O dólar opera em alta nesta quinta-feira (27), atingindo pela primeira vez a cotação de R$ 4,47 e subindo pela sétima sessão consecutiva, em meio a temores sobre a expansão do coronavírus e impactos na economia global.
Às 10h26, a moeda dos EUA era negociada a R$ 4,4735 com alta de 0,74%. Na máxima até o momento, chegou a R$ 4,4775. Veja mais cotações.
Já o Ibovespa opera em queda de mais de 2%, após tombo de 7% na sessão anterior.
Na véspera, o dólar fechou em alta de 1,10%, a R$ 4,4407, renovando recorde de fechamento nominal (sem considerar a inflação), em meio ao avanço da epidemia de coronavírus pelo mundo e com a confirmação do primeiro caso no Brasil. Na máxima da sessão, chegou a R$ 4,4475, até então a maior cotação nominal intradia já registrada no país. No mês, o dólar acumulou alta de 3,63%. Em 2020, já subiu 10,75%.
Em uma tentativa de limitar a disparada do dólar — que já sobe pela sétima sessão consecutiva e acumula alta de mais de 10% este ano — o Banco Central realizou neste pregão leilão extraordinário de até 20 mil swaps tradicionais com vencimento em agosto, outubro e dezembro de 2020, conforme anunciado na quarta-feira, em que vendeu todos os contratos ofertados, destaca a Reuters.
Tensão global
O número de novas infecções por coronavírus na China, fonte do surto, foi pela primeira vez superado por novos casos no restante do mundo na quarta-feira, aumentando os temores de uma pandemia.
As bolsas europeias tinham mais um dia de queda nesta quinta. Investidores temem os impactos do avanço do coronavírus no crescimento da economia global e mais empresas alertaram que o surto afetará seus lucros e resultados, incluindo Microsoft e AB InBev.
“O impacto do coronavírus continua sendo uma incógnita e uma ameaça para a economia mundial”, resumiu em nota Jefferson Rugik, da Correparti Corretora, citando movimentos de proteção.
Na China, as bolsas fecharam em leve alta, com um menor número de mortes devido ao coronavírus e após o governo sinalizar mais suporte para a economia doméstica. No Japão, índice Nikkei fechou em queda de 2,13% e, em Seul, o índice KOSPI perdeu 1,05%.
Já os preços do petróleo caíam cerca de 2% nesta quinta-feira, no quinto dia consecutivo de perdas, para o menor nível desde janeiro de 2019. O petróleo Brent caiu abaixo de US$ 53 o barril, enquanto que petróleo dos Estados Unidos recuou para menos de US$ 48 por barril.
Por conta de fluxos elevados de capitais para mercados de menor risco, o dólar segue se valorizando frente a outras moedas, em especial moedas de países emergentes como o real.
Embora o maior número de casos confirmados e os principais impactos ainda estejam concentrados na China, os temores de uma pandemia intensificaram-se com autoridades pelo mundo lutando para prevenir a disseminação do vírus, que já foi registrado em cerca de 30 países, gerando interrupção de produção e consumo na China, e também a paralisação de algumas atividades em países como Coréia do Sul, Irã e Itália.
Na quarta-feira, foi a vez do J.P. Morgan revisar suas projeções para o crescimento mundial e, em consequência, o banco americano cortou sua expectativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano, de 1,9% para 1,8%. A revisão ocorreu na esteira de uma desaceleração mais intensa do que o esperado pela instituição no crescimento da China neste 1º trimestre.
O que explica as altas recentes
Além das preocupações sobre o impacto do coronavírus, o dólar mais valorizado nas últimas semanas tem refletido os juros em mínimas históricas no Brasil e as perspectivas sobre o ritmo de crescimento da economia brasileira e andamento das reformas.
Diversas instituições financeiras têm revisado para baixo suas perspectivas para o crescimento econômico em 2020 na esteira da disseminação do novo coronavírus e da percepção de uma lentidão um pouco maior que o esperado no ritmo de crescimento neste início de ano.
O mercado brasileiro reduziu para 2,20% a previsão a alta do PIB em 2020, segundo a pesquisa Focus do Banco Central, divulgada nesta quarta, mas diversos bancos e consultorias já estimam um crescimento abaixo de 2%.
Já a projeção do mercado para a taxa de câmbio no fim de 2020 subiu de R$ 4,10 para R$ 4,15 por dólar. Para o fechamento de 2021, subiu de R$ 4,11 para R$ 4,15 por dólar.
A redução sucessiva da Selic desde julho de 2019 também contribui para uma maior desvalorização do real ante o dólar. Isso porque diminuiu ainda mais o diferencial de juros entre Brasil e outros pares emergentes, o que pode tornar o investimento no país menos atrativo para estrangeiros e gerar um fluxo de saída de dólar. E cresce no mercado as apostas sobre a chance de um possível novo corte na Selic, atualmente em 4,25% ao ano.