e bebe da fonte até hoje, de maneira a embasar o fazer musical brasileiro. Sempre antenado com a música moderna, misturou as influências e criou o samba-rock. Além de aprimorar ritmos como o coco, Baião, maracatu, samba e outros”, explica.

Matheus Pimenta, músico paraibano, ressalta o alcance do som de Jackson. “Jackson quebrou barreiras e levou para um outro patamar a cultura de coco/repente/embolada, fazendo com que esses estilos fossem conhecidos em outros rincões. Além disso, sua forma de cantar e seus padrões rítmicos heterodoxos também foram de extrema importância para a consolidação da complexidade rítmica da música brasileira”, diz.

Zé Gomes, um dos sobrinhos de Jackson, é músico, e diz que a influência de seu tio já vem no sangue. “Pra início de conversa, o primeiro instrumento de percussão que aprendo a tocar e o pandeiro. Logo depois me torno músico profissional, e em 1977, passei a trabalhar com o saudoso Dominguinhos. Sem dúvida, tenho muito orgulho em ter nascido no berço do forró, e ter aprendido com meu tio, não só nas artes, mas também na formação de ter caráter e profissionalismo”, conta.

De onde veio Jackson?  – Ainda criança, José, mesmo debaixo das chineladas de desgosto da mãe, insistia em ser chamado de Jack (era fã do ator norte-americano de faroeste Jack Perrin). “Quem já se viu colocar o nome de José num filho, e ele querer ser chamado de Jack?”, reclamava Flora. Vai saber. De nada adiantou, apelido é coisa que pega como poucas nessa vida. Dona Fllora não devia saber disso, mas nem Jack Perrin era Jack de nascença, seu nome de batismo era “Lyman”.

Em Campina Grande, Jack virou Zé Jack, depois, Jack do Pandeiro. Trabalhava como engraxate na feira central e ajudante de padaria. Nos momentos de folga, acompanhava artistas populares, coquistas e violeiros. Arranjou um trabalho na noite, no cassino Eldorado.

Nos anos 40, Zé Jack mudou-se para a capital do estado, João Pessoa. Foi contratado para tocar Rádio Tabajara, junto com o maestro Nozinho. Quando Nozinho foi contratado pela Rádio Comércio, de Recife/PE, em 1948, levou Jack, que virou Jackson, “mais sonoro”, segundo o diretor de um programa de rádio.

A, e, i, o, u, ipsilone! – No início de 1953, Jackson estava pronto para gravar a primeira Revista Carnavalesca do ano na Rádio jornal. Tinha preparado várias marchinhas de carnaval, mas o diretor pediu que ele cantasse algo mais “regional”. Resolveu, a contragosto, convidar a comadre Sebastiana para dançar e xaxar na Paraíba, e estourou no país.

De1953 até 1981, Jackson gravou 28 discos, com composições próprias e de outros artistas. Participou de diversos programas de rádio de televisão, cantou com outros artistas de renome nacional e virou referência no Brasil.

Morreu aos 62 anos, em 10 de julho de 1982, de complicações da diabetes, que tinha desde os ano 60. Passou mal na sala de embarque do aeroporto de Brasília/DF, onde pegaria um voo para o Rio de Janeiro.

Tem tanto Zé na Paraíba (vige, como tem Zé!) que tem até Zé que vira Jackson. Zé que nasce “do Pandeiro”. Zé que nasce Rei.

 

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