Brasil

Milícia lucrava até com ‘kit-churrasco’, diz MP

KIt-churrasco: carne e acessórios, só com milicianos — Foto: Reprodução/PCERJ

A milícia Caçadores de Ganso, alvo da Operação Hunter, deflagrada nesta quinta-feira (18), não explorava apenas serviços clandestinos de TV a cabo ou segurança em Queimados, na Baixada Fluminense. O MP afirma que o grupo chefiado pelo vereador Davi Brasil Caetano lucrava até com “kits-churrasco”.

Com o “kit-churrasco”, milicianos obrigavam os moradores a comprar carne e acessórios – como espetos – de fornecedores específicos. Quem adquirisse de outros era punido.

“É um kit churrasco com carne, carvão, espetinho, as vezes tem linguiça, as vezes tem coração, as vezes tem frango. Eles ganham dinheiro por causa do monopólio. Eles compram por atacado e revendem nas comunidades. Só eles podem vender, mais ninguém. Se alguém quiser ganhar um dinheirinho, complementar a renda, vendendo isso ou cesta básica não pode. Só pode comprar da milícia”, afirmou o promotor Fábio Correa Matos.

Davi, que também foi secretário da Defesa Civil do município, foi preso junto com outras 12 pessoas até as 11h desta quinta-feira (18). Ao todo, 32 mandados de prisão foram expedidos pela Justiça do Rio, mas oito pessoas já se encontravam presas e outros 11 eram considerados foragidos.

A estratégia com a carne era semelhante à dos botijões de gás, explorada por milicianos, incluindo os Caçadores de Ganso.

Violência extrema

O MP afirma que os Caçadores de Ganso eram os milicianos mais violentos do RJ. A investigação começou há dois anos, com um ataque a um bar de Queimados.

No ano passado, a polícia prendeu Anderson Chispe Cavalcante, então suspeito de ser o chefe dos Caçadores. Na ocasião, Anderson foi flagrado com toucas ninjas, uniformes militares e cadernos com anotações de cobranças.

O grupo manteve uma página em rede social, administrada por alguns dos denunciados, onde anunciava, previamente, quem seriam as suas vítimas. A página não está mais ativa.

Segundo a promotora Mariana Segadas, o grupo começou a atuar no Condomínio Ulysses Guimarães e depois cresceu para o Valdoriosa e o Eldorado.

Eles impuseram o terror nesses condomínios e praticavam muitos homicídios”, complementou o promotor Fábio Correa Matos.

Entre as vítimas, havia usuários e traficantes, apesar de dois dos membros da milícia estarem envolvidos com o tráfico de drogas.

“Dois deles também estavam envolvidos com o tráfico: compra venda e distribuição”, explicou a promotora.