Soldado do Corpo de Bombeiros cancelou chamado feito por vítima e disse que ela foi socorrida por PMs.
Testemunhas disseram que policiais militares impediram o socorro de vítimas do tumulto ocorrido após a chegada da PM no baile funk em Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, na madrugada de domingo (1º). Nove pessoas morreram após serem pisoteadas e 12 ficaram feridas durante a confusão. Um chamado feito ao Samu feito por uma mulher foi cancelado por um soldado do Corpo de Bombeiros.
Os moradores da comunidade relataram à TV Globo que não puderam socorrer às vítimas e chegaram a ser ameaçadas pelos policiais militares.
Durante a confusão, muitos jovens entraram na Viela Três Corações, que não tem saída, e na Viela do Louro, localizada a poucos metros de distância, onde ocorreu a maioria das mortes.
O amigo de Marcos Paulos dos Santos, de 16 anos, morto durante o tumulto, conta que apanhou dos PMs e mostra as marcas no corpo. “Bateram na minha cabeça, parei de sangrar só ontem. Meu pulso inchou, cotovelo, pernas. Os policiais me derrubaram no chão e me arrastaram”.
Os moradores das vielas contam que além de bater, os policiais ameaçavam quem tentava ajudar. “Quando a gente chegava perto, eles vinham com a arma para cima, tanto que chegaram até perto da minha porta. ‘É pra ficar aqui embaixo, não é pra subir’. A gente falava que queria salvar os que estavam lá. ‘Não é pra salvar ninguém’”, segundo uma moradora que não foi identificada por questão de segurança.
Nesta segunda (2), a irmã de Dennys Guilherme Franca, de 16 anos, morto na tragédia, disse que os policiais também impediram que um amigo socorresse o irmão.
“Ele caiu e um amigo foi socorrer e o policial falou ‘pode deixar que a gente cuida dele’”, disse Fernanda Garcia.
O único chamado registrado pedindo socorro foi feito pelo Samu em uma rua próximo do local do baile. No entanto, a solicitação foi cancelada por um soldado do Corpo de Bombeiros chamado Julio com a alegação de que as vítimas já tinham sido socorridas pelos PMs. A Prefeitura de São Paulo confirma que o Samu foi cancelado.
A ligação foi feita às 4h18 do domingo (1º) por uma jovem. A jovem disse ao atendente que ela e um rapaz foram agredidos por policiais, que uma bomba feriu suas pernas e os olhos do rapaz. Ela também disse que teve violência sexual e uso de armas de choque.
Às 4h20, o Samu transferiu o atendimento de uma viatura para outra. Às 4h29, 11 minutos depois do chamado, a ambulância ainda não tinha chegado ao local, apesar da chamada ter sido considerada de alta prioridade.
O Samu trocou mais uma vez de viatura e às 4h47 a chamada foi cancelada pelo soldado.
Ministério Público vai cobrar protocolo da PM após tragédia em Paraisópolis
PMs afastados
Seis policiais militares envolvidos na ocorrência que resultou na morte de nove pessoas na madrugada deste domingo (1) em Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, foram afastados do trabalho na rua nesta segunda-feira (2). Elas foram mortas pisoteadas durante a ação da Polícia Militar em um baile funk.
“Os policiais estão preservados. Temos que concluir o inquérito. Eles continuarão nas unidades em serviços administrativos no mesmo horário deles fazendo outras coisas porque é uma área complexa, a área da primeira companhia é uma área complexa. Havendo um outro evento parecido eles poderão ser prejudicados. Então eles estão sendo preservados”, disse o comandante da Polícia Militar do estado de São Paulo, coronel Marcelo Vieira Salles.
Segundo Benedito Mariano, ouvidor da Polícias, a Corregedoria da PM vai analisar quais policiais serão afastados do trabalho nas ruas. “No primeiro momento da ocorrência sim, foram seis policiais militares, mas cabe ao corregedor analisar e definir quem será afastado”.