Política

Bolsonaro diz preferir que filho Eduardo permaneça no Brasil para ‘pacificar’ PSL

O presidente Jair Bolsonaro, em Tóquio (Japão), durante entrevista — Foto: Fernando Rodrigues/TV Globo

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira (21) preferir que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho dele, permaneça no Brasil para “pacificar” o PSL, partido ao qual os dois são filiados.

Bolsonaro deu a declaração em Tóquio (Japão), onde participará de uma cerimônia nesta terça (22) com o novo imperador, Naruhito. O presidente foi questionado sobre a crise no PSL, que envolve a disputa pela liderança do partido na Câmara.

Mais cedo, nesta segunda, o grupo ligado ao presidente da República conseguiu tornar Eduardo Bolsonaro o novo líder do PSL. Mas Bolsonaro já disse diversas vezes que indicará o filho para a Embaixada do Brasil em Washington (EUA).

“O Eduardo vai ter que decidir nos próximos dias, talvez antes de eu voltar ao Brasil, se ele quer ter seu nome submetido ao Senado para a embaixada ou não. Porque agora, se ele firmar, no meu entendimento não vou interferir porque se der certo, tudo bem, se der errado: ‘Pô, pai, qual é’. Vai ter que decidir se quer se submeter ou não”, disse o presidente.

Questionado, então, o que é mais “estratégico”, Bolsonaro respondeu: “No meu entender, ele ficar lá, ficar no Brasil. Ficar no Brasil, pacificar o partido dele, ver o que pode [inaudível] teve gente ali que foi para o excesso.”

A indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada ainda não foi formalizada pelo presidente da República. Se confirmada, precisará ser aprovada pelo Senado.

Até então, Bolsonaro vinha afirmando que, mesmo com a crise no PSL, a decisão de indicar Eduardo para a embaixada estava mantida.

Agora, o presidente já pensa em um novo nome para o principal cargo da diplomacia brasileira em Washington, conforme declarou.

“Nós, logicamente, temos lá um bom [nome]… na função atualmente nos Estados Unidos. Quem que é o…? É o Nestor Forster [encarregado de Negócios do Brasil nos Estados Unidos]. O Nestor Foster é um bom nome. Obviamente, o Eduardo desistindo de que eu mande o nome dele pro Senado, tendo em vista a importância que tá ganhando na política dentro do partido, o Forster é um bom nome para ser consolidado lá”, disse.

Reunião com aliados de Bivar
Na entrevista concedida em Tóquio, Bolsonaro ainda disse que pretende se reunir com a “maioria” dos aliados de Luciano Bivar. Isso porque “alguns”, na opinião do presidente, “ultrapassaram o limite da razoabilidade”.

Bolsonaro havia dito que o episódio é como uma ferida que irá “cicatrizar”.

“Vai cicatrizar. Da minha parte, você não me vê tocando lenha na fogueira. E não vou entrar nessa briga de por meu grupo contra o deles”, afirmou o presidente nesta segunda-feira.

“O pessoal que está para o lado de lá, pretendo conversar com a maioria deles. Alguns não vou conversar, faço questão de não conversar porque foram no limite, ultrapassaram o limite da razoabilidade. […] Eles embarcaram numa canoa fantasma, aceitando promessas”, concluiu.

Crise do PSL
A crise no PSL se tornou pública em 8 de outubro, quando Bolsonaro pediu a um apoiador para “esquecer” o partido porque o presidente da legenda, Luciano Bivar, está “queimado para caramba”.

Desde então, o grupo aliado a Bolsonaro e a ala de Bivar passaram a travar uma disputa pela liderança do PSL. Enquanto o presidente da República articulou a nomeação de Eduardo Bolsonaro, a ala de Bivar queria manter o deputado Delegado Waldir (PSL-GO).

Para a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), agora ex-líder do governo, o Palácio do Planalto tentou dar um “golpe” no PSL nesse episódio da liderança.

Na semana passada, em meio à crise, Waldir afirmou que iria “implodir” Bolsonaro, mas depois recuou e, em seguida, voltou a criticar o presidente.

Para Eduardo Bolsonaro, novo líder do PSL, o presidente da República não pode estar sujeito à “bipolaridade” do Delegado Waldir.

Cronologia da crise do PSL
8/10: Bolsonaro pede a apoiador para “esquecer” o PSL e diz que presidente do partido está “queimado pra caramba”;
9/10: Luciano Bivar diz que Bolsonaro “já está afastado” do PSL;
11/10: Bolsonaro e 21 parlamentares pedem ao PSL acesso às contas do partido para auditoria;
16/10: Luciano Bivar nega haver sigilo nas contas do PSL;
16/10: Bolsonaro diz que “nunca” teve relação com Bivar e em seguida afirma ter feito “piada”;
16/10: Líder do governo na Câmara apresenta lista para tornar Eduardo Bolsonaro líder do PSL;
16/10: Removido da liderança do PSL, Delegado Waldir apresenta nova lista de apoio para voltar ao posto;
17/10: Áudio revela articulação de Bolsonaro para tirar Delegado Waldir da liderança do PSL;
17/10: Líder do PSL diz em áudio que vai “implodir” Bolsonaro;
17/10: Líder do PSL recua e diz não ter nada para usar contra Bolsonaro;
18/10: Líder do PSL volta a criticar Bolsonaro e diz que presidente tenta “comprar” deputados;
19/10: Deputado que apoiou Eduardo Bolsonaro é destituído da vice-liderança do PSL;
19/10: Eduardo Bolsonaro diz que presidente não pode estar sujeito à “bipolaridade” do líder do PSL;
19/10: “Pergunta para eles”, diz Bolsonaro ao ser questionado se fica no PSL;
20/10: Ex-líder do governo diz que Planalto tentou dar “golpe” no PSL;
21/10: Bolsonaro compara crise a ferida que “cicatriza naturalmente”;
21/10: Eduardo Bolsonaro é escolhido novo líder do PSL;
21/10: Alas do PSL iniciam “guerra das listas” pela liderança;
21/10: Eduardo Bolsonaro destitui todos os vice-líderes do PSL.