Polícia

Homem é preso após sequestrar e matar mãe da ex por não aceitar fim do relacionamento

Material apreendido pela polícia foi usado para prender e torturar vítimas Foto: Divulgação

José Clevison dos Santos, de 30 anos, foi preso pela Polícia Civil pelo sequestro e posterior homicídio das namoradas Márcia Valéria Muniz da Silva Coutinho, de 56 anos, e Cintia Maria da Silva Rodrigues, de 40, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio. As duas mulheres estão desaparecidas desde a noite de 24 de junho. De acordo com a investigação da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), José Clevison cometeu o crime porque não aceitava o término de seu relacionamento com a filha de Márcia.

Policiais civis descobriram que as duas namoradas — que moravam juntas há cinco anos — foram dopadas com sedativos e torturadas num cativeiro. Após serem assassinadas, tiveram os corpos incinerados pelo homem. Além de Clevison, outras duas pessoas foram presas por auxiliá-lo: o casal Luciano Antônio de Oliveira e Juliana Clemente de Souza. Os dois moravam próximo ao local usado como cativeiro e ajudaram Clevison a alugar o imóvel. Em busca feita na casa onde os dois moravam, agentes da DDPA encontraram pertences das duas mulheres e apreenderam algemas, frascos de sedativos e instrumentos usados para torturar as vítimas, como cordas e um taser — uma pistola de choques elétricos.

A prisão temporária do trio foi decretada pela Justiça nesta terça-feira. Numa perícia feita no cativeiro, o reagente luminol acusou a presença de sangue num pequeno cômodo. Para a polícia, os assassinatos aconteceram nesse local. À polícia, Luciano, um dos presos, confessou que os corpos foram queimados com pneus numa área próxima a sua casa. Uma ossada foi encontrada no local apontado pelo homem. Nesta quarta-feira, peritos da Polícia Civil vão coletar e analisar o material.

As duas mulheres foram atraídas até o cativeiro depois de serem enganadas pelos presos. As namoradas trabalhavam com animação de festas e instalação de aparelhos de karaokê em eventos. José Clevison, então, entrou em contato com Márcia por telefone e simulou, sem se identificar, estar interessado no serviço de instalação de karaokê para uma festa. Na ligação, ficou combinado que elas iriam até o local da suposta festa de Uber e, no local, Clevison pagaria a viagem. No entanto, o destino final era justamente o cativeiro — uma casa alugada por Clevison.

A trama foi desvendada pelos agentes após a ex-namorada de José Clevison prestar um depoimento de mais de duas horas na sede da DDPA, nesta segunda-feira. A mulher afirmou que passou a se envolver com ele em 2014, pois os dois moravam em locais próximos, em Campo Grande, também na Zona Oeste. Na ocasião, ela já tinha dois filhos e havia se divorciado. Logo ela percebeu que o namorado era violento pois, segundo seu depoimento, ele “tem ciúme doentio, a julga sua posse e não admite qualquer contato dela com qualquer pessoa do sexo masculino”.

Desde 2016, quando Clevison a agrediu com socos e bateu sua cabeça na parede, ela decidiu sair da casa onde os dois moravam juntos. A mulher passou período longos vivendo com parentes, em São Gonçalo, na Região Metropolitana, e em Araruama, na Região dos Lagos. Durante esse período, o homem ainda a procurava, tentando reatar o relacionamento. Em 2018, Clevison invadiu a casa da mulher e destruiu vários móveis. Na ocasião, ele acabou preso em flagrante, pois havia descumprido medidas protetivas decretadas pela Justiça a favor da mulher, que impediam sua aproximação.

No período em que Clevison permaneceu preso, no fim de 2018, a mulher se mudou para a casa de parentes e colocou a casa onde os dois moravam à venda. Após a soltura do homem, ele continuou a ameaçá-la, dizendo que mataria seus filhos se vendesse a casa. No dia em que levou um comprador para conhecer o imóvel, em fevereiro, Clevison “ficou enlouquecido dizendo que ela teria a casa de volta a qualquer custo”.

Dois meses depois, em 25 de abril, Thiago Hora da Silva, o possível comprador do imóvel, foi encontrado carbonizado dentro de um carro próximo ao imóvel. Segundo a mulher revelou no depoimento, Clevison confessou a ela que havia matado o homem. Após o assassinato, a mulher cortou relações com o homem e passou a morar com a mãe, na Baixada Fluminense.

Segundo a delegada Elen Souto, responsável pela investigação, o sequestro da mãe da mulher foi uma estratégia de Clevison para tentar reatar o relacionamento. Os assassinatos teriam sido cometidos justamente porque o plano de Clevison deu errado.

— O crime foi arquitetado pelo Clevison para que ela voltasse para ele. Com as duas mulheres em seu poder, ele passou a usar o celular da mãe da ex-namorada para se comunicar com a mulher. Simulando ser Márcia, ele disse à filha que Cintia, a namorada, a havia agredido e, por isso, não havia voltado para casa. Disse que estava com medo de que a namorada começasse a procurar sua filha. Ao mesmo tempo, ainda fingindo ser Márcia, Clevison passou a fazer elogios a ele mesmo para a ex-namorada, dizendo para ela procurá-lo, que ele saberia o que fazer e que a defenderia — afirma Souto.

A mulher, após receber as mensagens, começou a desconfiar que era o ex-namorado que estava mandando as mensagens e procurou a polícia para fazer o registro de ocorrência do desaparecimento.

À DDPA, a ex-namorada também identificou Luciano como vizinho e amigo de Clevison. Luciano e Juliana também prestaram depoimentos e confirmaram ter recebido dinheiro para levar as duas mulheres para o cativeiro.