Roque Melo das Neves, de 26 anos, está internado há 60 dias no Hospital da Restauração (HR), no Recife, para tratamento de um câncer de fígado. Apesar da gravidade da doença, ele realizou um sonho que parecia impossível. Ao sair do coma, casou com a namorada, grávida de sete meses, na área vermelha, onde ficam os pacientes em situação mais delicada.
A cerimônia que uniu Roque e Brenna Laíze dos Santos, de 21 anos, foi idealizada pela equipe da unidade de saúde, na sexta-feira (4). Para isso, médicos, enfermeiros e auxiliares montaram um altar improvisado. A solenidade, oficializada por um tabelião, contou com participação de servidores do hospital.
Toda a organização da solenidade ocorreu sob sigilo. A última a saber da cerimônia foi a própria nova, convidada para fazer uma visita de rotina a Roque, como se nada estivesse acontecendo.
Ela não sabia que o rapaz tinha feito um pedido aos médicos para oficializar a união o quanto antes, por causa das condições físicas e do avanço da metástase.
Pouco antes de ser entubado, Roque expressou aos enfermeiros que gostaria de casar com Brenna, mesmo não tendo condições de sair do hospital.
“Eu estava em casa. Quando cheguei, só estavam esperando o meu ‘sim’. Uma pessoa fez o meu cabelo, outra fez a maquiagem, me emprestaram brinco, vestido e minha mãe comprou o buquê. Assinamos tudo aqui no hospital e casamos”, recordou.
Brenna disse, ainda, que demorou para entender a situação. “Tô sem acreditar até agora”, disse a noiva.
A equipe do HR ficou sensibilizada com a situação de Roque e decidiu encarar os riscos para oficializar a união com Brenna.
“Avaliamos o histórico da vida de Roque e os vínculos para intervir nas demandas sociais. Aí, descobrimos que ele estava em um relacionamento há cinco anos e prestes a ser pai de uma menina chamada Pérola”, contou a assistente social Palloma Fidelis.
Diante da urgência da situação, a chefe do Serviço Social, Conceição Ribeiro, lembra que toda equipe se mobilizou para viabilizar o casamento. “É uma quebra de protocolos em uma área crítica”, disse.
Durante a organização, as enfermeiras providenciaram um vestido branco para a noiva, mas tiveram o desafio de improvisar algo sem saber as medidas dela. A costureira Ranúzia de Souza usou toda a criatividade possível para fazer a produção.
“Reformamos um jaleco em meia hora e entregamos o vestido enquanto ela estava sendo maquiada. Fiquei surpresa com a demanda, mas amei a ideia”, relatou.
Segundo a equipe médica, desde o casamento, Roque apresentou uma melhora significativa no estado de saúde.
“Essas pessoas são anjos que deixaram essa fase difícil passar de forma mais leve e nos marcar para o resto da vida. Quero que ele venha cuidar de Pérola comigo e que a gente possa viver nossa vida juntos”, disse Brenna.
Para a enfermeira Lunara Farias, fica difícil não se emocionar com a história. “É a união de um tratamento com a relação de um sonho”, declarou.