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Das redes sociais e das escolhas

Eu gosto de ler, para ser franca, antes das novidades das redes sociais, considero que lia bem, ou pelo menos tinha uma leitura mais qualificada. Hoje uso muito do meu tempo “espiando” a vida alheia (adoro olhar as fotos), ou vendo uma infinidade de mensagens de grupos.

Como é impossível assistir, ler, olhar ou acompanhar todas as mensagens compartilhadas e postadas, acabei por desenvolver um critério de seleção para me manter “atualizada” e para expurgar meu remorso por não levar tudo tão a sério, vou dizer quais são:

Começo estabelecendo prioridade no descarte dos vídeos longos, alguns (dependendo de quem manda) até início assistindo os primeiros segundos, mas só prossigo se o assunto for muito interessante, mas na maior parte das vezes, antes de olhar o conteúdo, olho a duração e se demora, boto no lixo.

As mensagens de conteúdo político de alguns determinados sites de notícias estão entre as excluídas prontamente, tem um desses sites que as matérias são tão curtas que mesmo que você deseje não obterá nenhuma informação a mais que a contida na manchete, daí eu já economizo tempo, nem abro.

As postagens daqueles membros de grupos que já conhecemos o perfil, aqueles incapazes de discernir entre fake ou fato, os que não interagem e se utilizam do espaço apenas para repetir as mesmas mentiras já postadas outras vezes. Esses, se um dia postarem a fórmula da felicidade, eu não vou aproveitar, excluo todas.

Não assisto ou leio nenhuma, nem por um segundo, quando inicia dizendo “impossível não chorar” ou “quero ver se você consegue não se emocionar” … pronto, isso é a senha para passar para a mensagem seguinte. Considero árdua a missão diária de não chorar diante da realidade, não será por internet que vou dar bobeira.

Aquelas muito bizarras, as de acidentes, as com mortes… essas estão entre as que não olho nem um segundo, a vida é cheia de atropelos, não considero legal colocar esses assuntos sentados comigo no sofá da sala.

Quando posso escolher, as minhas mensagens preferidas são as bem curtinhas, as piadas, as bobagens e destino um tempinho para os textos escritos, porque neles posso impor o ritmo que considero que merecem, alguns leio com calma, com pena de que cheguem ao fim, releio frases, outros passo rápido, numa leitura dinâmica que me permite apenas saber o que foi tratado, sem me propor a ocupar memória com nada do que foi dito.

Também gosto das de músicas, das que falam de arte, das que trazem informações úteis, das que contam histórias, das que tratam dos assuntos do cotidiano sem sensacionalismos ou mentiras e adoro as inteligentes.

Mas por vezes me pergunto se vale a pena participar desse universo das redes sociais, mesmo fazendo essa triagem…

O episódio da semana passada da agressão a honra de uma mulher jornalista e os desdobramentos perversos dos que praticam a maldade como opção para tentar influenciar a opinião alheia, estão cada vez mais me empurrando para uma mudança de comportamento, voltar para leitura tradicional para não ter dificuldade em me relacionar com as pessoas quando as encontro ao “vivo e a cores” e lembro do que postaram.

Para isso eu não consegui estabelecer uma estratégia, não sei como posso não bloquear as pessoas que quero bem nas redes sociais, mas não “enxergar” o lado maldoso desnudado com auxílio do computador.

Eu sou da época que até telefone era difícil, daí para ter notícias, tínhamos que estar com as pessoas pessoalmente, provavelmente por isso não estou conseguindo me movimentar nesse mundo onde temos duas escolhas, ou a tristeza de enfrentar a crueldade das redes sociais, ou a tristeza do isolamento; ambas bem diferentes das opções dos muitos romances que li e que me fizeram supor como poderia ser a vida.

Fevereiro de 2020

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